O jovem Vitor Braz de Souza, indígena de 21 anos, foi morto com um tiro no pescoço nO domingo, 13, após reclamar do barulho de uma festa que ocorria em Porto Seguro, no sul da Bahia. Ele havia ido ao local acompanhado de vizinhos da Aldeia Novos Guerreiros, onde vivia. O caso está sob investigação da Polícia Civil do Estado.
O caso aconteceu três horas após Vitor e o cacique da aldeia, Roberto Pataxó, terem ido à festa, chamada Sigilo Fest, que ocorria numa casa, negociar o desligamento do som às 23h. O acordo não foi cumprido e, como o filho chorava, sem conseguir dormir, Vitor pediu silêncio novamente. O cacique e três moradores o acompanharam.
Eles foram recebidos com violência, contou Thyara Pataxó, de 30 anos, amiga da vítima. “Começou uma discussão e uma pessoa deu um tapa na cara de Vitor, que revidou. Quando ele virou de costas, recebeu um único tiro no pescoço. Estamos indignados, Vitor era um jovem trabalhador, carismático, da luta”, contou.
Depois de ser atingido pelo disparo, Vitor chegou a ser levado para o Hospital de Luís Eduardo Magalhães, em Porto Seguro, mas não resistiu. Nenhum suspeito foi preso. A prefeitura de Porto Seguro informou que a festa não tinha sido liberada pelo município. A reportagem tentou contato com a produção do evento, mas não obteve retorno.
É a segunda morte de um indígena, em menos de um mês, no extremo sul da Bahia, segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). No dia 22 de fevereiro, Josimar Silva foi assassinado a golpes de facão na Aldeia Meio da Mata. O autor do crime também não foi localizado, nem as circunstâncias do crime foram elucidadas. “É uma sequência de violência devido à anuência das autoridades públicas e que tende a aumentar”, afirma Domingos Andrade, missionário do Cimi.
A 1º Delegacia Territorial de Porto Seguro investigará o crime. A Aldeia Novos Guerreiros não é demarcada e a Fundação Nacional do Índio (Funai) não se pronunciou sobre a morte.
As festas no Território Indígena Ponta Grande, em Porto Seguro, onde está a Novos Guerreiros, se tornaram mais frequentes nos últimos dois anos, com o boom turístico no sul da Bahia. A Aldeia é habitada por 150 famílias, entre elas a de Vitor, formada por ele, a esposa e um bebê de apenas 30 dias.
Depois de Vitor ser atingido, a música continuou alta, segundo Thyara, e havia gritaria. “Mas não era de desespero, era de festejo”, frisa. O corpo de Vitor aguardava liberação no Instituto Médico Legal (IML) de Eunápolis, cidade vizinha, e será velado no centro da aldeia.