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25 de novembro de 2024

Sergio Moro: ‘Maringá é fantástica; tenho ido menos do que gostaria’


Por Monique Manganaro, com Redação GMC Online e CBN Maringá Publicado 05/06/2019 às 14h04 Atualizado 22/02/2023 às 17h55
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Maringaense de 46 anos, o ex-estudante da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, falou com exclusividade ao Portal GMC Online na manhã desta quarta-feira (5).

Por telefone e direto do gabinete, em Brasília (DF), o ex-juiz da Lava Jato comentou os desafios no comando da pasta, falou da relação com Maringá e também respondeu sobre a possibilidade de concorrer à Presidência da República ou de assumir uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF).

Quando foi a última vez que visitou a cidade?

“Eu tenho ido a Maringá menos do que eu gostaria. Infelizmente o trabalho tem sido muito intenso. Quando eu morava em Curitiba, era um pouquinho mais fácil, dada a proximidade, mas agora está um pouco difícil. Já faz um bom tempo, acho que mais de um ano, que não vou a Maringá.”

O que mais gosta, o que mais te traz lembranças em Maringá?

“Passei toda minha infância, adolescência e a época da faculdade [em Maringá]. É uma cidade fantástica, muito bem estruturada, um povo simpático e eu tenho vários amigos aí. Gostaria até de voltar mais. Embora a cidade seja, como eu disse, muito agradável, o que acaba me atraindo mais a Maringá, evidentemente, é a possibilidade de reencontro com os amigos.”

Pretende voltar a morar em Maringá futuramente?

“Quem sabe… Está um pouquinho complicado no momento, mas quem sabe no futuro.”

Qual foi a importância de Maringá para a sua formação humana e profissional?

“Meu pai era professor na Universidade Estadual [de Maringá], então eu tinha um vínculo muito forte. Depois eu fiz o curso de Direito e tenho grande apreço pela universidade, até preciso voltar um dia e fazer uma visita. Acho que ela tenha uma grande relevância. Hoje, existe uma série de faculdades privadas aí, mas no passado era basicamente a UEM. Então, foi um motor para o desenvolvimento, importante para a região de Maringá.”

Maringá ficou na 30ª colocação no ranking das cidades mais seguras do país, segundo um estudo da consultoria Macroplan. A segurança maringaense pode servir como um exemplo a ser seguido nacionalmente?

“Nós temos um problema sério de segurança pública no país, indicativos bastante ruins. Aparentemente, tem havido uma queda bastante expressiva do índice de criminalidade desde o início do ano, mas ainda sim os índices são muito ruins. Claro que aqueles locais onde os índices são melhores podem servir como exemplo, mas o grande desafio, realmente, é principalmente reduzir índices de homicídios, de roubos, esses crimes mais graves naqueles centros e regiões metropolitanas. Eu não sei se o que é feito em matéria de segurança em Maringá seja facilmente transferível para outras localidades, mas, é claro, sempre pode ser observado.”

Qual a importância da aprovação do pacote anticrime proposto?

“Dentro das estratégias do ministério, quando eu assumi aqui, o compromisso foi nós sermos firmes contra o crime organizado, corrupção e criminalidade violenta, porque os três fenômenos estão relacionados. Dentro dessa estratégia, nós apresentamos esse projeto e temos lá um certo endurecimento do tratamento penal, mas também o aprimoramento de medidas de investigação e [de] tornar o processo mais rápido, isso é fundamentalmente importante. Além disso, a ideia era mostrar, desde logo, [que] o governo veio com a intenção de combater essa criminalidade, [que] há um projeto robusto desde o início. Paralelamente, nós temos tomado uma série de medidas executivas na mesma direção. Estamos trabalhando firme em relação a isso, mas o projeto anticrime faz parte dessa estratégia de endurecimento em relação a criminalidade mais grave.”

O senhor se arrependeu em algum momento, ou duvidou que tenha tomado uma sábia decisão, ao deixar a Justiça Federal para trabalhar como ministro de Estado?

“É um grande desafio. Eu fui juiz federal por 22 anos e na minha carreira já tinha trabalhado em área de crime organizado, até cível no passado, e depois, mais recentemente, com esses casos envolvendo grande corrupção. Eu achei que um ciclo tinha se encerrado e vi na perspectiva de assumir um cargo elevado no governo federal, como ministro da Justiça e Segurança Pública, a possibilidade de: consolidar os avanços anticorrupção, que eram importantes, mas sempre trabalhamos lá com uma sombra de retrocesso e com a possibilidade de nós perdermos esses avanços, [então] como ministro, vislumbrei a possibilidade de não só funcionar como anteparo ao retrocesso, mas igualmente avançar; e, da mesma forma, também avançar e aprimorar o enfrentamento do crime organizado e da criminalidade violenta. Então, é um grande desafio. Esse desafio, por si só, e a possibilidade de avançar, representam uma grande satisfação e não há esse arrependimento. Claro que o trabalho é diferente do trabalho de juiz, mas igualmente dá grande satisfação quando nós conseguimos ir realizando, ainda que com dificuldades, obtendo algumas conquistas.”

O presidente Jair Bolsonaro defendeu a indicação de um evangélico para a próxima vaga dentro do Supremo Tribunal Federal. O senhor espera ser indicado a uma vaga no STF?

“Na verdade, não existe uma vaga no Supremo Tribunal Federal, então, esse debate é absolutamente prematuro. Quando surgirem vagas, aí o presidente vai realizar a escolha dele e eu não tenho nenhuma pretensão no momento de ser escolhido. Acho que isso não é apropriado. Eu estou pensando agora no meu trabalho como ministro. Então, o importante é fazer um bom trabalho, afinal, é para isso que os contribuintes pagam o meu vencimento, e não pensando em um futuro incerto e distante.”

Qual a chance de o senhor concorrer à presidência da República em 2022?

“Isso é ainda mais insólito. Nós acabamos de sair de uma eleição presidencial, foi uma eleição difícil, o novo governo ainda está no seu início, com vários projetos, várias reformas. Então, é absolutamente inapropriado nós discutirmos agora eleições de 2022 ou mais adiante. Nós temos que trabalhar com o que nós temos aqui e agora.”

O humor e o imediatismo das redes sociais interferem de alguma maneira no seu trabalho?

“As redes sociais constituem, de certa maneira, uma novidade na política e são um meio de comunicação importante. A imprensa também tem o seu papel, bastante relevante, mas a rede social propicia, muitas vezes, uma comunicação direta do agente político com as pessoas. É apenas um meio. Influencia como qualquer outro, como influencia a imprensa. Então, ela não deve ser nem demonizada e nem tratada como algo de valor absoluto. Alguma influência [no trabalho], sim, mas claro que o governo não pode tomar as decisões com base exclusivamente no que aparece na rede social. Há uma diferença entre o que é veiculado e o que as pessoas desejam. Claro que também é errado um governante ignorar a opinião pública, ele tem que levar em consideração, mas o objetivo, a função dele é tomar a melhor decisão. Agora, a opinião pública sempre influencia, seja pela imprensa, seja pela rede social, mas ela não é determinante.”

O Brasil tem jeito?

“Certamente. Às vezes nós superdimensionamos as dificuldades momentâneas, mas nós temos que ver que hoje o Brasil é uma democracia constitucional consolidada. Existe a construção de princípios e valores importantes que são compartilhados pela população brasileira. Embora nós tenhamos nossas divergências, nossas convergências são muito maiores. Nós temos esse desejo de liberdade, de igualdade, esse espírito fraternal. Uma característica importante do povo brasileiro é a tolerância. É um povo que não manifesta o seu ódio, se não ocasionalmente. Em geral, o povo brasileiro é extremamente pacífico. Claro que nós temos dificuldades, problemas de economia, a questão da segurança pública, mas dentro desse compartilhamento de valores, especialmente valores democráticos, não há por que nós não possamos seguir adiante.”

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