Mulheres de Maringá relatam detalhes da luta contra o câncer


Por Rafael Bereta
Daniele Fernandes e Marlene Honorato Colombo. Foto: Montagem/GMC Online.

Falar sobre câncer não causa câncer. Esta é a mensagem que muitas pacientes oncológicas desejam passar adiante. Em Maringá, várias mulheres que estão em tratamento ou venceram o câncer de mama criam uma verdadeira rede de apoio. O GMC Online conversou com duas mulheres que têm servido de incentivo a outras que estão iniciando o tratamento.

Para a maringaense Daniele Fernandes, de 39 anos, o cuidado com a saúde sempre foi primordial e exames periódicos eram feitos sempre. Ela conta que em julho de 2021 havia feito um tratamento para engravidar e realizado vários exames de rotina: o resultado era uma saúde de ferro. Entretanto, em outubro do mesmo ano, ao voltar de uma viagem ela sentiu um caroço do tamanho de uma azeitona na mama direita.

“Sempre faço autoexame da mama, mas não tinha aparecido nada. Depois de alguns dias, quando voltei de uma viagem, fui tomar um banho e senti um caroço na minha mama direita e esse caroço era do tamanho de uma azeitona. Logo marquei o médico, mas ainda demorou um mês para conseguir a consulta. Após realizar os exames fiz a mamografia e o resultado foi que eu estava com uma calcificação benigna”, conta.

Apesar de o primeiro resultado mostrar uma calcificação benigna, em janeiro de 2022, Daniele marcou outra consulta, pois o caroço na mama não parava de crescer e ninguém sabia o que era. Em abril veio o laudo de São Paulo da biopsia com o resultado de ‘Carcinoma Invasivo Luminal B grau três’.

“Foi terrível saber o diagnóstico, perdi o chão. Lembro que deu mastite, uma inflamação da mama que pode ser acompanhada por infeção. Dai você já pensa que vai morrer, que sua vida acabou, pois ninguém esperar ficar doente de uma hora para outra. Minha família não queria que eu fizesse tratamento onde morava, por isso voltei para Maringá e passei por outros médicos até que comecei o procedimento no Hospital do Câncer, pois era um caso de urgência”, explica Daniele ao GMC Online.

Ao começar o tratamento no Hospital do Câncer, Daniele sentiu que passaria a viver um processo amargo, mas que, segundo ela, faz a pessoa pensar na vida de uma outra forma. “Você começa a avaliar sua vida também. Eu falo que tem pessoas que quando recebem um péssimo diagnóstico se tornam melhores do que elas eram, pois o câncer faz você pensar em toda sua trajetória. Para mim, eu vejo que me tornei uma pessoa melhor ainda”, afirma.

‘O pior do tratamento para mim foi o divórcio’

Durante o tratamento Daniele conheceu outras pessoas que passaram pela mesma situação. Para ela, como ser humano todo o processo foi muito importante, pois ela aprendeu a olhar mais para a dor das outras pessoas e entender que a vida é um sopro e que tudo passa.

Foi preciso enfrentar, por exemplo, a queda de cabelo, um momento difícil para a maioria das mulheres. “Antes do câncer eu tinha um cabelo enorme que cuidava muito. Dois dias depois de iniciar a quimioterapia meu cabelo começou a cair, foi terrível, chorei durante um mês e gritava. É terrível se ver careca, abala muito a autoestima da mulher. Minhas sobrancelhas também caíram, depois meu cílios, unhas ficaram fracas”, comenta Daniele.

Porém, o que foi realmente mais doloroso foi ter terminado um casamento durante o tratamento.

A maringaense Daniele Fernandes, de 39 anos, afirma que conheceu outras pessoas que passaram pela mesma situação. Foto: Arquivo pessoal

“Para mim o processo foi amargo, não só por causa da medicação pesada, a autoestima abalada, mas várias coisas . O pior do tratamento para mim foi o divórcio. Era casada há doze anos e maioria das pessoas depois que estão sofrendo com o câncer esperam poder contar com quem mais amam. No meu caso o que me ajudou a prosseguir nessa batalha foi a minha fé em Deus”, diz.

A fase final

No dia 17 de março deste ano, Daniele começou a passar por sessões de radioterapia. Hoje ela usa as redes sociais para falar falar sobre como a fé tem ajudado na luta contra o câncer. “Estou fazendo fazendo a radioterapia, tomando a medicação e em breve poderei fazer a reconstrução do meu seio”, planeja.

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A paciente Daniele Fernandes tem usado as redes sociais para contar a sua rotina. Foto: Arquivo pessoal.

‘O câncer não é uma sentença de morte’, diz moradora de Maringá que venceu a doença

Assim como Daniele, descobrir o tumor do câncer de mama não foi nada fácil para a costureira Marlene Honorato Colombo, de 59 anos. Ela conta que precisou de acompanhamento psicológico para lidar com o desafio de vencer o câncer. “É um sofrimento horrível, um sentimento desesperador, a gente se questiona, questiona a Deus, questiona tudo. Quando eu lembro, me emociono”, diz. Para Marlene, a força para enfrentar o tratamento e vencer a doença veio da família.

Ela foi diagnosticada com o Câncer de mama Ductal Invasivo há 14 anos. Na época ela começou a sentir muitas dores no braço direito. Marlene passou por 26 sessões de quimioterapia para retirada do nódulo canceroso.

Vaidosa, mesmo com a queda de cabelo, não se abalou e encontrou na Rede Feminina de Combate ao Câncer amparo e acolhimento. “Lembro que durante a primeira quimioterapia meus cabelos começaram a cair. Senti uma certa impotência e desespero de como enfrentar todo sofrimento e ainda sem o cabelo que é a moldura do nosso rosto, mas na RFCC (Rede Feminina de Combate ao Câncer), fui amparada e acolhida, as meninas são muito importantes para mim, são como uma família”, ressalta.

Curada, Marlene se considera vitoriosa e afirma que em uma situação como a descoberta de um câncer, mesmo que seja difícil é preciso lutar com força e não desistir do tratamento. “O câncer não é uma sentença de morte, é apenas uma fase difícil, mas que vai passar e a gente vence”, pontua.

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A costureira Marlene Colombo, de 59 anos, junto com as amigas da Rede Feminina de Combate ao Câncer (RFCC). Foto: Arquivo Pessoal.

Números

Segundo informações do Instituto Nacional do Câncer (INCA), no Brasil, o câncer de mama é o mais incidente em mulheres de todas as regiões, com taxas mais altas nas regiões Sul e Sudeste. Para o ano de 2023 foram estimados 73.610 casos novos, o que representa uma taxa ajustada de incidência de 41,89 casos por 100.000 mulheres.

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