Veja a fraude que pode estar por trás da ‘semente misteriosa’ da China

A Embaixada da China em Brasília alertou nesta quinta-feira, dia 1º, sobre indícios de fraude verificados nos pacotes com semente de plantas, cuja origem é suspeita, enviados ao Brasil pelos correios. Etiquetas nas embalagens continham erros, comunicou a embaixada chinesa.
“Uma verificação preliminar constatou que as etiquetas de endereçamento apresentam indícios de fraude, com erros no código de rastreamento e em outros dados”, afirmou a representação diplomática da China, em nota oficial.
Brushing
A suspeita é que o envio de sementes tenha ligação com uma ação fraudulenta conhecida como “brushing”. Trata-se, essencialmente, do envio de mercadorias não solicitadas com o objetivo de registrar compras falsas.
Desse modo, o responsável pela fraude cria uma conta falsa e fica sabendo quando a encomenda (no caso a semente) chegou ao seu destino. Em seguida, ele faz uma avaliação positiva para a própria loja.
Essa é uma maneira de o vendedor ter melhores avaliações nos sites de compras online, fazendo com que seja melhor visto aos olhos dos consumidores e com que seus produtos fiquem em destaque nos resultados do Google e outros sites de busca.
Mas, para que serve a semente? Neste caso, ele somente tem a finalidade de não deixar o pacote vazio. Isso explicaria por que as autoridades até agora não encontraram sinais de tentativas de bioterrorismo ou contaminação.
O governo chinês disse estar disposto a “cooperar com a investigação de autoridades brasileiras”. Segundo a embaixada, sementes são artigo de envio proibido ou restrito para países da União Postal Universal, e os “Correios de China seguem rigorosamente as disposições e vetam o transporte postal de sementes”.
Nos últimos dias, moradores de Maringá e outras cidades do Paraná, além de Estados como Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rondônia e Distrito Federal relataram ter recebido sementes por via postal. Em Maringá, essas sementes chegaram a ser plantadas.

As pessoas que recebem as sementes alegam não terem feito as compras e não reconhecem os remetentes. Os pacotes tinham ideogramas chineses. Alguns chegaram junto a mercadorias compradas em sites asiáticos pela internet. Já foram pelo menos 36 casos, conforme o governo federal.
Houve relatos semelhantes nos últimos meses em países como Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido, entre outros na Europa. Autoridades norte-americanas identificaram sementes de hibisco, menta, alecrim, lavanda e mostarda, entre outras.
Restrições
O Brasil tem restrições e até proibições quanto à importação de sementes pelos correios, para garantir a segurança fitossanitária e evitar contaminações.
Em nota, o Ministério da Agricultura pediu que os pacotes não sejam abertos pelos destinatários. O alerta vale para recebimentos de qualquer país. Além da China, também chegaram pacotes originários da Malásia e Hong Kong. O governo pede que cidadãos entreguem as sementes nas unidades do Mapa nos Estados ou em órgãos dos governos estaduais e não plantem nem as descartem no lixo.
O ministério afirma que ainda não é possível apontar os riscos envolvidos às sementes que chegaram ao País e começou a investigar o caso. Amostras das sementes foram enviadas para o Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA), em Goiânia (GO), para análises técnicas.
“A importação de vegetais sem autorização pode introduzir pragas ou doenças que não existem ou estão erradicadas no País, além de causar prejuízos econômicos. Para evitar o risco fitossanitário, o Mapa atua no controle do e-commerce internacional com equipe dedicada a fiscalizar e impedir a entrada de material sem importação autorizada no país”, disse a pasta.
Nos Estados Unidos, aonde os pacotes também chegaram, o Departamento de Agricultura (USDA, em inglês) trabalha com a possibilidade de que as encomendas indesejadas também estejam relacionadas a fraude conhecida como “brushing”.