Amigos e familiares de Isabely Felix, de 19 anos, que morreu no dia 12 de outubro em um acidente envolvendo um Porsche, em Maringá, realizaram uma manifestação neste domingo, 20, próximo ao Parque do Ingá.
Os manifestantes carregavam faixas com a foto de Isabely, a foto do motorista do Porsche que atingiu a motocicleta em que a jovem estava e uma foto do carro logo após o acidente. Os familiares pedem justiça e a prisão do motorista do Porsche, Francis Maycon.
O carro avançou o sinal vermelho no cruzamento das Avenidas Petrônio Portela e Gastão Vidigal e atingiu a motocicleta em que estavam Isabely e o namorado Thiago Souza, de 21 anos. Thiago passou por cirurgias e teve alta do hospital na sexta-feira, 18.
O casal se conheceu ainda adolescentes, há quatro anos, quando trabalhavam juntos como jovens aprendizes. Thiago está em casa e ficará acamado pelos pelos próximos três meses.
Donizete de Souza, irmão de Thiago, diz que o jovem só chora. “90 dias, ele tem que ficar em repouso. Mudou a rotina de todo mundo. Ele conta que estava indo normal, ele viu a Porsche e até mostrava pra ela [Isabely]. Quer dizer, então ele não estava correndo muito. Aí quando ele caiu, ele falou pra dar prioridade pra socorrer a Isabely. Mas aí eles tentaram de tudo lá e infelizmente não conseguiram. [Thiago] Tá muito abalado, só chora e ele até se culpa por não ter dado mais atenção pra ela, porque ele trabalhava em dois empregos. Ele era um excelente namorado pra ela. Quando ele tinha um tempinho, ele dividia entre a minha mãe, minha família e ela. Moleque sorridente, moleque feliz, agora só chora. E tá dependendo da gente pra tudo”, disse.
A tia de Isabely, Maria Conceição dos Santos, passou mal durante a manifestação, enquanto falava aos repórteres, e precisou ser amparada. “Cadê a pessoa ]motorista do Porsche]? Cadê a nossa justiça? O delegado ainda não saiu com uma ordem de prisão, nada. E isso vai pra ficar caindo esquecimento, é mais um pra estatística. Isso não pode, gente, a minha irmã tá devastada, meu cunhado, minha família. A caçulinha da minha irmã, de 19 anos”, desabafou.
Outra tia de Isabely, Ana Carolina Santos Aleluia, diz que a demora na apresentação do motorista do Porsche às autoridades de trânsito aumenta o sofrimento da família. “Não basta tá sofrendo pela morte da nossa Isa, a gente também tá lutando, a família lutando pra fazer justiça. Tá muito difícil pra gente reviver isso. A minha irmã e meu cunhado não conseguiram entrar na casa ainda. Eles ‘teve’ que ir lá pra Santa Catarina, na casa da filha mais velha. A dor é muito grande, tá muito difícil ficar aqui, a gente só quer justiça. Que o rapaz se apresente, que ele fala a versão dele também. Pra que, pelo menos, a gente tenha um conforto. A gente pede, por favor, pra população ajudar a gente, em oração. Principalmente pra mãe. Por favor, é isso que a gente pede, um pouquinho de paz também no trânsito”, disse.
O tio Joel Aleluia reforçou o pedido da esposa. Para ele, o motorista do Porsche demonstra covardia ao não se apresentar. “É um ato de covardia pra mim. A família tá, assim, muito, muito abalada com isso, porque é muita injustiça. E, na verdade, até o pai [do motorista] tá muito envolvido com isso. Porque, que tipo de pai que é esse? Não corrigir o filho, não botar pressão no filho, não, você errou. Você é obrigado a assumir o que você fez. Então, pra mim, nem o pai dele tá sendo pai neste momento”, cobrou.
O namorado de Isabely, Thiago, também é motoboy. Por isso a manifestação teve apoio de um grupo de entregadores liderados por Paulo PJ. “A gente se considera uma família, na verdade, família motoboy. Então, quando se diz respeito a trânsito, a gente tá sempre junto e a gente resolveu ajudar a família também. Porque, sozinho, eles não têm voz, né. Muito perigoso o trânsito para os entregadores. Principalmente com esses embriagados na rua. As blitzes hoje ‘é’ voltada só pra nós e não pra eles”, contou.
Populares pararam para acompanhar a manifestação e dar apoio. E cada um afetado pela dor da família de alguma forma. Marlene Mourad porque é mãe. “Eu sou mãe, né. Meu filho tá aqui, eu sou mãe. Eu acho assim, que tem que ter justiça. Esse cara tá solto até quando? Fala pra mim. É justo uma mãe passar por isso? O cara que saiu do hospital hoje passar por isso? E o cara aí, ileso, solto por aí? Só porque ele tem dinheiro? É certo isso?”, questionou.
E Sandra Palma porque sente na rotina de atleta o perigo do trânsito. “Eu sou atleta amadora, tanto do ciclismo como da corrida de rua. E quando nós saímos pra correr ou então pra pedalar muito cedo, nós temos que tomar muito cuidado. Porque nós percebemos que tem muito motorista dirigindo de forma irregular. Então a gente percebe que eles estão alcoolizados, saindo de festa, fazendo muito barulho, com uma velocidade muito alta, em lugares que não são comuns ter aquela velocidade alta, que não é permitido. Então a gente vê que não existe uma fiscalização em torno disso, de uma forma geral. Não é só em torno do motoboy, do motociclista, mas também para aquelas pessoas que estão praticando esporte, não existe um cuidado, um policiamento. Então nós temos que tomar muito cuidado porque a gente corre o risco de ser atropelada”, explicou.
A Delegacia de Trânsito continua ouvindo testemunhas para concluir o inquérito sobre o acidente. A CBN tenta contato com a defesa de Francis Maycon, motorista do Porsche.