Em livro, Arautos do Evangelho contestam intervenção do Vaticano e apresentam documentos inéditos

O livro “O Comissariado dos Arautos do Evangelho: Crônica dos fatos 2017-2025 – Punidos sem diálogo, sem provas, sem defesa”, lançado neste ano, reacendeu o debate sobre a longa intervenção do Vaticano na associação religiosa Arautos do Evangelho. Organizada pelo canonista José Manuel Jiménez Aleixandre e pela filósofa Juliane Vasconcelos Almeida Campos, a obra apresenta mais de 700 páginas de documentos, pareceres e análises que buscam esclarecer oito anos de impasses entre a instituição e a Santa Sé.
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O lançamento ganhou projeção após receber destaque em uma análise do vaticanista italiano Andrea Gagliarducci, que classificou o caso como um exemplo de como, segundo ele, a ideologia pode se sobrepor aos fatos dentro da própria estrutura eclesiástica, gerando decisões que afetam diretamente a vida de centenas de religiosos e famílias.

A obra revisita a intervenção determinada pelo Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada, então liderado pelo cardeal brasileiro João Braz de Aviz. Mesmo após uma visita apostólica com relatório considerado favorável, o dicastério instaurou o comissariado em 2019, impondo restrições severas aos Arautos do Evangelho, presentes em 78 países.
Desde então, a associação está impedida de ordenar novos diáconos e sacerdotes, admitir membros e abrir casas, o que bloqueou mais de cem vocações e paralisou sete turmas de seminaristas. O livro destaca que todos os processos civis e canônicos abertos contra a instituição — inclusive os amplificados pela imprensa brasileira, como reportagens da Rede Globo – Fantástico — foram posteriormente arquivados ou resultaram em absolvição.
Gagliarducci define a situação como um “processo kafkiano”, no qual os investigados não conhecem claramente as acusações formais que justificariam tamanhas sanções. Os autores reforçam essa crítica ao afirmar que jamais receberam explicações oficiais completas sobre as razões da visita apostólica ou da nomeação do comissário.

O livro também traz documentos que contestam acusações envolvendo menores e rituais de exorcismo, esclarecendo que se tratavam de orações de cura autorizadas pelo bispo local. Apesar disso, a intervenção permanece vigente e, segundo a obra, gera “prejuízos morais, espirituais e materiais” tanto para os religiosos quanto para as famílias envolvidas.
Com a ascensão do Papa Leão XIV e seu discurso inicial marcando um pontificado voltado à transparência e à reconciliação, cresce a expectativa de revisão do caso. Para estudiosos e fiéis, o livro se torna um marco documental que pode influenciar os próximos passos do Vaticano. Segundo seus organizadores, a publicação não busca confrontos, mas sim lançar luz sobre os fatos, resgatar a boa fama da instituição e impedir que situações semelhantes voltem a ocorrer.
