Capuz preto até o joelho, botas, chapéu camurça grande e escuro e um semblante extremamente sério e fechado. É assim que José Clementino da Silva, 49 anos, chega até as ocorrências policiais e ou envolvendo acidentes trágicos para buscar cadáveres em Maringá e região.
Imagine encontrar um homem vestido assim na rua e ele ainda lhe dizer: “se cuide, senão eu vou te buscar!”. Assustador, não? Foi por isso que o homem que recolhe corpos em Maringá ganhou vários apelidos, o mais conhecido é de “Zé da Morte”.Depois de tudo isso que escrevi você deve estar imaginando um homem misterioso, assustador e sombrio, certo? Mas não. Tire tudo isso da sua mente porque o Zé da Morte é um homem humilde, simples e de um coração enorme. Faz qualquer coisa para ajudar ao próximo.
José Clementino da Silva já coletou mais de 1.500 corpos em Maringá e região. Ele não é frio, mas consegue coletar um corpo, independentemente da situação em que o cadáver está, com muita tranquilidade e sem absorver nada da cena triste.“É como se eu tivesse pegando um objeto comum mesmo. Minha intenção é fazer o meu serviço da forma mais profissional possível para ajudar na perícia. Depois que coleto o corpo aí a atenção total é para a família que está por perto e sofrendo muito. É um momento muito difícil para quem perdeu um ente e eu tento fazer essa dor ser o menor possível”, comentou José Clementino da Silva, o Zé da Morte, ao GMC Online.Zé da Morte mora em Maringá, é viúvo e tem um filho de 13 anos. Sempre gostou muito de estudar e de se envolver com a ciência, por isso, já concluiu vários cursos superiores, dentre eles, Matemática, em uma universidade pública de Paranavaí; e Física e Química na UEM, onde atualmente estuda Biotecnologia.
“Estudo bastante mesmo e não tenho vontade de parar. E não estudo para exercer essas profissões. O que quero é agregar conhecimento para a minha área. É um caminho que trilhei para a minha vida como objetivo e estou trilhando. Teve alguns imprevistos no percurso, parei um tempo, mas sigo minha meta”, contou Silva.
Curiosidades sobre a profissãoJosé disse que não existe uma técnica para recolher corpos. Não se tem um estudo ou manual para fazer esse tipo de serviço, mas cada situação exige um pouco de experiência e jogo de cintura.
“Já teve corpos deu chegar no local e me deparar com uma mega porção de carne moída, por exemplo. Me desculpe o jeito de me expressar mas é para todos entenderem como pode ficar um corpo depois de um acidente grave ou atropelamento. Numa situação dessa é juntar cada migalha de corpo e colocar num saco e levar para o IML”, explicou.
Zé diz que nunca sentiu medo de cadáveres e ou de alguma situação. Ele sempre entendeu que é apenas um corpo.
“Não tem nada ali. Alma, espírito, já foram tudo. É só um corpo que precisa ser levado para o IML e periciado. Nada demais”, acrescentou.
E o homem que recolhe corpos não tem medo algum de morrer.
“Morte não é pra ter medo. É uma realidade que simplesmente corta uma existência para outra. Por isso que eu sempre digo que temos que aproveitar o máximo do que estamos fazendo aqui. Morreu você vai pra um outro intervalo, ou começo”, disse.
Situação paranormalEm 20 anos de carreira, uma situação deixou Zé da Morte, pela primeira vez, intrigado. Foi um acidente na entrada de Mandaguari, onde um casal morreu na hora após ter o teto do carro arrancado por outro veículo que perdeu o controle na rodovia e voou sobre a pista contrária.O casal que estava no banco da frente teve as cabeças decepadas e, as crianças que estavam no banco de trás, sobreviveram. O caso deixou Zé muito pensativo.
“Rapaz como que pode um carro voar por cima de outro, passar e arrancar as duas cabeças exatamente do mesmo jeito? O carro ficou completamente destruído e duas crianças sobreviveram. É uma situação paranormal. Esse caso eu fiquei meses pensando e repensando como pode ter ocorrido aquilo. Como um carro voa naquela altura e arranca o teto todinho do outro? Foi assustadora a cena”, relembra.
Uma vida dedicada à segurança pública no ParanáO Zé da Morte já trabalhou como soldado na Polícia Militar, foi investigador e agente de carceragem na Polícia Civil e motorista do Instituto Médico Legal (IML) de Paranavaí. Atualmente é auxiliar de perícia no IML de Maringá, função que lhe permite ajudar nas perícias e fazer o que mais gosta: coletar cadáveres.
“Eu amo mesmo minha profissão. Sem o nosso trabalho no IML não existe conclusão de investigação. O IML está na ponta. Então a gente precisa estudar mesmo, aprender e fazer um bom trabalho para que a sociedade tenha uma resposta sobre determinado crime”, afirmou.
Zé da Morte tem muitos sonhosJosé Clementino da Silva tem ainda um longo caminho a percorrer para chegar ao seu maior sonho: ser perito criminal. Ele se sente pronto para a função, mas aguarda a abertura de concurso público para tentar entrar. Outro sonho que ele pretende realizar em breve é o de cursar medicina.
“Não quero ser médico para ganhar dinheiro, fazer fortuna. Nada disso. Minha fase disso já passou. Mas quero fazer medicina para adquirir mais conhecimento e ajudar quem não tem acesso à medicina. Me oferecer para fazer atendimentos de graça. Não adianta estudar, estudar e estudar e não fazer nada em troca pela sociedade. Seria tudo em vão”, disse muito empolgado com o próximo vestibular para medicina da UEM.
O último desejoEm vida, Zé da Morte já deixou registrado um último desejo: quer que seu corpo seja doado para uma universidade. “Doei em vida, registrado em cartório, o corpo para estudos. Tenho a escritura de doação guardada comigo em casa”, completa.
Mas enquanto isso, caso não queira receber a “visita” de Zé da Morte, é melhor seguir à risca o principal conselho dele:“Se cuide, senão eu vou te buscar!”.
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