‘Entender como o autista enxerga o mundo ainda é um desafio’, afirmam especialistas

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo convivem com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Somente no Brasil, são 2 milhões de indivíduos com a síndrome, que atinge, em média, uma a cada 88 crianças. Para conscientizar a população sobre o assunto, a Organização das Nações Unidas (ONU) celebra, desde 2007, o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, que é comemorado nesta sexta-feira, 2 de abril.
E mesmo com tantas campanhas, informações e dados, falar sobre o autismo nos dias de hoje ainda é um desafio. Para especialistas, ainda falta sensibilidade por parte da sociedade em entender como a síndrome funciona, tentar enxergar o mundo sob os olhares de quem convive diariamente com o TEA.
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Em entrevista ao GMC Online, a psicóloga e supervisora clínica Catia Michele Martini falou um pouco sobre o assunto. A especialista esclarece alguns pontos sobre o autismo e ressalta a importância de um diagnóstico precoce para o tratamento.
“O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta algumas áreas do desenvolvimento do indivíduo, em especial sobre a parte social da criança comparado com outras da mesma idade. […] Atualmente, os médicos e especialistas da área estão estudando mais esse transtorno. Para se fechar um diagnóstico, existe um trabalho multidisciplinar, com um médico responsável, que é um psiquiatra ou neurologista infantil”, contou.
Segundo Martini, devido aos avanços nos estudos sobre a síndrome nos últimos anos, atualmente é possível realizar um diagnóstico de autismo em uma criança já nos primeiros meses de vida.
“O diagnóstico está saindo mais cedo, por conta da divulgação (da síndrome) e da atenção dos pais. […] Hoje, já conseguimos fechar um resultado com 4 ou 5 meses de vida de uma criança”, explicou.
‘Uma síndrome que não tem rosto‘
Apesar do autismo demandar acompanhamento médico especializado, existem alguns sinais que os pais podem observar nos filhos. De acordo com a profissional, crianças com TEA possui mais dificuldade de contato visual e de se comunicar de forma “não verbal”.
“Os sinais mais importantes para os pais estarem observando são o contato visual, aquela expressão ou sorriso que o adulto faz e não tem retorno da criança. Uma atenção compartilhada, quando o pai ou a mãe tenta mostrar algo para essa criança e ela não acompanha o que está sendo mostrado no apontar. Pode-se observar também um “brincar” mais funcional, quando o paciente brinca com partes de um brinquedo, mas ele não entende o brincar como um todo. Tem crianças, por exemplo, que vão direto na roda do carrinho, mas não faz o barulho de um carrinho, o movimento de um carrinho”, relatou Catia.
A também psicóloga Bruna Medeiros do Santos lembra que o autismo é uma “síndrome que não tem rosto”, por não trazer no indivíduo características físicas específicas, o que torna mais difícil não só o diagnóstico, mas a compreensão por parte da sociedade.

“Nós costumamos dizer que o autismo é uma síndrome que não tem rosto, justamente por não trazer características físicas, o que faz com que para as pessoas entenderem do porquê a criança se comporta daquela maneira seja mais difícil, diferente de outros transtornos e síndromes. Em outros casos, as pessoas enxergam que o indivíduo tem alguma coisa por observarem algum traço específico, enquanto o autismo não trás isso. É algo que tentamos bater bastante na tecla, conscientizar as pessoas sobre o assunto”, afirmou.
A importância do tratamento adequado
Catia e Bruna atendem no Centro Maringaense de Desenvolvimento Infantil (Cemadi) que, semanalmente, presta acompanhamento para cerca de 50 crianças com o Transtorno do Espectro Autista. Nesta semana mundial de conscientização sobre o tema, o Cemadi realiza uma campanha em suas plataformas digitais, que vai desde posts informativos e lives com especialistas, até sorteios de livros que tratam sobre a temática. Todo o material está disponível e pode ser acompanhamento através do Facebook e Instagram oficiais da entidade.
Para as especialistas, o tratamento adequado é a melhor maneira de proporcionar ao portador de autismo ter uma vida mais funcional.
“Hoje, temos tratamentos que visam o desenvolvimento funcional dessa criança, para que ela tenha uma vida mais funcional possível, a partir de vários marcadores e comparados com o desenvolvimento em si. Falamos de um tratamento de boas habilidades”, finalizou Martini.
Além do atendimento presencial, o Cemadi Maringá também disponibiliza tratamento terapêutico em domicílio. Para mais informações, basta entrar em contato através do (44) 3122-4283 ou por e-mail (acesse aqui).
