Presença feminina: mulheres são maioria em clubes de leitura de Maringá


Por Brenda Caramaschi
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Apesar de ser aberto a todos, o clube Leia Mulheres, que fomenta o consumo de escritoras nacionais e internacionais, tem pouca participação de homens nas reuniões. Foto/ arquivo pessoal

Em reuniões presenciais ou online, nas casas, cafés, bares e bibliotecas, diversos clubes de leitura se espalham pela cidade fomentando o consumo cultural em diferentes gêneros textuais. Cada grupo tem suas próprias características, mas uma delas é presente em todos eles e reflete o que já demonstraram pesquisas nacionais – quando o assunto é dividir suas percepções sobre o mergulho nas páginas dos livros, as mulheres são maioria. 

Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural e Ibope Inteligência (2020), as mulheres leem em média mais do que os homens no País, revelando que 59% são leitoras, enquanto apenas 52% do público masculino é adepto do hábito. O estudo mostra ainda que a disparidade entre os gêneros vem aumentando. Em 2015, a diferença era discreta, de 52% para elas contra 50% para eles. No último levantamento, o percentual de mulheres leitoras cresceu 7% (59% em 2019) e o dos homens apenas 4% (54% em 2019). 

Embora elas sejam maioria no consumo, ainda há uma disparidade inversa no que é publicado pelo mercado editorial. A professora de literatura do curso de Letras da Universidade Estadual de Maringá, Gabriela Tofanelo, faz parte do clube “Leia Mulheres”, um projeto nacional que surgiu em São Paulo há dez anos e se espalhou pelo Brasil. 

Encontro se aniversário de sete anos do clube Leia Mulheres contou com a participação de apenas quatro homens. Foto: Arquivo pessoal

Em agosto de 2017 foi o primeiro encontro em Maringá. “As mulheres ficaram por muito tempo excluídas da literatura, silenciadas, menos lidas. Nas listas de livros indicados para vestibulares, nos livros didáticos nas escolas, em grandes prêmios e concursos, as mulheres são deixadas de lado. Por isso todos os livros que lemos são escritos por mulheres, brasileiras e estrangeiras. Mas a participação é aberta a todos os leitores, não é exclusivamente para mulheres”, diz Gabriela. 

No entanto, nos encontros do clube, que reúnem de 15 a 30 pessoas, a presença costuma ser majoritariamente feminina. “Temos dois, três, quatro homens no máximo participando a cada encontro. Os poucos homens que participam são recorrentes e a gente gosta muito, porque quanto mais diversidade nos nossos encontros, só enriquece. Todos podem, sim, participar, e serão muito bem recebidos”, afirma.  A agenda do semestre Leia Mulheres fica disponível no instagram e, quem se interessa pelo livro do mês, pode ler e participar das discussões. Tudo é gratuito. 

Os livros são indicados pelos participantes e escolhidos por sorteio ou votação. “Lemos história em quadrinhos, poemas, romance, contos…”, diz Gabriela. Os encontros acontecem no Sesc de Maringá, aos sábados.  

Clube de Mulheres

Composto exclusivamente por mulheres, o clube de leitura Borboleta Azul tem encontros online e presenciais. Foto: Arquivo pessoal

Bruna de Oliveira está à frente do clube de leitura Borboleta Azul, composto exclusivamente por mulheres. Para participar, é preciso fazer inscrição e participar de uma seleção. Os encontros presenciais são itinerantes, em cafeterias da cidade. 

“Eu gosto muito de cafeteria e eu lia muito nesse ambiente. Sempre foi um hobby meu ir sozinha, com um livro, para alguma cafeteria. E quando criei o clube, começamos com um grupo de 10 mulheres. Hoje temos lugares parceiros que nos recebem para os encontros, porque tem lugares que não fazem reserva ou que tem muita gente, tem muito barulho”, explica Bruna.

Criado em setembro de 2022 com o objetivo de compartilhar percepções, atualmente o clube, totalmente feminino, tem 25 participantes, com turmas presenciais a cada 15 dias nos sábados pela manhã e online na quarta-feira, das 7 às 9. As participantes pagam uma mensalidade e os livros são escolhidos conforme as preferências indicadas em um formulário. “Não somos só um clube de leitura, mas um clube de mulheres, porque a gente faz muito mais do que só a leitura e discussão de um livro. A gente é um clube de acolhimento, de compartilhar fraquezas, vulnerabilidades, de network, apoiamos muito umas às outras. O objetivo não é que tenha muita gente, mas qualidade, que as pessoas que estão realmente queiram estar ali”.

Lugar seguro

Thays Pretti, do clube de leitura Bons Casmurros, conta que o mesmo foi formado em 2013 e segue firme até hoje. Apesar de ser aberto a todos os gêneros e promover literatura produzida tanto por homens quanto por mulheres, dos 51 membros atuais do clube, apenas 14 são do sexo masculino. 

Thays acredita que, socialmente, as mulheres têm mais necessidade desse “espaço de acolhimento social” do que os homens. “O clube de leitura acaba sendo um espaço muito seguro, onde as pessoas são encorajadas a colocar a opinião delas sem um julgamento. E acho que isso não é uma situação comum em todos os lugares. Em muitos lugares, a opinião da mulher não é bem-vinda”, diz. “Mas se o homem chega aberto a dar sua opinião da mesma forma que as outras pessoas e respeitar os demais participantes, ele vai ser tão bem-vindos quanto”. 

Dos 51 membros atuais do clube Bons Casmurros, que já existe há mais de uma década, apenas 14 são do sexo masculino./ Foto: Arquivo pessoal

Os membros se reúnem uma vez a cada três semanas e a seleção de livros é feita por semestre, sempre com pelo menos um romance e um livro de contos, porém incluindo outros gêneros, como poemas e teatro, para que as pessoas possam ter contato com outros tipos de texto. “Um dos objetivos do clube de leitura é justamente abrir um pouco a perspectiva, ampliar esse campo de leituras possíveis, por meio de textos que as pessoas, talvez, não buscassem por conta própria”, diz Thays.

Desde 2017, metade dos livros lidos pelos Bons Casmurros são escritos por mulheres. A seleção é com base na indicação dos membros e a escolha final é feita por votação entre aqueles que participam ativamente. A participação no clube é gratuita e os encontros para debater os livros são no Atari Bar, aos sábados à tarde. A agenda fica disponível no instagram – para participar, é só chegar. 

Apesar da predominância feminina, o público é variado. A mais nova participante tem 18 anos e há aqueles com mais de 70. “Temos pré-vestibulandos, aposentados, professores, gente da física, da economia, de várias áreas, mas que se juntam pelo interesse em comum pelos livros. O debate é de percepções, das relações feitas da história com outros temas, sociais, políticos, pode ir em vários sentidos”, explica. 

Assim como percebido em outros clubes, ali também o  livro acaba sendo um pretexto para as pessoas se encontrarem, mas a troca de ideias por meio das discussões estabelecidas ajuda a criar laços. “A leitura, geralmente, é uma atividade solitária, mas ela não precisa permanecer solitária. A gente pode trocar com outras pessoas e essa troca de percepções é enriquecedora para ampliar sua visão de mundo, sua percepção estética das coisas, sua ética, sua moral, não só pela leitura, mas pelas discussões que são feitas ali”, diz Thays.   

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