Saiba porr que o maringaense puxa o R

Tão no DNA do maringaense quanto o cachorrão prensado com maionese verde está o jeito de falarrr. Basta abrir a boca para entregarrr que é de Maringá.
A explicação para o maringaense não falar como curitibanos, ponta-grossenses e cascavelenses está na colonização. A maior parte dos primeiros moradores de Maringá veio do interior de São Paulo e do sul de Minas Gerais, atraídos pelo solo fértil. O foco dos pioneiros era o plantio de café, cultura que não vingou como se esperava em razão de revezes climáticos, como a geada negra de 1975, que dizimou as lavouras.
Embora o sonho dos cafezais tenha sido interrompido, outra cultura permaneceu quase intacta: o jeito de falar, com o chamado R do interior ou, para os linguistas, retroflexo. Esse termo técnico faz menção ao movimento da língua, que se dobra para trás ao pronunciar o R, como em porrrta aberrrta, carrrne verrrmelha, chegarrr e sairrr.
Segundo o historiador João Laércio Lopes Leal, da Gerência de Patrimônio Histórico Cultural do município, apesar de Maringá também ter tido gaúchos e catarinenses entre os pioneiros, prevaleceu o R como falamos hoje. “Mesmo as pessoas que vieram do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina incorporaram essa forma de pronúncia, que meio que se tornou hegemônica no norte do Paraná.”
- LEIA TAMBÉM – “Pior”, “véi”, “fí”... entenda algumas expressões do peculiar dicionário maringaense
Apesar da forte influência do interior paulista, nem só do R puxado se construiu o sotaque local. Há inegável presença de outras referências geográficas. “A mistura da forma paulista, gaúcha, catarinense e mineira faz com que o nosso jeito de falar tenha diferenças sutis, como o ritmo e a pronúncia de algumas letras”, diz o historiador. “São pequenas diferenças que são frutos da fusão de vários sotaques regionais.”
De acordo com o historiador, já houve quem tentou associar o R puxado a uma suposta influência britânica. A justificativa seria o fato de Maringá ter sido loteada e comercializada pela Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), pertencente a um grupo empresarial de Londres.
Entre os britânicos da CTNP que ficaram para a posteridade em nomes de logradouros, estão o agrimensor Geoffrey Wilde Diment e o diretor-gerente Arthur Thomas. “Não havia tantos ingleses na colonização, tinha um ou outro, que não influenciaram no nosso modo de falar; é mais uma lenda.”
O historiador ressalta o valor cultural do jeito de falar do maringaense, que não deve ser visto como uma pronúncia simplória, mas rica em significado sobre as nossas origens. “O nosso modo de falar é a nossa identidade”, diz. “Tem gente que acha que é capiau, jeca, algo inferior, mas não devemos nos envergonhar.”
