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08 de dezembro de 2025

Mulheres se destacam com produção de café especial no Paraná


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Maria Maciel é a presidente da Associação das Mulheres do Café do Norte Pioneiro do Paraná/ Foto: Luciana Peña. CBN Maringá

Agregar valor à produção e valorizar o trabalho feminino na agricultura: essa é a intenção do projeto Mulheres do Café. Criado pelo IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater), o projeto atua em municípios do Norte Pioneiro e do Vale do Ivaí e conta com mais de 250 mulheres, divididas em grupos, que recebem capacitações técnicas voltadas para o público feminino.

Maria Maciel é a presidente da Associação das Mulheres do Café do Norte Pioneiro do Paraná, que tem 62 associadas, e tem a meta de mostrar a importância da mulher para a cafeicultura e ajudar a divulgar a produção de cada uma. “São mulheres que vivem no campo desde quando nasceram, produzem café há muito tempo.  Todas elas são agricultura familiar. Elas vivem do café. A gente divulga o café delas dentro da associação e leva o que há de melhor para essas produtoras”, explica. 

Os cafés produzidos já receberam diversos prêmios, inclusive no concurso Café Qualidade Paraná. A expectativa do projeto é fortalecer o turismo rural para quem se interessar em participar da produção e aprender sobre a cafeicultura, com o Caminho das Mulheres do Café, uma rota de propriedades que abrem suas produções para compartilhar conhecimento. “Tem propriedade em que você pode plantar sua muda de café,  deixar lá até a xícara. Você faz todo o processo: a colheita,  a secagem,  a torra e a prova”, conta Maria. 

Muitas dessas mulheres acompanhavam seus pais e avós na produção de café, sempre trabalharam na roça, mas se viam apenas como ajudantes, coadjuvantes. Os projetos de empoderamento e valorização ajudam a adquirir mais autoconfiança para encarar os desafios. E outros projetos têm surgido para auxiliar nessa missão, como a linha Feito Por Ellas, criada pelo Café Semeado, uma torrefação de Cianorte.

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A linah de cafés totalmente feminina criada no noroeste paranaense foi selecionada para receber um prêmio nacional, em Minas Gerais. / Foto: Brenda Caramaschi

Celene Viana, sócia da Semeado, explica que a empresa nasceu com a proposta de fazer uma curadoria dos melhores grãos Brasil afora, comprá-los in natura e depois torrá-los e levá-los até o consumidor final. No garimpo para encontrar os melhores grãos, Celene passou a participar do Núcleo de Cafés Especiais da Associação Comercial de Maringá e buscou capacitação na área para poder entender melhor o mercado. Foi em uma missão técnica em Curitiba que veio a ideia de criar uma linha totalmente feminina. Lá ela conheceu Georgia Franco de Souza, a primeira mulher brasileira a se tornar mestre de torra e que abriu a primeira cafeteria dedicada ao café especial no País. “Ela torra café especial há 21 anos e eu não conhecia essa história. Quantas mulheres estão fazendo café especial e muitas não aparecem. E aí nasceu a Feito por Ellas”, diz Celene, explicando a ideia de ter uma linha especial totalmente produzida por mulheres.

Foi na Associação Mulheres do Café, em uma degustação às cegas, que ela encontrou as primeiras produtoras a assinarem o produto, vendido em microlotes, com sensoriais diferenciados.  A cada dois meses uma nova produtora fornece os grãos para a linha Feito por Ellas. “Nós sabemos que o nosso estado vem cada vez mais se destacando e trazendo grãos de excelência para o mercado e o projeto nasce para levar esses grãos para além das barreiras do Paraná . A gente acabou de ganhar um troféu em Minas Gerais, o troféu do Agro Vital, que vai ser recebido pelas mãos das produtoras no Encontro Nacional de Liderança Feminina do Café e Cultura do Brasil”. Durante o Ca Fé On é possível provar e comprar cada um dos lotes, que leva o nome de suas respectivas produtoras. 

Inspiração para as mulheres e impulso para o Paraná

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Georgia Franco de Souza é barista, mestre de torra, instrutora e provadora de cafés especiais e sonha em ver o Paraná ser ainda mais conhecido pela qualidade do café produzido aqui. / Foto: Brenda Caramaschi

Georgia, que foi inspiração para que a linha nascesse, foi uma das palestrantes da segunda edição do Ca Fé On. Ela é sócia fundadora do Lucca Cafés Especiais, uma cafeteria e micro torrefação em Curitiba que se destaca como referência nacional. Barista, mestre de torra, instrutora e provadora de cafés especiais, ela atua no mercado desde 2000.  O nome “Lucca” é uma homenagem ao avô materno de Luiz Otávio, João Pedro Lucca, produtor de café em Apucarana.

A estreia em competições foi marcante: no Primeiro Campeonato Brasileiro de Baristas, em 2002, ela ficou entre os finalistas, o que a motivou a abrir seu próprio negócio. “Eu acho que essas mulheres que estavam lá naquele momento foram um motivo de inspiração para as outras,  para mostrar que não é o fato de a gente ser mulher que é um limitante para a gente estar nessas posições. Eu sou engenheira civil e na época que eu fiz a universidade era também uma carreira extremamente masculina. Eram 200 vagas, 180 homens e 20 mulheres.  Eu vejo essa participação feminina com bons olhos, acho super legal que a gente pode participar e a gente tem muito a agregar porque o café especial tem muita sensibilidade e a mulher consegue exprimir essa sensibilidade e trazer toda essa parte afetiva,  essa parte do capricho que faz a diferença”, diz Georgia.

Porém, mais do que apenas a valorização da força feminina, o sonho da barista empreendedora é ver o estado retomando protagonismo pela qualidade do café produzido aqui. Segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, o Paraná é o 5º no ranking nacional de produção do café arábica. Os cafés paranaenses são exportados para 97 países, o que gera um lucro de, em média, US$ 342 milhões ao ano. Os principais destinos são Estados Unidos, Rússia, Japão, Ucrânia e Reino Unido. E localmente, o mercado de cafés especiais está em crescimento, principalmente por conta do investimento que vem sendo feito por negócios locais para proporcionar experiências gastronômicas diferenciadas por meio desse grão. Para a especialista, eventos como o Ca Fé On, onde é possível encontrar todos os elos envolvidos na cadeia de produção reunidos e apresentar o produto e seus diferenciais para o consumidor final, são essenciais para acelerar o processo de reconhecimento de qualidade do café paranaense. 

“Desde que a gente começou a trabalhar com cafés especiais, a nossa maior dor é o Paraná aparecer pouco.  E estar aqui nesse momento, vendo o Paraná querer aparecer,  isso me traz uma alegria tão grande quanto ver as mulheres.  Porque a gente batalhou muito para o Paraná aparecer e a gente não vê café paranaense despontar como merece. A gente dá o maior apoio para que todos juntos possamos colocar o café no mapa de novo. Existem muitos eventos voltados para a produção e poucos eventos voltados à educação do consumidor. Quando a gente tem eventos que são voltados para aqueles que pagam a conta, aqueles que compram o café,  isso nos deixa bastante empolgados. É isso que a gente precisa.  Porque a produção,  naturalmente, vai se qualificando, nós temos muitos institutos dedicados a isso.  Mas tem que ter alguém que paga a conta.  É a demanda que tem que puxar o consumo e não você ter o produto de qualidade para depois ver para quem vender.  Então eu fico super empolgada de ver eventos como esse abranger novas pessoas que não conhecem o café especial.  É esse público que a gente quer cativar, aquele que nem foi apresentado ainda para o café especial”, ressalta Georgia.

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