Produtores buscam Indicação Geográfica para o café da região de Maringá

Produtores de café de Mandaguari, na região de Maringá, se mobilizam para pleitear junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) o selo de Indicação Geográfica (IG) para o grão produzido no município. O trabalho será voltado para conquistar a IG por denominação de origem. Isso significa que o país, cidade, região ou localidade territorial designe produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos.
O grupo de 30 produtores conta com o apoio da Prefeitura de Mandaguari e do Sebrae Paraná, que atuam para custear o processo, capacitar e organizar uma associação local para o setor.
O cafeicultor e empresário Fernando Lopes, da Fazenda Bela Esperança, em Mandaguari, diz que o projeto é muito importante, pois formaliza um processo no qual Mandaguari já vem se destacando há muitos anos. “O café de minha família sempre se classifica entre os primeiros em concursos, tanto de nível estadual como nacional. Nós, através de nossa empresa (Café Bela Esperança), anualmente realizamos dias de campo trazendo ideias, tecnologias e soluções para os produtores de café. Em 2015 sediamos, juntamente com outras instituições o Encontro Estadual da Cafeicultura em nossa sede, onde mostramos o que Mandaguari tem de bom para oferecer para a cafeicultura. O Sebrae sempre foi parceiro nosso, desde o início de nossa torrefação”, diz.
O produtor conta que desde a abertura das terras a família cultiva café e já estão na terceira geração, treinando os sucessores. São 66 alqueires de café, todos mecanizados, onde se usa tecnologia de fertirrigação em 25 alqueires, manejo e colheita mecanizados. E os cafés especiais também são parte do cultivo na Bela Esperança.
“Produzir café especial é uma arte. Depende de clima, cuidados, localização da propriedade. Temos todos esses fatores em nosso favor na fazenda. Quando temos um ano com clima menos chuvoso na colheita temos de 20 a 30% de cafés de alto padrão de bebida e tipo”, diz.
Quem também procurou o Sebrae para ter orientação sobre o que fazer para conseguir a IG, foi o produtor rural Fernando Rosseto, do Sítio Eliza, entendendo que a união dos produtores nessa busca vem ao encontro da oportunidade de fomento da produção local com qualidade, além de estímulo ao turismo rural.
O Sítio Eliza é gerido pela quarta geração da família. São 30 alqueires de café, sendo que da safra 30% são grãos especiais. “Há tendência de crescimento do café especial no mercado. Nesse sentido, ter o selo para a produção local pode levar diversos produtores a conquistar novas perspectivas”, comenta.
Denominação de origem

Mandaguari possui café característico devido a atributos como lavouras familiares, prevalente entre os produtores, além de solo e localização. A terra roxa da região resulta de decomposição de rochas basálticas, ricas em nutrientes, como o ferro, responsável pela cor avermelhada.
“Nosso solo, por ser de origem basáltica, ou seja, originária da lava dos vulcões, tem característica de ser muito fértil e proporcionar para as lavouras de café condições ideais a ter bebida e grãos únicos, o que nos habilita a ter uma IG definida”, diz o produtor Fernando Lopes.
Segundo o produtor Fernando Rosseto, a qualidade da terra requer pouca adubação para plantas bem nutridas. “A região é atravessada pelo Trópico de Capricórnio, que traz um equilíbrio térmico, com dias quentes e noites frias. Sobre a altitude, entre 600 e 650 metros, alguns consideram baixa. Mas a latitude alta (posição em relação à linha do Equador) compensa. Temos uma temperatura ideal”, explica Rosseto.
O produtor afirma que o resultado é um café de sabor equilibrado, enquanto outras regiões cafeeiras precisam fazer blends (misturas) para a bebida oferecer mais notas sensoriais. “O café da região não precisa ser blend pois já possui corpo, acidez equilibrada e notas que puxam mais para o cítrico, caramelizado, amendoado e notas de chocolate”, completa.
E o futuro do café em Mandaguari depende muito da sucessão familiar. É o que destaca o produtor Fernando Lopes. Segundo ele, outro fator que conta muito é o incentivo de politicas públicas, na qual Mandaguari tem desde o ano de 2013, com o programa de revitalização da cafeicultura. “Essas politicas são determinantes, pois atualmente somos o município da região com as melhores lavouras e praticamente todas mecanizadas”, destaca,
O trabalho
Segundo o consultor do Sebrae Paraná, Luiz Carlos da Silva, com a parceria do Instituo de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), da Cocari e da Prefeitura, o trabalho começou com a sensibilização de agricultores.
“Foi realizado o diagnóstico e planejado o processo que exige a criação de um caderno de especificações, que determinará as melhores práticas de plantio, colheita, entre outros. A organização de uma associação dos cafeicultores é o próximo passo”, explica o consultor.
O secretário de Meio Ambiente e Turismo de Mandaguari, Eduardo Abilio Elias Rifan Nunes, diz que o objetivo é organizar o setor para um café de qualidade e para construir uma rota do café.
“A região já foi a maior produtora de café do Brasil, mas a geada de 1975 devastou as plantações e a liderança mudou. Queremos resgatar a potencialidade do município, favorecer o aumento de produções de qualidade e o turismo rural. Com a IG, será possível agregar valor e atrair produtores para um mercado especial”, observa.
IGs do Paraná
O Paraná possui atualmente nove produtos com registro de IG: Bala de Banana de Antonina, Melado de Capanema, Goiaba de Carlópolis, Queijo de Witmarsum, Uvas de Marialva, Café do Norte Pioneiro, Mel do Oeste, Mel de Ortigueira, Erva-mate São Matheus, do Sul do Paraná.
