Sabor de nostalgia: cafeteria traz de volta cappuccino gelado que marcou memória maringaense


Por Brenda Caramaschi
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“Eu tenho essa bebida na memória da minha infância, da minha adolescência”, dizem os clientes de Massao Tsukada ao beberem o cappuccino gelado com a mesma receita de mais de 20 anos./ Foto: Arquivo Pessoal

No dia 31 de janeiro do ano 2000 era inaugurada a primeira livraria “mega store” do Paraná. No segundo piso do shopping Aspen Park, em Maringá, uma loja de mais de mil metros quadrados abrigava milhares de livros, cds, dvds e uma cafeteria com mais de 100 lugares. 

A loja seguia uma tendência que ganhava força pelo Brasil e pertencia ao grupo Bom Livro, uma rede de livrarias e papelarias que tinha quatro unidades em Maringá, duas em Londrina, uma em Ponta Grossa e uma estrutura atacadista. Nas mesas da cafeteria e nas poltronas espalhadas pela mega store, era comum ver pessoas gastando horas folheando as páginas de um bom livro – ou de vários deles – enquanto apreciavam um (igualmente) bom café. Porém, com o calor do noroeste paranaense, entre o leque de produtos oferecidos na cafeteria da Bom Livro, um fazia mais sucesso e se tornou o carro-chefe das vendas: o capuccino gelado. “Nós chegávamos a vender, em média, 400 cappuccinos gelados por dia”, conta Massao Tsukada, dono do estabelecimento. 

De olho na tecnologia que o novo milênio trazia, a cafeteria era, na verdade, um “cyber café”, com computadores disponíveis para que o cliente pudesse acessar a internet e testar jogos ou CDs de multimídia. Aliás, o próprio ambiente de uma cafeteria já era inovador, uma vez que, na época, pouco se viam máquinas de café espresso, mal se falava em cafés especiais, e café, fora de casa, se tomava em bares e padarias. Para as novas gerações, que carregam consigo o acesso à internet, jogos e dezenas de aplicativos nas palmas de suas mãos, e têm a possibilidade de trabalhar em seus notebooks dentro de uma das dezenas de cafeterias espalhadas pela cidade, é até difícil visualizar o ambiente de anos atrás. E foi justamente por conta dessa transformação do mercado que o estabelecimento acabou fechando as portas.

Mas o sabor daquele cappuccino ficou na memória de muita gente. “Cada vez que encontrávamos amigos, a clientela que frequentava a livraria, diziam ‘a gente não encontra mais cappuccino como o de vocês’”, diz Tsukada. No final de 2023 Massao Tsukada abriu uma nova cafeteria – bem menor do que a anterior, com apenas 15 lugares na área interna, na Rua Neo Alves Martins, quase esquina com a Duque de Caxias, no coração de Maringá. E é claro que a bebida gelada estava no cardápio do novo negócio. 

“Naquela época tínhamos uma clientela que era de estudantes, crianças, pais que levavam os filhos, e hoje aparecem todas essas pessoas que trazem suas famílias porque têm lembrança, mais de 20 anos depois, do cappuccino gelado. Elas dizem ‘eu tenho essa bebida na memória da minha infância, da minha adolescência’. Nós vendemos um pouco dessa nostalgia, dessa lembrança, aqui na cafeteria. São as lembranças boas que nos estimulam a tocar esse empreendimento”, afirma. E a bebida com sabor de nostalgia ainda vende bem. “Quando abrimos, chegamos a vender mais de 100 cappuccinos em minutos”. 

Quando as temperaturas baixaram, outros produtos começaram a sair mais, mas é o termômetro subir, que o produto gelado retoma o posto de mais vendido. A receita produzida na La Cafeteria, ele garante, é a mesma que era servida quase 25 anos atrás no shopping. O segredo, segundo o dono, está na qualidade dos ingredientes. “Um bom sorvete de creme, um chocolate de boa qualidade, cafés especiais e algumas misturas mais”, enumera, sem revelar como produz o diferencial que mora na memória do maringaense. 

A bebida gelada servida na antiga livraria ainda está disponível para quem quiser levar seus próprios livros e passear pelas páginas enquanto se delicia com o cappuccino. / Foto: Clube do Livro Borboleta Azul

E por mais que hoje seja muito mais comum ver telas em vez de páginas nas mesas da cafeteria, Massao diz que bons leitores também são bem vindos e convidados a levar também para a nova loja, a companhia de um livro para acompanhar a bebida. Aí, é ele, que por tanto tempo viveu entre os títulos literários, quem “viaja no tempo” e mata a saudade. 

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