Mulheres se destacam com produção de café especial no Paraná

Agregar valor à produção e valorizar o trabalho feminino na agricultura: essa é a intenção do projeto Mulheres do Café. Criado pelo IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater), o projeto atua em municípios do Norte Pioneiro e do Vale do Ivaí e conta com mais de 250 mulheres, divididas em grupos, que recebem capacitações técnicas voltadas para o público feminino.
Maria Maciel é a presidente da Associação das Mulheres do Café do Norte Pioneiro do Paraná, que tem 62 associadas, e tem a meta de mostrar a importância da mulher para a cafeicultura e ajudar a divulgar a produção de cada uma. “São mulheres que vivem no campo desde quando nasceram, produzem café há muito tempo. Todas elas são agricultura familiar. Elas vivem do café. A gente divulga o café delas dentro da associação e leva o que há de melhor para essas produtoras”, explica.
Os cafés produzidos já receberam diversos prêmios, inclusive no concurso Café Qualidade Paraná. A expectativa do projeto é fortalecer o turismo rural para quem se interessar em participar da produção e aprender sobre a cafeicultura, com o Caminho das Mulheres do Café, uma rota de propriedades que abrem suas produções para compartilhar conhecimento. “Tem propriedade em que você pode plantar sua muda de café, deixar lá até a xícara. Você faz todo o processo: a colheita, a secagem, a torra e a prova”, conta Maria.
Muitas dessas mulheres acompanhavam seus pais e avós na produção de café, sempre trabalharam na roça, mas se viam apenas como ajudantes, coadjuvantes. Os projetos de empoderamento e valorização ajudam a adquirir mais autoconfiança para encarar os desafios. E outros projetos têm surgido para auxiliar nessa missão, como a linha Feito Por Ellas, criada pelo Café Semeado, uma torrefação de Cianorte.

Celene Viana, sócia da Semeado, explica que a empresa nasceu com a proposta de fazer uma curadoria dos melhores grãos Brasil afora, comprá-los in natura e depois torrá-los e levá-los até o consumidor final. No garimpo para encontrar os melhores grãos, Celene passou a participar do Núcleo de Cafés Especiais da Associação Comercial de Maringá e buscou capacitação na área para poder entender melhor o mercado. Foi em uma missão técnica em Curitiba que veio a ideia de criar uma linha totalmente feminina. Lá ela conheceu Georgia Franco de Souza, a primeira mulher brasileira a se tornar mestre de torra e que abriu a primeira cafeteria dedicada ao café especial no País. “Ela torra café especial há 21 anos e eu não conhecia essa história. Quantas mulheres estão fazendo café especial e muitas não aparecem. E aí nasceu a Feito por Ellas”, diz Celene, explicando a ideia de ter uma linha especial totalmente produzida por mulheres.
Foi na Associação Mulheres do Café, em uma degustação às cegas, que ela encontrou as primeiras produtoras a assinarem o produto, vendido em microlotes, com sensoriais diferenciados. A cada dois meses uma nova produtora fornece os grãos para a linha Feito por Ellas. “Nós sabemos que o nosso estado vem cada vez mais se destacando e trazendo grãos de excelência para o mercado e o projeto nasce para levar esses grãos para além das barreiras do Paraná . A gente acabou de ganhar um troféu em Minas Gerais, o troféu do Agro Vital, que vai ser recebido pelas mãos das produtoras no Encontro Nacional de Liderança Feminina do Café e Cultura do Brasil”. Durante o Ca Fé On é possível provar e comprar cada um dos lotes, que leva o nome de suas respectivas produtoras.
Inspiração para as mulheres e impulso para o Paraná

Georgia, que foi inspiração para que a linha nascesse, foi uma das palestrantes da segunda edição do Ca Fé On. Ela é sócia fundadora do Lucca Cafés Especiais, uma cafeteria e micro torrefação em Curitiba que se destaca como referência nacional. Barista, mestre de torra, instrutora e provadora de cafés especiais, ela atua no mercado desde 2000. O nome “Lucca” é uma homenagem ao avô materno de Luiz Otávio, João Pedro Lucca, produtor de café em Apucarana.
A estreia em competições foi marcante: no Primeiro Campeonato Brasileiro de Baristas, em 2002, ela ficou entre os finalistas, o que a motivou a abrir seu próprio negócio. “Eu acho que essas mulheres que estavam lá naquele momento foram um motivo de inspiração para as outras, para mostrar que não é o fato de a gente ser mulher que é um limitante para a gente estar nessas posições. Eu sou engenheira civil e na época que eu fiz a universidade era também uma carreira extremamente masculina. Eram 200 vagas, 180 homens e 20 mulheres. Eu vejo essa participação feminina com bons olhos, acho super legal que a gente pode participar e a gente tem muito a agregar porque o café especial tem muita sensibilidade e a mulher consegue exprimir essa sensibilidade e trazer toda essa parte afetiva, essa parte do capricho que faz a diferença”, diz Georgia.
Porém, mais do que apenas a valorização da força feminina, o sonho da barista empreendedora é ver o estado retomando protagonismo pela qualidade do café produzido aqui. Segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, o Paraná é o 5º no ranking nacional de produção do café arábica. Os cafés paranaenses são exportados para 97 países, o que gera um lucro de, em média, US$ 342 milhões ao ano. Os principais destinos são Estados Unidos, Rússia, Japão, Ucrânia e Reino Unido. E localmente, o mercado de cafés especiais está em crescimento, principalmente por conta do investimento que vem sendo feito por negócios locais para proporcionar experiências gastronômicas diferenciadas por meio desse grão. Para a especialista, eventos como o Ca Fé On, onde é possível encontrar todos os elos envolvidos na cadeia de produção reunidos e apresentar o produto e seus diferenciais para o consumidor final, são essenciais para acelerar o processo de reconhecimento de qualidade do café paranaense.
“Desde que a gente começou a trabalhar com cafés especiais, a nossa maior dor é o Paraná aparecer pouco. E estar aqui nesse momento, vendo o Paraná querer aparecer, isso me traz uma alegria tão grande quanto ver as mulheres. Porque a gente batalhou muito para o Paraná aparecer e a gente não vê café paranaense despontar como merece. A gente dá o maior apoio para que todos juntos possamos colocar o café no mapa de novo. Existem muitos eventos voltados para a produção e poucos eventos voltados à educação do consumidor. Quando a gente tem eventos que são voltados para aqueles que pagam a conta, aqueles que compram o café, isso nos deixa bastante empolgados. É isso que a gente precisa. Porque a produção, naturalmente, vai se qualificando, nós temos muitos institutos dedicados a isso. Mas tem que ter alguém que paga a conta. É a demanda que tem que puxar o consumo e não você ter o produto de qualidade para depois ver para quem vender. Então eu fico super empolgada de ver eventos como esse abranger novas pessoas que não conhecem o café especial. É esse público que a gente quer cativar, aquele que nem foi apresentado ainda para o café especial”, ressalta Georgia.
