Trabalhar com números de pessoas infectadas é fundamental para podermos ter uma política de combate a pandemia com eficiência. O diagnóstico tem papel vital neste contexto. Quanto mais rápido detectarmos e quantificarmos o número de pessoas contaminadas a política de administração da estrutura de saúde e comportamento social é mais ágil e gera mais resultados. Resumindo, a melhor decisão é sempre aquela feita sobre dados precisos.
O que temos agora, segundo levantamento da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) são subnotificações. A dificuldade de disponibilizar testes para a maioria da população e de processar os resultados dos que estão em análise acaba por dar uma dimensão que pode ser 12 vezes menor do que a realidade. Enfim, segundo levantamento da PUC-RJ nós estamos lidando com a ponta do iceberg. Quando ele emergir em números de casos com tratamento necessário isto pode gerar um caos.
Quando a Covid-19 iniciou sua trajetória em terras brasileiras, seguiu o caminho já encontrado por uma série de problemas de saúde pública que nos acompanham há um bom tempo. Nossa estrutura de combate a epidemias nunca demonstrou eficiência. A dengue está aí e não parece que vá sair tão cedo. O número de pessoas na fila de espera por atendimento especializado, cirurgias e internações já existia antes do coronavírus.
Conter a pandemia ou administrá-la sem que se provoque uma onda que venha a desmantelar a frágil estrutura de saúde é uma missão quase impossível. O problema não é o coronavírus, mas sim o ambiente em que ele se propaga. Nossa doença em relação ao descaso com a saúde da população vem de longa data, é congênito. Assim como o comportamento da população em relação a sua própria saúde. Os maus hábitos também fazem a condenação ser uma via de mão dupla.
O que a pesquisa da PUC-RJ mostra é que as subnotificações nos faz lidar com uma percepção limitada do problema, com uma falsa realidade. Que para alguns interessa e para outros condena. Neste ambiente tendencioso a relaxar diante do mal maior e de se acostumar a aceitar o que é oferecido, somos uma paciente a espera de tratamento em uma sala de espera assistindo a TV que nos distrai do que realmente está a nossa frente, o socorro que nunca virá. Já acostumados, esperamos maravilhados com o espetáculo o destino certo.