Maringá tem o mercado de trabalho mais aquecido da região

Maringá lidera os indicadores de ocupação e renda e segue como o mais aquecido da região, segundo os dados preliminares do Censo Demográfico, divulgados pelo IBGE na última semana. O levantamento sobre Trabalho e Rendimento mostra que o município supera as médias do Paraná e do Brasil tanto em nível de ocupação quanto em rendimento médio do trabalho.
O nível de ocupação, que representa o percentual de pessoas com 14 anos ou mais que estavam trabalhando na data de referência do Censo (2022), foi de 53,5% no Brasil, 60,3% no Paraná e 63,4% em Maringá. Proporcionalmente, mais pessoas estavam empregadas em Maringá do que na média estadual e nacional, sinalizando um mercado de trabalho mais robusto e ativo.
A diferença entre homens e mulheres permanece marcante: o nível de ocupação entre os homens maringaenses foi de 72,3%, enquanto entre as mulheres chegou a 55,6%. Essa diferença de 16,7 pontos percentuais reflete não apenas a desigualdade de acesso ao emprego, mas também o impacto direto sobre o rendimento médio, já que os homens continuam concentrando as ocupações mais bem remuneradas.
Em Maringá, 64% da população recebe até dois salários mínimos, e a maior parte (35,2%, cerca de 260 mil pessoas) está na faixa de um a dois salários mínimos.
Por outro lado, apenas 9,47% dos maringaenses ganham cinco ou mais salários mínimos — cerca de 38,5 mil pessoas.
A registrou uma renda média mensal de R$ 3.998,48 — valor 26,8% superior à média do Paraná (R$ 3.151,59) e superado apenas por Curitiba entre os maiores municípios do estado. A diferença entre homens e mulheres também é expressiva: os homens maringaenses receberam, em média, R$ 4.668,30, enquanto as mulheres ficaram em R$ 3.221,72, uma diferença de 44,9%. O dado reforça um padrão observado em todo o país: as mulheres seguem ganhando menos e com menor presença em ocupações formais.
“As razões são diversas, mas especialmente as tarefas que as mulheres desempenham na sociedade em relação ao cuidado da família e da casa, das crianças e dos familiares idosos. Isso dificulta muito o tempo delas, o acesso delas ao mercado de trabalho. E isso vai refletir também no rendimento, porque as ocupações predominantemente ocupadas por mulheres são aquelas também relacionados ao cuidado, como no caso dos serviços de saúde, agentes comunitários de saúde, que têm um salário relativamente menor do que outras posições da saúde, como profissionais médicos e profissionais com um nível superior, mas também nos hospitais, auxiliares de enfermagem, trabalhadores domésticos onde tem muita preponderância de trabalho feminino. Então são posições que têm níveis de rendimento relativamente menores do que as posições que homens têm. Normalmente eles ocupam posições mais de decisão, então tendem a ter rendimentos maiores. A relação do mercado de trabalho nessa desigualdade de gênero é muito marcante no censo 2022”, explica Cássius de Brito, chefe da agência do IBGE em Maringá.
Mais da metade da população ocupada em Maringá (52,83%) era empregada do setor privado, e apenas 9% desses trabalhadores não tinham carteira assinada. Esse índice é muito semelhante ao da capital, Curitiba, e indica maior formalização das relações de trabalho. Em contrapartida, Paiçandu (56,68%) e Sarandi (54,8%) possuem uma maior proporção de empregados do setor privado, mas com menor presença de servidores públicos e empregadores, o que ajuda a explicar rendimentos médios mais baixos nesses municípios. Maringá, por outro lado, apresenta maior número de empregados do setor público e de empregadores, o que eleva a renda média. O percentual de trabalhadores autônomos na cidade também é expressivo: 26,86%.
Desigualdade racial também aparece nos rendimentos
Em todos os municípios, a renda média das pessoas brancas é superior à média geral, enquanto os grupos pretos e pardos apresentam rendimentos muito próximos entre si, mas significativamente menores. A exceção está em Paiçandu e Sarandi, onde as diferenças são menores, sugerindo maior equilíbrio de renda entre as categorias.

O destaque positivo fica para a população amarela (oriental), que apresenta rendimentos médios superiores aos dos brancos em Maringá, Mandaguaçu e Marialva. Em Mandaguaçu, por exemplo, 70,5% dos autodeclarados amarelos estavam empregados no setor público ou como conta-própria, o que explica a alta média salarial. Em Marialva, esse grupo atua principalmente como empregadores e produtores vinícolas, e em Maringá, em funções públicas e empresariais — todas posições associadas a rendas mais elevadas.
Os números do Censo explicados no contexto metropolitano
Os resultados do Censo 2022 em relação às variáveis de trabalho e rendimento que foram divulgados na semana passada são baseados em questionários de amostra. Em Maringá, a taxa amostral foi de 10%, logo, essas informações foram calculadas em torno das respostas de 10% dos domicílios. O chefe da agência do IBGE em Maringá explica que apesar das diferenças entre os números da cidade e da região, é preciso levar em conta o contexto metropolitano.
“A economia do município consegue atrair e absorver pessoas que encontram ocupação aqui. O nível da ocupação, se elas são ocupações com salários altos ou baixos, aí varia de município para município, mas é importante dizer também que nem todo mundo que mora em Maringá trabalha aqui e nem todo mundo que mora nos municípios, por exemplo, de Sarandí e Paiçandu, trabalham nesses municípios. Muitos deles vêm trabalhar aqui. É importante a gente dizer isso porque esses dados dizem respeito às pessoas que estão morando nesses municípios, mas não necessariamente estão trabalhando ali. Na região de Maringá, como é uma região metropolitana, a gente precisa levar isso em consideração porque as pessoas que moram em Maringá podem não trabalhar necessariamente em Maringá. Embora seja o caso preponderante das pessoas que moram aqui e trabalharem aqui, mas municípios da região metropolitana que são colados com Maringá, especialmente Paiçandu e Sarandi, mas também municípios como Floresta ou Mandaguaçu, que têm rodovias de mão dupla, de fácil acesso, também facilita com que as pessoas morem nesses municípios, mas trabalhem aqui Maringá”, detalha.
Ele explica que quanto mais formal a ocupação – seja por carteira assinada, seja um autônomo ou empresário com CNPJ aberto – maior tende a ser a remuneração. “Além de ter muitos trabalhadores em posições de formalidade de ocupação, tem mais trabalhadores trabalhando nessas posições que têm um rendimento tendencialmente maior, o que faz a média elevada. Então esse conjunto de condições ajuda a explicar por que Maringá tem um rendimento médio geral significativo, o segundo do Estado. Mas a gente precisa também levar em consideração que boa parte das ocupações geradas em Maringá, dos trabalhos gerados no município de Maringá, são ocupados por pessoas que moram nos municípios colados, Sarandí e Paissandú, por conta da característica metropolitana da cidade. Eles não moram necessariamente aqui porque o custo de vida, principalmente na moradia, aqui é muito elevado. Moram em Paissandú, moram em Sarandí, moram em Marialva, em Mandaguaçu. Então quando o censo vai lá e pergunta o rendimento da pessoa, tende a encontrar um rendimento menor, ainda que a pessoa trabalhe aqui. Então o que os dados do Censo consegue mostrar nesse nível de análise é que as pessoas que moram em Maringá e trabalham aqui tendem a ter um rendimento maior. Mas o município também oferece posições de ocupação com rendimento baixo e quem ocupa são as pessoas que moram, muito provavelmente, nos municípios da região metropolitana”, diz Brito.
O chefe da agência do IBGE em Maringá ressalta que esses dados do Censo sobre trabalho e renda apresentam vários indicadores que têm que ser levados em consideração no planejamento das políticas públicas da região. “Claro que cada prefeito tem que cuidar do seu município, mas nesse nível de integração entre os municípios da nossa região, é preciso ter uma atenção também metropolitana, porque várias desigualdades, seja de gênero, seja de cor ou raça, ou mesmo dos municípios, no nível de rendimento entre Maringá e os municípios da região, têm a ver com a característica metropolitana da região. Os gestores têm que levar em consideração essas desigualdades para poder pensar em conjunto as soluções para esse tipo de questão”, finaliza.
