Ilha das Cobras: explorador visita pequena e proibida ilha brasileira tomada por 15 mil serpentes; ‘sinistro’
A Ilha da Queimada Grande, situada a cerca de 35 km da costa de Itanhaém, em São Paulo, é famosa mundialmente pelo apelido de “Ilha das Cobras”. Com uma área de aproximadamente 43 hectares, a ilha é reconhecida por abrigar uma das maiores densidades de serpentes venenosas do planeta. Estima-se que cerca de 15 mil exemplares da jararaca-ilhoa (Bothrops insularis) vivam no local, cuja entrada é restrita e proibida ao público em geral. Ao g1, o biólogo Eric Comin disse que já visitou a unidade de conservação algumas vezes e admite: não desembarcaria mais no local.
“São muitas serpentes. A partir do momento que você começa a subir a mata, que é fechada, para onde você olha, vê algumas serpentes. Em cima, no tronco [sobre] sua cabeça, ao lado, só que elas são extremamente tranquilas”, disse.
Jararaca-ilhoa: Essas cobras só existem na ilha
Devido ao isolamento da ilha, que teria se separado do continente há cerca de 10 a 11 mil anos, a jararaca-ilhoa desenvolveu características únicas, diferenciando-se das jararacas continentais (Bothrops jararaca). As adaptações incluem uma coloração amarelada e um tamanho ligeiramente menor, variando entre 0,5 e 1 metro. Entretanto, o Instituto Butantan aponta que essa espécie pode atingir até 2 metros de comprimento.
“Geralmente nessas expedições você fica alguns dias na ilha, então sobe com equipamentos, com água e com tudo mais. Essas [cobras] não são agressivas, são bem tranquilas, elas não vêm para cima [da gente], elas só te olham, aquela coisa de te olhar nos olhos, é bem interessante“, afirmou o biólogo ao g1, destacando que teve contato muito próximo com essas jararacas. “Superlegal, uma coisa bem bacana, só que é sinistro. É um animal lindo de se ver, é bem legal mesmo”
Para se alimentar, a jararaca-ilhoa adapta-se à escassez de presas terrestres na ilha e caça principalmente aves migratórias que pousam no local. Sua habilidade de viver em árvores — uma característica exclusiva entre as cobras brasileiras — permite que ela alcance essas presas facilmente. Além disso, o veneno da jararaca-ilhoa evoluiu para ser altamente potente, sendo estimado em até 20 vezes mais tóxico do que o veneno de jararacas comuns. Em casos de picadas em humanos, o veneno pode ser letal em até seis horas, destacando a eficácia dessa adaptação para capturar suas presas.
História e conservação da Ilha da Queimada Grande
A história da Ilha da Queimada Grande remonta a 1532, quando foi mencionada durante a expedição do militar português Martim Afonso de Souza. No final do século 19, a Marinha do Brasil instalou um farol na ilha para auxiliar a navegação, que era mantido por faroleiros que residiam temporariamente ali, enfrentando o perigo das cobras venenosas. Durante esse período, o governo realizou várias queimadas na tentativa de reduzir a população de serpentes, o que deu origem ao nome “Queimada Grande”. Com a automatização do farol na década de 1920, o local foi abandonado, e desde 1985 é protegido como Unidade de Conservação Federal.
Pesquisadores do Instituto Butantan estudam a jararaca-ilhoa desde 1911, com o objetivo de desvendar os mistérios biológicos e farmacológicos dessa serpente única. Esses estudos exploram a possibilidade de uso do veneno em aplicações medicinais, dada sua alta potência e especificidade. Além da jararaca-ilhoa, a ilha também abriga a jararaca-dormideira (Dipsas mikanii), que contribui para a biodiversidade do local.
A Ilha da Queimada Grande é considerada uma das áreas com maior densidade de cobras por metro quadrado no mundo, sendo comparável apenas à Ilha de Shedao, na China. Contudo, a ilha paulista possui a maior densidade populacional de uma única espécie de serpente.
Com informações do Metrópoles, parceiro do GMC Online