Popular remédio para febre e dor que você tem em casa se torna principal causa de falência do fígado
O Paracetamol é um remédio amplamente conhecido e utilizado para aliviar dores e reduzir febres. Entretanto, seu uso inadequado, com superdosagens, tem preocupado autoridades nos Estados Unidos, Reino Unido e Brasil, pois o remédio pode levar à falência do fígado. De acordo com a BBC, algumas estimativas apontam vendas de 49 mil toneladas desse medicamento ao ano nos Estados Unidos, ou seja, 298 comprimidos por americano a cada 12 meses. Já no Reino Unido, a média é de 70 unidades desse fármaco por pessoa durante o mesmo período.
A BBC apurou que de acordo com a FDA, entre os anos de 1998 e 2003, as overdoses de paracetamol foram identificadas como a principal razão por trás da ocorrência de falência hepática aguda nos Estados Unidos. Em 48% desses incidentes, a overdose foi acidental, uma vez que as vítimas ultrapassaram inadvertidamente o limite diário recomendado.
Um estudo realizado em 2007 pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos projetou que a overdose de paracetamol resulta em cerca de 56 mil visitas a salas de emergência, 26 mil hospitalizações e 458 óbitos anualmente.
Outros estudos indicam que o paracetamol é responsável por até 45% dos casos de falência hepática nos Estados Unidos e por 60% dos episódios similares registrados no Reino Unido. Até o momento, não há uma análise comparável disponível para o Brasil.
Popularidade no Brasil e venda livre
No Brasil, o Paracetamol ocupa a 19ª posição na lista dos princípios ativos mais comercializados, figurando entre os 25 medicamentos sem prescrição mais populares, de acordo com a Anvisa. Dados do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Unicamp mostram um aumento significativo de 44% nos casos de intoxicação causada pelo uso indiscriminado do Paracetamol no país, entre 2020 e 2021.
No Brasil, a Anvisa já publicou diversos alertas sobre o consumo indiscriminado do paracetamol e os efeitos disso na saúde. “O uso indiscriminado de paracetamol pode levar a eventos adversos graves, incluindo hepatite medicamentosa e morte. Uma vez utilizado para alívio de dores e febre, devem ser observadas a dose máxima diária de paracetamol e o intervalo entre as doses recomendado em bula, para cada faixa etária”, alertou a Anvisa em 2021.
“O uso do medicamento deve ser feito com cautela, sempre observando a dose máxima diária e o intervalo entre as doses, conforme as recomendações contidas na bula, para cada faixa etária”, orienta a agência em comunicado de 2021.
Recomendações:
Conforme a Anvisa, deve ser observada a dose máxima diária de paracetamol, conforme a bula do medicamento:
- Adultos e crianças acima de 12 anos: A dose máxima é de 4 gramas em um dia.
- Crianças entre 2 e 11 anos: Não deve ser utilizado mais de, 50-75 mg/kg, em um dia (24 horas).
- Para crianças abaixo de 11 kg ou 2 anos ou com menos de 20 kg: consulte o médico antes de usar.
O que diz a empresa
Após a publicação da reportagem da BBC News Brasil , a Kenvue (empresa desmembrada a partir da Johnson & Johnson que é responsável pelo Tylenol) se posicionou por meio de nota e ressaltou que “a saúde e a segurança das pessoas são as principais prioridades”. Leia a seguir na íntegra
“Tylenol, cujo princípio ativo é o paracetamol, tem mais de 60 anos de história clínica que apoiam sua segurança e eficácia. A bula do medicamento contém instruções importantes de uso, incluindo limites de dosagem, precauções e advertências para situações específicas. Como acontece com qualquer medicamento, as pessoas devem ler e seguir cuidadosamente a bula de Tylenol e consultar seu médico se tiverem dúvidas”, diz o texto.
”O Tylenol é um dos medicamentos mais utilizados e estudados no mundo e sua segurança e eficácia são comprovadas por centenas de estudos clínicos publicados em revistas científicas de diversos países. No Brasil, o paracetamol faz parte da lista nacional de medicamentos essenciais, pois seu princípio ativo é uma das opções mais indicadas para o alívio seguro e eficaz da dor”, conclui a empresa.
A Associação Brasileira da Indústria de Produtos para o Autocuidado em Saúde (Acessa) enviou nota após a publicação afirmando que defende “o uso de MIPs [medicamentos isentos de prescrição] e produtos para saúde de forma responsável e o letramento em saúde, que é a busca de fontes confiáveis de informação para que uma pessoa possa tomar melhores decisões sobre a sua saúde”.
“Paro o uso seguro de um medicamento isento de prescrição, é necessário sempre consultar antes as informações da bula e do rótulo do produto. Além de estarem disponíveis na própria embalagem dos MIPs, essas informações também estão disponíveis no site da fabricante do medicamento e no bulário eletrônico da Anvisa. E vale sempre reforçar que, em caso de dúvidas, o médico e o farmacêutico devem ser consultados, sendo importantes aliados na promoção do uso racional dos MIPs”, acrescentou a assessoria de imprensa da associação.