10 de março de 2025

De sobrevivente da 2ª Guerra a missionária em Maringá: Irmã Maria Johannita completa 100 anos


Por Brenda Caramaschi Publicado 02/02/2025 às 08h18
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Irmã Maria Johannit
Irmã Maria Johannita, da congregação das Irmãs Missionárias do Santo Nome de Maria, chegou à Maringá antes mesmo do primeiro bispo e completou 100 anos de vida. Ela mora no Lar Rainha da Paz, onde a data foi celebrada com missa e com festa./ Foto: Arquivo pessoal

No dia 26 de janeiro de 2025, a Irmã Maria Johannita, da congregação das Irmãs Missionárias do Santo Nome de Maria, completou 100 anos de vida. Ela chegou a Maringá antes mesmo do primeiro bispo, no ano de 1957, vinda da Alemanha. E foi durante a guerra, na terra natal, que ela teve certeza de sua vocação. A primeira inspiração para a vida religiosa veio de uma tia, freira da Congregação de São Francisco de Sales, que também era enfermeira, e vivia na América do Norte. “Eu disse: tia e eu quero ser como você. A minha tia respondeu, ‘olha, você tem que rezar para ganhar vocação. A escola era perto da igreja e eu ia lá rezar” 

Enquanto a menina rezava pedindo a Deus para seguir os passos da tia, viu o país ser dominado pelos nazistas, que faziam chacota de sua fé. “O que é que era que nós escutávamos às vezes na escola? Nós aprendemos que terço serve para amarrar cachorro. Essas coisas do nazismo era tudo contra a religião. E depois veio a guerra”. 

Irmã Maria Johannita: ensinamentos da guerra e a decisão de uma vida

Um ano depois do fim da Segunda Guerra Mundial, que ceifou a vida de duas de suas irmãs, Maria Johannita decidiu deixar o emprego que tinha como telefonista e entrar para a congregação – uma decisão que chocou muita gente. “Falei no emprego ‘escuta, eu quero sair’, e ouvi ‘você é doida?’”, conta, rindo. “Eu larguei o trabalho, fui para o convento e estou ainda aqui. Queria ajudar os outros, porque na guerra, a gente aprende alguma coisa: um é dependente do outro, um ajuda o outro. Então, essa coisa foi gravada. É preciso ajudar o outro”

A irmã estudou enfermagem na Suécia, se preparando para seguir os passos da tia que a inspirou, mas antes de concluir a formação, foi enviada pela congregação para o Brasil, mais precisamente, para Maringá, no Noroeste do Paraná. A cidade, assim como toda a região, estava ainda em formação e lutava com as dificuldades do início do progresso. Na chegada, se deparou com uma das muitas geadas que afetaram a produção cafeeira, décadas antes da fatídica “geada negra“. “Era um buraco dentro do mato. Quando desembarcamos, aqui tinha aquela geada horrível. Queimou todo o café e o povo ficou mais ou menos na penúria, né? Comia o que tinha. E nós chegamos aqui. O que vamos fazer aqui agora?” 

Em Maringá, a Irmã só exerceu a enfermagem por oito dias, cobrindo férias no Hospital Santa Casa. Foi designada para ser catequista na Paróquia São José Operário e no início de 1960 foi transferida para Ubiratã, para desempenhar a mesma missão – uma função que ela nunca pensou em exercer, mas por meio da qual conseguiu ajudar muita gente, inclusive com seus conhecimentos como enfermeira. “O pároco veio e disse: ‘escuta, você não quer ser catequista?’ Eu? Catequista? Eu não! ‘Mas você quer participar na formação de catequista?’ Essa eu quero, mas obrigação de depois ser catequista depois, isso eu não quero.” O diálogo que aconteceu no início da vida religiosa, na Alemanha, se tornou irônico, depois que a catequese ocupou boa parte da vida da Irmã.

“Na catequese vem a família com crianças e a gente sabia mais ou menos as coisas de doença, né? Por exemplo, uma criança que sempre vai na farmácia, compra, compra, compra antibióticos e a criança não sara. E eu falei: o que vocês compram? Sempre o mesmo remédio, a criança já fica resistente, né? Vai para o médico, não faz uma coisa dessa. Então a enfermagem servia, e às vezes muito.”

Vocação e longevidade

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No Lar Rainha da Paz, em Maringá, Irmã Maria Johannita comemora 100 anos de uma vida plena./ Foto: arquivo pessoal

Há 25 anos, Irmã Maria Johannita vive no Lar Rainha da Paz. Em 80 anos de vida religiosa, nunca pensou em ter uma vida diferente dessa. “Me encontrei, e encontrei firme. Tenho essa vocação de ser religiosa. Outro caminho não tem”. 

Hoje, quem tanto trabalhou, descansa. Mas diz que o segredo para uma vida longa e plena é não ter preguiça, principalmente de fazer o bem. “O que sai de uma pessoa que vive de preguiça? Vida sem sofrimentos, vida sem problemas, não existe. Mas dá pra viver bem. Segura na mão de Deus em tudo que acontece, em tudo que aparece. Segura a mão de Deus, vai!”, aconselha a religiosa que completou um século de vida feliz e convicta de que sempre esteve no lugar certo.

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