13 de julho de 2025

Dia do Sexo: comportamentos, polêmicas…dicas; sexóloga de Maringá responde


Por Redação GMC Online Publicado 06/09/2022 às 23h24 Atualizado 20/10/2022 às 17h10
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Foto: Ilustrativa/Pixabay

Nesta terça-feira, 6, é comemorado o Dia do Sexo. A data surgiu em 2008, em uma campanha de uma marca de preservativos, e o dia 6/9 foi escolhido especificamente para fazer referência à posição sexual conhecida como ‘meia-nove’.

A data já se tornou popular, sendo comum encontrar publicações sobre o tema nas redes sociais e empresas que aproveitam o dia para ações de marketing e promoções.

O assunto continua sendo permeado por muitas dúvidas e tabus, mas também tem sido falado e vivido de forma mais aberta para muitas pessoas. Em Maringá, tem aumentado a procura por atendimentos com sexólogas nos últimos três anos. É o que destaca a sexóloga Fernanda Trombini Rahmen Cassim. Em entrevista ao GMC Online, ela falou sobre os motivos que têm levado cada vez mais pessoas ao consultório, o perfil do maringaense quando o assunto é sexo, tabus, dificuldades, temas polêmicos, entre outros. Confira.

Fernanda Trombini Rahmen Cassim é Psicóloga, Psicanalista, Sexóloga e Professora. Formada em Letras e em Psicologia pela UEM, com mestrado e doutorado em Linguística e pós-graduação em Sexualidade Humana. Foto: Arquivo pessoal.

A que se deve o aumento da procura por atendimento especializado sobre sexo?
Liberdade sexual feminina, fluxo e quantidade de informações nas redes sobre o assunto. Os papeis masculinos e femininos, que antes eram rígidos e fixos, têm se modificado. O vício em pornografia e o fácil acesso a ela tem aumentado o número de casos de impotência sexual. As mulheres sabem que têm direito ao prazer e cobram isso de seus parceiros. A própria profissão de sexólogo está mais popular e vem sendo reconhecida no mercado de trabalho.

São mais homens ou mulheres que têm procurado esse atendimento?
Geralmente as mulheres são maioria, mas os homens também aparecem em grande quantidade, pois eles estão tendo de lidar com o fracasso da educação sexual machista. O sexo pornográfico e que só dava prazer ao homem não tem mais resolvido as relações, pois as mulheres entendem que podem ter prazer. Assim, eles reconhecem a falha da educação sexual que (não) receberam e buscam mudar em prol de suas relações.

Qual o objetivo do atendimento com uma sexóloga e como isso se dá?
Um profissional da sexologia irá auxiliar o paciente a identificar o que tem levado à queixa sexual. É uma terapia pela via da fala, assim como uma psicoterapia, e por meio desse processo o paciente poderá colocar suas queixas, dificuldades, medos, angústias e frustrações. Também pode falar sobre seus desejos e fetiches e encontrar formas de lidar com eles dentro das suas possibilidades, sem tabus.

É possível traçar um perfil das suas pacientes (especificamente as mulheres), quando o assunto é sexo? Um comportamento padrão em relação a dúvidas, hábitos, etc…
Geralmente, as pessoas buscam um “manual do sexo”, e entendem que o profissional está ali para dar uma receita do que é certo ou errado. Mas quando se trata de sexualidade não é assim: o que é bom pra um pode ser ruim para o outro; o que é doloroso para um pode ser prazeroso para o outro; o que é estranho para um pode ser normal para o outro. Então esse comportamento de querer saber um “segredo do sexo” ou buscar uma respostas satisfatória é bem comum, mas também gera frustrações, pois a terapia sexual não oferece respostas prontas, mas é um caminho de trabalho, cuidado e autoconhecimento.

O maringaense (homens e mulheres), de forma geral, tem uma vida sexual ativa?
O maringaense ainda guarda muitos tabus e conservadorismos quando o assunto é sexo. Mesmo que tenha uma vida ativa, costumo perceber que ele ainda se resguarda sobre os seus próprios desejos, o que prejudica a qualidade da vida sexual dos indivíduos.

O que mais mudou na última década no comportamento de homens e mulheres quando o assunto é sexo?
A liberdade para além das convenções. Estamos falando aqui tanto da liberdade sexual feminina, pois a mulher compreendeu que tem direito de sentir prazer da forma como ela quiser; e também da liberdade de orientação sexual, pois hoje já temos leis que criminalizam a homofobia e garantem a segurança da mulher, embora ainda falte muito em termos de cultura e legislação, já que o Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo.

O que ainda é um grande tabu, tanto para homens quanto para mulheres?
Creio que o que mais “choca” as pessoas em termos de sexualidade é sair do formato do relacionamento monogâmico tradicional. Falar sobre fetiches como sexo a três (o famoso ménage), sexo grupal ou o swing (conhecido como “troca-troca de casais”) é algo que sempre gera polêmica, pois ainda estamos muito arraigados aos valores da família tradicional, patriarcal, monogâmica e à ideia do amor romântico.

De forma geral, quais são as maiores dificuldades dos homens?
Os homens sempre acham que precisam ter um desempenho 100%. Se incomodam com o tamanho do pênis, com frequência se questionam se têm ejaculação precoce, preocupam-se excessivamente com o “broxar” e enxergam a sexualidade a partir da genitalidade, do pênis. Quando, na verdade, a sexualidade é muito mais do que isso. É um trabalho interessante, que devolve a autoestima de homens para além do falocentrismo e os permite sentir mais, ser mais sensíveis.

E das mulheres?
A anorgasmia (não chegar ao orgasmo) e a falta de libido são mais comuns. E geralmente são derivadas de uma educação repressora e da falta de diálogo. Muitas mulheres não se conhecem, não sabem sobre seu próprio corpo, e delegam ao parceiro a responsabilidade de fazê-las ter prazer. Com isso, perdem muito da sua potência orgástica.

O que mais falta a cada um para ter uma vida sexual mais saudável?
Menos preconceitos e mais aceitação de si. Às vezes temos desejos “estranhos” socialmente falando e os julgamos antes mesmo de pensarmos sobre eles. Não é porque você vai falar sobre um desejo ou pensar sobre ele que você necessariamente vai realizá-lo. A proposta é que possamos ser sinceros com nós mesmos, sem tabus, e a partir daí ver a pertinência de realizar as próprias fantasias.

Existe realmente o ponto G ou é um mito?
O ponto G nunca foi mapeado cientificamente. O grande responsável pelo prazer genital da mulher é o clitóris. Ele tem uma parte chamada “glande” que fica na parte externa do canal vaginal; e as outras partes que compõem o clitóris são internas e se prolongam próximo ao canal vaginal. Quando a mulher é estimulada, tocada, em um ponto específico do canal vaginal, que fica perto da esponja uretral, se estimula “por tabela” o corpo desse clitóris. É essa área que chamam de “ponto G”.

E o que é, de fato, uma vida sexual saudável (porque não existe uma quantidade x de relações, o que funciona para um pode não funcionar para o outro, etc.)
Uma vida sexual saudável é aquela em que você alinha os desejos com a realidade e se permite ter prazer. Têm liberdade para falar sobre seus desejos, respeita os limites do seu corpo e do outro, assume e lida com as consequências das próprias escolhas no campo do desejo. Não somos irracionais, nosso desejo não nos controla. Mas podemos conhece-lo, dialogar com ele, olhar para ele, e então decidir como lidar com ele.

A pornografia é um assunto que tem estado em pauta nos últimos tempos. Existe um limite saudável para o consumo desse tipo de conteúdo?
Não acho que a pornografia seja a vilã. Somos estimulados pela visão, e olhar cenas de sexo faz parte da nossa estimulação sexual. O problema se dá quando não se compreende que a pornografia é um mercado, que os filmes não são reais, que os personagens são atores, e aquilo que se vê não é o que vai acontecer na realidade, pois a realidade é muito mais complexa. Hoje já temos produções feitas por mulheres que não denigrem os corpos femininos e apresentam uma relação sexual menos machista, o que é ótimo tanto para as mulheres quanto para os homens.

E sobre o sexo pago? Existe um limite saudável para esse tipo de relação?
Aqui eu poderia entrar em diferentes situações. Há o sexo pago por pura convenção, por machismo, porque o homem “tem de” sair com a profissional do sexo; tem o sexo pago por fetiche, pois há pessoas que têm fantasias e usam o serviço das profissionais do sexo para realizá-las; tem a questão da curiosidade, da sensação de poder, da relação com o dinheiro… Não dá pra generalizar. Eu creio que o limite é quando aquilo te faz sofrer. Se você recorre ao sexo pago por prazer, entendendo os limites dessa relação e as contingências dela, okay. Mas se isso se torna uma condição para você ser feliz, ou se essa é uma ação que te traz mais problemas do que satisfação, aí encontramos um limite.

Por que ainda é tão comum a procura pelo sexo com garotas de programa?
Muitas pessoas têm vergonha de falar sobre os próprios desejos e fetiches. A visão conservadora afasta os casais, impede o diálogo aberto e o medo se instaura nos relacionamentos. As garotas de programa lidam com experiência e naturalidade com o assunto “sexo”, e acabam vivenciando uma variedade de preferências sexuais e fetiches. Isso faz com que as pessoas busquem as profissionais do sexo por saberem que não serão julgadas ao expor seus desejos.

E em relação aos aplicativos de relacionamento? É um assunto polêmico e que acaba causando grandes frustrações a quem usa…pode ser utilizado de forma saudável? Vale à pena?
Para alguns, é frustração; para outros, é problema. Muitos se queixam de que as relações por aplicativos são fugazes e superficiais, mas também já vi muita gente encontrando parceiros fixos e engatando um relacionamento a partir de um aplicativo. Será saudável se você puder ser sincero nas suas colocações. Criar um personagem ali sempre trará frustração, então é interessante que você use o aplicativo com uma finalidade que faça sentido para você. Se é procurar um relacionamento estável, deixe isso claro às pessoas com quem você conversa. Se é apenas para ter sexo, também diga isso de alguma maneira. Assim as frustrações são reduzidas e você atrairá pessoas que têm as mesmas intenções que você.

Qual seria a grande virada de chave para a conquista de uma vida sexual mais prazerosa e feliz?
Sinceridade. A sinceridade mais difícil é aquela que temos de ter com nós mesmos. Às vezes nos enganamos por anos em relacionamentos que não nos satisfazem. Às vezes mentimos para nossos parceiros e parceiras porque não somos sinceros nem com o espelho, porque temos medo, vergonha, culpa. Ser sincero com o próprio desejo permite que você se aceite e possa viver de maneira mais prazerosa e feliz, sem se julgar tanto.

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