Um homem de 27 anos, identificado como John Allen Chau, foi morto em 2018 por membros de uma tribo isolada que vive na ilha Sentinela do Norte, localizada no arquipélago de Andaman e Nicobar, no Oceano Índico. Chau foi atacado com flechas assim que desembarcou na ilha, que é proibida a visitantes, segundo pescadores locais que testemunharam o ocorrido.
De acordo com a imprensa, Chau era missionário cristão e pretendia evangelizar os aborígenes que habitam a ilha. No entanto, em declarações nas redes sociais e em uma entrevista anterior, ele também se apresentava como um aventureiro apaixonado por explorar novos lugares.
“Eu adoro explorar”, disse ele ao Outbound Collective, comunidade online de viagens de aventura, há quatro anos. “Seja fazendo trilhas pelas densas florestas próximas ao rio Chilliwack (na fronteira dos EUA com o Canadá), buscando uma lendária cachoeira nas selvas de Andaman, ou simplesmente vagando pela cidade para sentir a vibração, ‘sou um explorador de coração’.”
Relatos indicam que Chau teria subornado pescadores para transportá-lo ilegalmente até a ilha. Essa região abriga tribos isoladas cuja interação com o mundo exterior é proibida por lei. O objetivo dessa proibição é proteger os nativos tanto de doenças, às quais não possuem imunidade, quanto de impactos à sua cultura e estilo de vida.
“A polícia disse que Chau já tinha visitado a ilha Sentinela do Norte cerca de quatro ou cinco vezes com a ajuda de pescadores locais”, contou o jornalista Subir Bhaumik, que cobre a região há anos, à BBC.
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Os povos que habitam a ilha Sentinela do Norte vivem isolados há aproximadamente 60 mil anos. As autoridades alertam que esse isolamento torna os nativos extremamente vulneráveis a doenças comuns, como gripe e sarampo.
A organização Survival International, que atua em defesa dos direitos das tribos indígenas, enfatizou o risco trazido pela presença de Chau. Segundo a instituição, ele pode ter introduzido agentes patogênicos na comunidade, colocando em perigo a sobrevivência dos 50 a 150 indivíduos que compõem a tribo.
Entrada ilegal e tentativa de contato
As investigações revelaram que Chau partiu durante a madrugada com os pescadores que havia contratado e usou um caiaque para chegar à ilha. Ele teria levado presentes para os aborígenes, incluindo uma pequena bola de futebol, linha de pesca e uma tesoura.
Missionário ou explorador?
Apesar de ser identificado por algumas autoridades e pela organização International Christian Concern como missionário, a interpretação sobre sua intenção gera debate.
Dependra Pathak, diretor da polícia de Andaman, declarou ao site de notícias News Minute que Chau não era exatamente um missionário no sentido formal. “As pessoas pensaram que ele era um missionário porque ele tinha mencionado sua fé em Deus nas redes sociais. Mas em um sentido estrito, ele não era um missionário. Ele era um aventureiro. A intenção dele era conhecer os aborígenes.”
Chau descrevia-se no Instagram como “um sobrevivente de picada de cobra” e “paramédico da natureza selvagem”. Ele afirmava estar “seguindo seu caminho” enquanto explorador. Em uma entrevista de 2014 ao Outbound Collective, ele compartilhou como sua paixão por viagens começou na infância. “Meu irmão e eu (costumávamos) pintar os rostos com suco de amora silvestre e andar pelo quintal com arcos e lanças que fazíamos com pedaços de pau”, contou. “Desde então, a natureza tem sido minha casa.”
Ele também mencionou que sua inspiração vinha de Jesus e do missionário e explorador escocês David Livingstone. Além disso, revelou que sua meta era retornar ao arquipélago de Andaman e Nicobar. “Há muito para ver e fazer lá!”
Com informações da BBC