Número de alunos superdotados dispara no Paraná; em Maringá são mais de 500
Maringá tem centenas de alunos superdotados, aqueles com muitas habilidades em alguma área ou até em várias – e a identificação de estudantes com esse perfil disparou nos últimos anos no Estado.
Em 2019, o número de estudantes superdotados identificados no Paraná era de quase 1500, agora são mais de oito mil. No nosso Núcleo Regional de Educação há 927 alunos superdotados e 552 estão na especificamente na cidade de Maringá.
A primeira sala de altas habilidades e superdotação do interior do Paraná foi inaugurada em Maringá há quase 20 anos e fica dentro do Instituto Estadual de Educação. Atualmente, só no Instituto, 79 alunos recebem o atendimento educacional especializado para altas habilidades. Hoje 13 escolas da cidade e outros nove municípios da região têm sala de recursos para altas habilidades/superdotação, que funcionam no contraturno escolar, com atendimento voltado às necessidades educacionais especiais.
Um dos motivos do aumento no número de identificação de altas habilidades é que o processo de identificação dos estudantes com superdotação passou por uma mudança em 2022, com cursos intensivos de formação de professores de toda a rede com foco na atuação em escolas de referência. Além dos professores, também participaram especialistas das salas de recursos multifuncionais, especialistas das escolas em tempo integral e técnicos em educação especial dos Núcleos Regionais de Educação. A identificação dos alunos superdotados, normalmente, começa na sala de aula regular, com algumas características apresentadas pelos estudantes, que são consideradas indicadores de altas habilidades, como capacidade intelectual superior; aptidão acadêmica específica; pensamento criativo ou produtivo; capacidade de liderança; talento especial para artes e capacidade psicomotora. Quem se destaca em uma ou mais áreas é convidado a passar por um protocolo de identificação, que dura de quatro a seis semanas, onde os alunos realizam algumas atividades e o professor observa algumas se há interação entre três componentes: habilidade acima da média, criatividade e envolvimento na tarefa em uma ou mais áreas do conhecimento.
A indicação para passar pelo protocolo pode vir da equipe pedagógica da escola onde esse estudantes está matriculado, da família e até por auto indicação, além de buscas ativas em plataformas de inglês, leitura, redação, na Prova Paraná, no programa Ganhando o Mundo e entre os medalhistas da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. “Muitos alunos, até um tempo atrás, ficavam no anonimato porque era aquele que vai bem em todas as disciplinas e, a priori, coloca-se que ele não necessita de um atendimento porque ele dá conta de tudo sozinho. Contudo, esse aluno que tem esse destaque a mais em todas as disciplinas precisa, sim, do atendimento na sala de recursos de altas habilidades/ superdotação para que ele tenha uma orientação e recebe esse aprofundamento dos conteúdos de acordo com sua área de interesse”, explica Débora Cristina Curto da Costa, que é responsável pelo programa de altas habilidades e superdotação das escolas de Maringá e região.
Mas existe também um outro perfil – é aquele aluno que não se destaca em todas as disciplinas, mas tem um destaque acima da média em uma área específica, como as artes, a escrita ou as ciências da natureza, com ideias para além da idade. “Nós realizamos a suplementação curricular, com atividades exploratórias, de visitação, para visualizar qual seria a área que ele teria maior interesse para desenvolver um projeto de iniciação científica, além de atividades de treinamento, como oficinas que os preparam para as olimpíadas do conhecimento. Esses alunos que vão bem em uma disciplina mas têm dificuldades em outras precisam também da complementação para que consigam desenvolver suas inteligências nas demais áreas do conhecimento”, explica Débora.
Para aprofundar esse conhecimento, o programa estadual conta com parceiras com universidades, institutos de pesquisa e indústrias. Uma dessas parcerias é com a Universidade Estadual de Maringá, e inclui visitas aos cursos de graduação. “Nós realizamos muitas oficinas de estudo para as olimpíadas, como as Olimpíadas Brasileiras de Educação Financeira, com professores doutores da UEM. O ano passado tivemos 13 alunos medalhistas”, exemplifica. O atendimento educacional especializado vai de alunos do primeiro ano do ensino fundamental até o terceiro ano do ensino médio.
As áreas de interesse são muito variadas. Há duas semanas foi realizada uma mostra de talentos para aqueles que demonstram interesse especial pelas artes, como desenho, dança e música, com apresentações e exposição de obras.
Débora diz que os sinais de superdotação podem se manifestar já na primeira infância, mesmo em crianças ainda não alfabetizadas, quando há precocidade no aprendizado, e depois, na evolução mais rápida da aquisição de conhecimento. “Aqueles alunos que aprendem a ler e escrever muito cedo, que têm gosto elevado de leitura, lêem 30, 40 livros anualmente, alunos que têm tendência a se associarem com pessoas mais velhas… Tem alunos do 5o ano que tem amizade com alunos do 8o ano, porque geralmente os assuntos de interesse não interessam para outros da mesma idade, então ele fica meio ‘deslocado’ e começa a fazer amizade com pessoas mais velhas, que conseguem ter um diálogo em relação aos conhecimentos”, diz Débora. Outra característica é a preferência por estudar sozinhos, porque geralmente eles acabam realizando toda a pesquisa e, muitas vezes, os outros alunos não conseguem acompanhar o raciocínio. Estudantes superdotados também tendem a ser mais independentes, demonstrando muita autonomia e capacidade de observação, além de gosto e preferência por jogos de estratégia, como o xadrez, e outras atividades desafiadoras.
O resultado da participação no programa de altas habilidades vem em forma de desenvolvimento e conquistas. João Pedro Crevelaro de Oliveira tem 17 anos e é aluno do Colégio Estadual Alfredo Moisés Maluf. Ele também faz parte da turma de altas habilidades do Colégio Gastão Vidigal, desde 2018, e classifica a experiência como ‘transformadora’. “Por meio da sala eu me envolvi em vários projetos incríveis relacionados à ciência, arte, comunicação… Já tive acesso a experiências que me renderam muitas conquistas, como medalhas em olimpíadas, como a OBA, que é a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, dentre várias outras. Consegui fazer viagens, levar a sala de altas habilidades para o meu intercâmbio, já que eu fui selecionado pelo programa Ganhando o Mundo em 2022 e passei três meses estudando na Nova Zelândia, e muitas outras experiências que eu tive com o suporte de toda a equipe, professores, pesquisadores e colegas da sala de altas habilidades. Consegui alcançar coisas que eu nunca imaginei”, relata.