Maringaenses trocam a monogamia por relacionamentos abertos: ‘não se encontra tudo em uma pessoa só’


Por Creative Hut
Maringaenses trocam a monogamia por relacionamentos abertos: 'não se encontra tudo em uma pessoa só'
Maringaenses trocam a monogamia por relacionamentos abertos. Foto: Ilustrativa/Pixabay

Monogamia nunca foi sinônimo de amor para Renata (nome fictício), 38 anos, moradora de Maringá. Ela pertence ao mundo liberal desde a adolescência e é adepta de relacionamentos abertos. “Fui morar sozinha com 16 anos e sempre viajei muito. Vivenciei minha liberdade de uma maneira totalmente diferente das pessoas que eu conheço e isso refletiu na minha forma de viver a vida e me relacionar”, relatou em entrevista ao GMC Online.

Refletiu no casamento com Diego (nome fictício), 35 anos. Eles estão juntos desde 2006. Inicialmente, o relacionamento era monogâmico, mas há cerca de sete anos os dois se abriram para novas experiências. “Ele saiu com outra pessoa, ou seja, me traiu – vamos dizer assim. Quando eu descobri, falei que estava tudo bem e ele se surpreendeu. Eu quis que ele entendesse que não precisava mentir, eu entendo que as pessoas têm necessidades diferentes. A gente não encontra tudo em uma pessoa só, tem coisas que ele vai encontrar nos outros que não vai encontrar em mim e vice-versa. Então tivemos uma conversa e, juntos, resolvemos abrir”, relatou Renata.

Renata é poligâmica e se envolve afetivamente com outras pessoas. Já o Diego vive relações extraconjugais pontuais e momentâneas, sem envolvimento afetivo. “Eu gosto de sair, conversar, realmente conhecer outras pessoas. Preciso me sentir atraída de fato por elas”, explica.

Mas não quer dizer que, por ser aberto, o relacionamento não envolve ciúmes, segundo Renata. “Eu não sou uma pessoa ciumenta, mas meu marido é. Se sábado vou sair com uma pessoa e aviso que tenho um ‘rolê’, às vezes rola uma conversa de ‘ah, essa pessoa é melhor que eu’, porque ele foi criado para não dividir – homem é muito assim. É um exercício diário mostrar para ele que vou sair mas vou voltar para casa. Ele é minha escolha diária, é com ele que moro, que tenho filhos, que divido as contas…”, enfatiza Renata.

Segundo ela, é comum ser hostilizada pela forma como se relaciona, inclusive dentro do próprio meio liberal maringaense. “O meio liberal maringaense é o mais fechado que tem. As pessoas falam que são liberais mas são cheias de condicionantes. Normalmente as pessoas abrem o relacionamento mas só podem sair com uma terceira pessoa se os dois estiverem juntos. Quando saio sozinha com outra pessoa, sem meu marido, as próprias mulheres que pertencem ao meio me hostilizam. E os homens chegam para o meu marido falando que me viram em determinado lugar com outra pessoa”, acrescenta. E, justamente por presenciar tanto preconceito, Renata não fala com a família sobre isso: “só minha mãe sabe”.

A três

O professor Leonardo (nome fictício), 30 anos, de Maringá, e a universitária Sofia (nome fictício), 27 anos, que vive em São Paulo, se conhecem há sete anos e estão juntos há cinco. Foram muitas idas e vindas até encontrarem uma forma de fazer o relacionamento à distância dar certo. “A princípio eu namorava uma outra garota e ela namorava outro cara e nós fomos amantes durante alguns meses, então decidimos terminar ambos os relacionamentos para ficarmos juntos. E nesse tempo nós nos machucamos muito: eu a traí, ela me traiu, essas coisas do cotidiano de quem tem relações monogâmicas, como pegar coisas no celular um do outro. Separamos várias vezes, mas de uma coisa a gente sempre soube: a gente sempre se amou de verdade”, conta Leonardo.

Depois de muitas brigas, o casal resolveu abrir o relacionamento no fim do ano passado. Cada um podia ficar com quem queria, mas o ciúmes ainda era um problema. “Então resolvemos começar a sair a três. Ela é bissexual e quando a gente está junto e sente vontade, ficamos com outra menina. Quando ela fica afim de algum cara, eu curto ver. Não me sinto atraído por homens, mas se ela estiver gostando, eu gosto também. Chegamos num nível de intimidade 100%, isso abriu caminhos para uma relação de confiança um com o outro”, afirma.

Sem status

Já a jornalista Maísa (nome fictício), 32 anos, e o empresário Reinaldo (nome fictício), 41 anos, estão vivendo um relacionamento aberto há cerca de quatro meses, mas sem status. “Nós não demos um nome. Surgiu um sentimento muito forte, de parceria, afinidade, confiança, mas optei por não assumir um compromisso de relação monogâmica nesse momento porque acredito que possa acontecer alguma situação de eu querer estar com outra pessoa. Estamos sempre juntos, fazemos todo tipo de programa, já conheci a família dele, mas não estabelecemos um compromisso”, relatou Maísa ao GMC Online.

O Reinaldo chegou a pedir a jornalista em namoro e ela aceitou, mas repensou. “Aceitei o pedido dele e durou coisa de uma semana, porque depois vi que me precipitei. Conversamos, fui completamente honesta com ele sobre como estava me sentindo e existiu esse entendimento e aceitação de que somos livres para ficar com outras pessoas, então continuamos ficando”, acrescentou.

E o consentimento é justamente a peça-chave para relacionamentos abertos saudáveis, segundo a psicóloga especialista em sexualidade e professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Eliane Maio. “Desde que haja maturidade e consentimento, sem nenhuma forma de violência, obrigatoriedade ou opressão, as pessoas podem escolher, sendo adultas, o jeito que querem expor o seu desejo sexual. Se forem pessoas que optaram por isso porque se sentem bem, física e emocionalmente, sexualmente falando, pode funcionar muito bem. Se for obrigatoriedade, opressão, aí não é uma forma de relacionamento, é violência”, explica. “A gente começou a falar de relacionamento aberto agora, mas sempre existiu. A monogamia, assim como o ciúmes, são questões culturais. Ninguém nasce monogâmico, não existe essa característica genética, hereditária. A gente vai aprendendo, por informação verbal ou não verbal”, acrescenta Eliane Maio.

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