Justiça nega pedido de sigilo feito por defesa de homem preso por atropelar mulher em SP
A Justiça de São Paulo negou o pedido de sigilo para o processo que investiga a tentativa de feminicídio de Tainara Souza Santos, de 31 anos, que foi atropelada e arrastada por cerca de um quilômetro na Marginal Tietê. O pedido, que havia sido feito pela defesa do motorista do carro, Douglas Alves da Silva, de 26 anos, por conta de ameaças, foi negado pela juíza Paula Marie Konno, da 2ª Vara do Júri. A vítima teve as pernas amputadas e está internada.
“Assim, não há, ao menos neste expediente, qualquer imagem, vídeo ou informação que possa justificar a decretação do segredo de justiça como requer o d. Advogado e o afastamento da publicidade garantida constitucionalmente”, afirmou a magistrada na decisão.
O advogado do motorista, Marcos Leal, disse ao Estadão que não vai recorrer. “Eu pedi o sigilo porque estava tendo banalização dos vídeos da audiência de custódia e isso gerou efeitos nefastos até para mim. Estou entrando com quatro queixas-crime por ameaça, injúria e difamação. O pedido não era com a finalidade de esconder qualquer coisa”, afirmou.
Segundo ele, a preocupação da defesa no momento é “zelar pela integridade física” de Douglas e para que “ele tenha um julgamento justo”. Leal disse que esteve com o cliente no sábado, 6, e que ele não havia recebido atendimento médico desde o dia da prisão, no domingo, 30 de novembro. O Estadão entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública (SSP) sobre o atendimento médico ao preso e aguarda retorno.
“Minha preocupação é com saúde e integridade física dele. Não tinha tido nenhum atendimento médico até o sábado. Está todo machucado, com ferimento a bala no braço, sem qualquer curativo e condições de higiene”, afirmou. “Ele é réu confesso do ato e diz que não conhecia a mulher. Foi um crime horrível, ninguém coaduna com isso, mas tem que dar o mínimo de assistência, está há dez dias sem curativo, com faixa dada por outro preso”, contou o advogado.
Ainda segundo o defensor, a polícia alegou que o tiro foi disparado no braço de Douglas após ele reagir à prisão. O advogado, porém, diz que o cliente nega que tenha reagido.
Leal diz ainda que Douglas relatou em audiência de custódia ter sido torturado por agentes e afirmou que teria permanecido com feridas abertas pelo corpo, sem receber atendimento médico adequado. Questionada anteriormente sobre as supostas agressões, a SSP informou que a abordagem “cumpriu todos os requisitos necessários e foi realizada dentro dos parâmetros de legalidade”. A Justiça manteve a prisão após audiência de custódia e Douglas está preso no 26º Distrito Policial do Sacomã, na zona sul da capital paulista.
Na decisão em que negou o pedido de sigilo, a juíza determinou, com urgência, que o responsável pelo local da prisão prestasse informações atualizadas sobre o estado de saúde do homem e sobre os atendimento médicos realizados.
Atropelamento
Testemunhas relataram que o crime aconteceu após uma discussão motivada por ciúmes, no sábado, 29 de novembro. De acordo com os advogados que representam a família de Tainara, Wilson Zaska e Fabio Costa, a jovem estava em um bar na Avenida Tenente Amaro Felicíssimo da Silveira, na região da Vila Maria, quando o suspeito iniciou uma briga com um homem que a acompanhava.
Imagens de câmeras de segurança mostram Tainara e Douglas discutindo na rua, já fora do bar. Momentos depois, o suspeito entra em um carro preto, acelera e atropela a mulher, que fica presa sob o veículo. Em seguida, já na Marginal Tietê, ele segue dirigindo enquanto a vítima é arrastada pela via. Um segundo vídeo, obtido pelo Estadão, registra o momento em que o carro trafega com Tainara ainda presa, sendo arrastada.
A jovem só se desprendeu do veículo depois que o suspeito passou pela calçada de um posto de gasolina, a aproximadamente um quilômetro do local inicial do atropelamento. Ela foi socorrida por testemunhas e levada ao Hospital Municipal Vereador José Storopolli, em estado grave. Tainara, mãe de duas crianças, precisou amputar as duas pernas em decorrência das lesões. Na quinta-feira, 4, Tainara foi transferida para o Hospital das Clínicas.
A defesa de Douglas afirma que ele não conhecia a vítima e que teria na verdade tentado acertar o carro em um homem com quem teria brigado no bar e de quem teria ouvido ameaça de morte. Já os advogados da família e parentes da vítima apontam que Silva já teria tido um relacionamento breve com a jovem no passado.
Um amigo de Douglas, que estava no carro com ele, afirmou em depoimento aos investigadores que, após atropelar a vítima, ele chegou a acelerar o carro com o freio de mão puxado para aumentar a pressão do veículo com o chão e ferir ainda mais Tainara.
Douglas foi preso um dia após o crime em um hotel na zona leste da capital. De acordo com a polícia, ele reagiu à abordagem, sofreu um tiro no braço e foi detido na sequência. Conforme as investigações, o rapaz tinha planos de fugir para o Ceará, onde vivem os seus pais.
