Por que no frio nós levamos choque ao encostar em pessoas e objetos?

Quem nunca se surpreendeu ao encostar em alguém, ou mesmo em uma torneira ou na maçaneta do carro e levar um “choque”? E, principalmente, no inverno, por que isso acontece? O GMC Online conversou com um físico para entender os motivos que levam ao incidente e, ainda, como podemos evitá-lo.
Ronaldo Viscovini, que é físico e professor do Departamento de Ciências (DCI) da Universidade Estadual de Maringá (UEM) em Goioerê, explicou que toda vez que dois objetos atritam entre si, os átomos se “esfregam”, um perde e outro ganha carga elétrica.
Contudo, dependendo de determinados materiais, especialmente certas roupas, as pessoas podem acumular mais cargas elétricas. Assim, quando encostam em algum objeto, ou outra pessoa, para as cargas se equilibrarem, elas se movem. E é aí que ocorre o choque.
“Quando você está utilizando muitas roupas por causa do frio, por exemplo, e elas atritam com o corpo, essas cargas elétricas migram do corpo para a roupa e vice-versa e elas não têm como voltar, porque a roupa é um isolante elétrico. Então, a medida que você vai andando, vai se movimentando, cargas elétricas migram de você para a roupa e da roupa para você. Você e a roupa ficam eletrizados”, detalha o professor.
Ele afirma que o melhor isolante é o ar e que as roupas de frio têm bastante ar dentro delas, por isso são volumosas.
“Você fica o tempo todo se mexendo dentro da roupa e essas cargas vão se acumulando na roupa e em você. Quando você, por exemplo, vai eletrizado e encosta no carro, essas cargas passam de você para o carro e o choque é só quando as cargas se movem”, exemplifica Viscovini.
“Enquanto você está eletrizado, você não sente nada. Mas, na hora que você encosta em outra superfície, se dá a transferência. Então, você pode transferir para um carro, para uma maçaneta, para uma outra pessoa e aí é que dá esse choque”, complementa.
Mas, por que no frio temos a sensação de levarmos mais choques?
De acordo com o físico, o primeiro motivo são as roupas que utilizamos, que são mais isolantes e, consequentemente, fazem acumular mais cargas.
“Um outro fenômeno, é a umidade. O ar é um bom isolante, ele evita que as cargas se neutralizem. Se no ar tiver umidade, a umidade ‘rouba’ essas cargas. Então, quando o ar está úmido, não consegue carregar, você não consegue acumular cargas estáticas”, aponta.
“Agora, quando o ar está frio, que é comum no inverno, aí você consegue acumular mais cargas ainda. E choque acontece no momento em que você descarrega essas cargas. Acumula mais cargas e, quanto mais cargas, maior a intensidade do choque”, completa o professor da UEM.
Viscovini ainda comenta que diariamente vamos liberando aos poucos essa carga e, geralmente, nem percebemos. “O problema é quando você acumula ela e solta de uma vez só. Por isso que o choque acontece na forma de um ‘trá’ [som]. Estralo. De um ponto. Aí você tocou no objeto, você descarregou, você não dá mais choque”, diz.
Como evitar os choques
Primeiro, deve-se reparar no material que é constituída a roupa da pessoa. O algodão tem menos capacidade de reter cargas elétricas. Já os tecidos sintéticos, como poliéster e nylon, são melhores isolantes e conseguem reter mais carga.
Para diminuir o efeito do choque, o professor explica que a área de contato com o objeto deve ser aumentada. Se você encosta em apenas um ponto, as cargas se canalizam e o choque vem com mais intensidade. Por outro lado, se você encostar com a mão aberta, por exemplo, a intensidade do choque é bem menor, podendo até ser imperceptível.
“Então, quando você, por exemplo, vai abrir o carro, vai tocar o carro, no lugar de você tocar em um ponto, pegar uma chave e dar uma encostada, que toda a corrente fica em um ponto bem concentrado, melhor você, primeiro, colocar a mão inteira no carro. Dessa forma você descarrega de maneira que a sensação de choque é menor”, detalha o físico.
As pessoas sentem o choque da mesma maneira?
De acordo com Viscovini, cada pessoa tem uma sensibilidade diferente, então pode variar de pessoa para pessoa, mas também de situação em situação.
“O nosso principal isolante é a pele. Se a pessoa tiver um corte no dedo, alguma coisa, esse lugar em que a pele está fragilizada, ele vai canalizar a corrente. Então, naquele ponto, a sensação de choque é maior”, explica o professor.
Os fatores psicológicos também pode ser levados em consideração, uma vez que tem pessoas mais ou menos sensíveis ao choque.
Cuidado com o chuveiro elétrico
Apesar de ser uma situação diferente dos choques que levamos ao encostar em uma pessoa, o chuveiro elétrico deve ser motivo de atenção. Neste caso, não se tratam de cargas estáticas, mas de cargas em movimento.
O professor explica o funcionamento do chuveiro para nos alertar. “A corrente elétrica vem, atravessa a resistência do chuveiro e aquece a água. Uma parte dessa corrente elétrica pode ser conduzida pela água até o registro que abre e fecha o chuveiro e, dali, se alguém estiver encostado com ele, ela pode fluir para a pessoa e a pessoa leva o choque”.
“Para evitar isso, é importante que quando for instalar o chuveiro elétrico, no chuveiro tem um fio chamado fio-terra que tem que ser ligado em um condutor terra. Dessa forma, essa corrente que escapa da resistência, ela não virá para quem está abrindo a torneira ou não e, sim, será desviado para um local seguro”, alerta o físico.