Um túnel submerso tem se tornado uma excelente alternativa para conectar dois locais separados por regiões aquáticas, como mares e rios. O maior exemplo existente atualmente é o Eurotúnel, inaugurado em 1994. Seus 50,45 quilômetros de ferrovia submarina conectam o Reino Unido e a França, atravessando o Canal da Mancha.
Na América do Sul, um túnel ainda mais antigo foi capaz de interligar duas cidades separadas pela natureza. O Túnel Subfluvial ‘Raúl Uranga – Carlos Sylvestre Begnis’ foi inaugurado em 13 de dezembro de 1969 e, a partir de então, possibilitou a travessia entre as cidades de Santa Fé e Paraná (não confunda com o estado brasileiro), na Argentina, que são separadas pelo Rio Paraná.
Diferentemente do modelo europeu, o Túnel Subfluvial comporta uma rodovia para o trânsito de veículos de diferentes portes. Sua extensão é de 2.937 metros, feito em pista simples, com uma faixa para cada sentido.
A estrutura foi a primeira do continente em suas características e significou a primeira ligação rodoviária entre a Mesopotâmia Argentina (região formada pelas províncias de Misiones, Corrientes e Entre Ríos, compreendidas entre o Rio Paraná e o Rio Uruguai) ao resto do país hermano.
Além disso, o túnel se mostrou fundamental para o crescimento das proximidades do rio, a região metropolitana de Santa Fé-Paraná, entre as províncias de Santa Fé e Entre Ríos. Esta região possui densidade populacional próxima de um milhão de pessoas a cada 25 km².
A escolha pelo túnel
As obras foram iniciadas em 1962, após o firmamento do acordo entre Raúl Uranga e Carlos Sylvestre Begnis, governadores das províncias de Entre Ríos e Santa Fé, respectivamente, e que dão nome ao projeto.
Para que o fluxo de navegação do Rio Paraná não fosse prejudicado, optou-se pelo túnel em detrimento de uma ponte. Segundo o projeto do Túnel Subfluvial, a escolha possibilita maior transitoriedade constante e fluida de veículos, além de ser menos propensa a manutenções.
Estima-se que, diariamente, cerca de 12.613 veículos transitem pela via de comunicação entre Santa Fé e Paraná. O acesso para a estrada passa por uma cobrança de pedágio, que custa em torno de ARS$ 600 (pesos argentinos), aproximadamente R$ 3,49 na cotação atual, mas varia de acordo com a altura e o número de eixos do veículo.
Dentro do túnel, a velocidade mínima permitida é de 40 km/h, enquanto a máxima é de 60 km/h. Assim, é possível atravessar toda a extensão do túnel em cerca de três minutos.
Operação
Administrado pelos dois governos provinciais, o Túnel Subfluvial conta com um centro de operações com pessoal especializado, que monitora a via 24 horas por dia.
A área técnica do túnel conta com câmeras, sistema de amplificação sonora com auto-falantes para avisos, sensores para medição de monóxido de carbono dentro (gás altamente tóxico emitido na combustão dos veículos), sensores de visibilidade que regulam o alcance visual, sistema elétrico reserva com funcionamento a diesel e luzes de emergência.
A sinalização do trânsito é feita com 108 semáforos, distribuídos em um grupo de quatro a cada 100 metros de extensão da via. Na mesma distância, existe um nicho com hidrantes e extintores.
Para controle do rio, em cada cabeceira do túnel há uma cisterna de 25 mil litros, onde é armazenada a água da chuva que entra pelas rampas. De lá, a água é bombeada novamente para o rio. Além disso, o Rio Paraná é monitorado mensalmente com equipamentos GPS e sondas batimétricas. Em caso de cheias de rios, os controles e a frequência são intensificados.
Museu
É possível conhecer o ‘Museo del Túnel Subfluvial’, na cidade de Paraná, em uma visita guiada que mostra a história e os processos de construção do túnel, além de uma passagem pela Sala de Controle. O passeio é gratuito.
A disponibilidade das reservas para as visitas precisam ser consultadas pelo WhatsApp 0343-5010924 ou pelo e-mail <visita@tunelsubfluvial.gov.ar>.
Brasil poderá ter dois projetos semelhantes
Projetado a quase um século, o túnel para interligar as cidades de Santos e Guarujá, no litoral paulista, pode sair do papel. No dia 29 de outubro, o governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sancionou o projeto de lei que autoriza a contratação da parceria público-privada (PPP) para a construção, operação e manutenção do Túnel Imerso Santos-Guarujá.
A expectativa é de que o edital seja publicado no segundo trimestre de 2025, com o término das obras em 2028. O projeto compreende um túnel com extensão de 870 metros submersos no mar, em um investimento público e privado de aproximadamente R$ 6 bilhões.
A obra dará mais agilidade para travessia entre as duas cidades, hoje feita por rodovia ou pelo sistema de balsas. Atualmente, as balsas transportam 78 mil pessoas e cerca de 20 mil veículos por dia. A travessia, que hoje demora cerca de 18 minutos, além do tempo de espera de ao menos 15 minutos (depende das condições do clima e da passagem de navios pelo estuário) poderá ser feita em 5 minutos.
O túnel também contará com circulação para ciclistas e pedestres, em seis vias de pista, com três faixas por sentido, sendo uma delas adaptável ao Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).
Santa Catarina
Na semana passada, o governo de Santa Catarina também avançou na continuidade do projeto do túnel submerso no Rio Itajaí-Açu, entre as cidades de Itajaí e Navegantes, no litoral norte do estado.
O projeto – que teve um vídeo de apresentação divulgado – compreende um túnel de 300 metros submersos no rio, com circulação de veículos, pedestres e ciclistas. Serão seis faixas de pista, uma delas exclusiva para o BRT com ônibus elétricos.
Ainda sem firmar uma PPP, as obras estão sem data de início, mas possuem previsão de cinco para a conclusão. O investimento total, com recursos públicos e privados, será de R$ 136 milhões.