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28 de novembro de 2024

Novembro Roxo: Cuidado humanizado no tratamento de prematuros é destaque no H.U


Por Brenda Caramaschi Publicado 28/11/2024 às 17h01
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Equipe do H.U de Maringá, referência em cuidados aos prematuros, celebra o Novembro Roxo. / Foto: arquivo pessoal

O Novembro Roxo é o mês internacionalmente dedicado à conscientização sobre a prematuridade e prevenção do parto prematuro. Quando um bebê nasce antes de ter completado 37 semanas de gestação ele é considerado prematuro, exigindo um maior cuidado e olhar atento. O Brasil é o 10º país com mais partos prematuros no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e entre janeiro e agosto deste ano, 11,93% dos 81.496 nascidos vivos no Estado são prematuros, sendo 423 prematuros extremos, quando o nascimento ocorre antes das 28 semanas de gestação.

Um desses bebês foi Davi Lucas. A mãe pegou dengue quando estava com 27 semanas. A bolsa estourou. Na cidade da família, Santa Cruz do Monte Castelo (a 170 quilômetros de Maringá) não havia os recursos hospitalares necessários, por isso, a mãe foi transferida para Paranavaí e depois para o Hospital Universitário de Maringá. A intenção era tentar postergar o parto, mas a mãe pegou uma infecção e entrou em trabalho de parto. Assim que Davi Lucas nasceu, com 1,370kg, foi para a UTI neonatal, onde permaneceu por 66 dias. O Hospital Universitário de Maringá é referência em cirurgias neonatais e atende crianças que nasceram antes do tempo previsto em toda a macrorregião noroeste do Paraná. 

O trabalho para ajudar as crianças que nasceram antes do tempo a se desenvolverem é intenso e os índices de mortalidade entre os prematuros vêm caindo graças ao uso de novas tecnologias e ao cuidado humanizado que tenta adaptar as incubadoras para deixá-las o mais parecidas possível com o ambiente uterino ao mesmo tempo em que lida com as emoções de toda a família do bebê, que muitas vezes tem a rotina alterada e precisa passar longos períodos fora de casa. 

Os pais, Claudyelle e Jailson Terto, já haviam passado por uma situação parecida. A filha mais velha, Isabelly, também nasceu prematura. A sensação de aperto no peito e a ansiedade em ir embora com a bebê, naquela ocasião, no entanto, duraram bem menos. A menina, que nasceu com 36 semanas, ficou internada por 23 dias.  No caso de Davi, os dois precisaram se mudar para Maringá para ficar perto do bebê e deixar a filha mais velha com os avós. “Nesse período, o pessoal da UTI neo se tornou a nossa verdadeira família”. Nesse período, o casal ficou na casa da irmã de Claudyelle, que havia se mudado para Maringá no começo de 2024, mas nem todos os pais que vivem essa situação têm essa possibilidade.  Segundo especialistas, a presença dos pais junto aos bebês prematuros fortalece o vínculo e é importante para a recuperação, mas como lidar com os casos em que a família não tem parentes ou amigos na cidade e não pode arcar com os custos de uma hospedagem? Uma meta necessária, mas que ainda não tem prazo para chegar é a uma casa de apoio aos pais, que precisam acompanhar os filhos por longos períodos e não têm onde ficar. 

Maria Cristiana Pereira Farias Pinto é Coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, Semi-Intensivo Neonatal e Unidade Canguru do HU de Maringá explica que o hospital fornece todas as refeições aos pais que acompanham os prematuros, mas não tem um local adequado onde eles podem descansar. “Tem gente que dorme no carro todos os dias”. A Associação de Amigos do H.U tem feito promoções para poder construir uma casa com 35 leitos que possa acomodar famílias como essas. 

Tecnologia, cuidado e fé

A prematuridade tem grande impacto na mortalidade infantil sendo considerada problema de saúde pública com efeitos diretos sobre o desenvolvimento global da criança, por isso, a equipe que atende nesse setor é multidisciplinar, composta por médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, técnicos e outros profissionais. Do  monitoramento respiratório até a reabilitação motora, passando pelo apoio psicológico à família, tudo é pensado para que a criança não apenas sobreviva, mas tenha uma vida longa, saudável e sem sequelas. “Tem que fazer o controle luminoso, de ruído, colocar a mantinha em cima da incubadora para ele ficar quentinho, colocamos almofadinhas para que o bebê se sinta mais aconchegado e se lembre do útero”, explica Maria Cristiana. “A condição com que essa criança vai viver no futuro depende da sua mão”. 

As principais inovações tecnológicas nos últimos 20 anos foram nos respiradores usados pelas crianças recém-nascidas. “É algo muito específico, porque todo mundo faz as coisas para os grandes, e para o prematuro, o investimento é menor”, diz a coordenadora, falando sobre o desenvolvimento de novas tecnologias na área. Mas toda melhoria ajuda na missão de salvar vidas. “Hoje temos uma taxa de sucesso nos bebês a partir de 26 semanas em torno de 90 a 90% de sobrevida”, afirma Maria Cristiana. 

A evolução dentro do hospital é gradual: a UTI é para os quadros mais severos, com modalidade respiratória mais agressiva; no semi-intensivo ficam as crianças que normalmente conseguem respirar sozinhas e na unidade Canguru, ficam as crianças que já estão bem desenvolvidas, mas precisam ganhar peso, por isso ficam fora da incubadora, junto da mãe, no método canguru. 

Nessa fase de ganho de peso, principalmente, um grande aliado é o Banco de Leite Humano, que funciona no hospital. “Para a qualidade de vida dos bebês isso vai ser essencial, porque a separação da mãe e o bebê, dentro da incubadora, a produção de leite é prejudicada. As nossas doadoras que doam o leite salvam a vida dessas crianças. Se elas pudessem ir na UTI, ver a criança que recebeu o leite dela e ver que a criança cresceu e se desenvolveu, elas doariam o leite chorando de emoção pelo que elas estão fazendo”, afirma a coordenadora da UTI neonatal.

A principal ferramenta para fazer o número de nascimentos prematuros diminuir é o conhecimento da mãe em um acompanhamento pré-natal adequado. “Esse lado do mundo digital traz um benefício muito grande. Quando ela vê que ela tem um diagnóstico de infecção urinária por exemplo, ela já vai ler e vai ver que é preciso tratar para evitar o parto prematuro”, exemplifica Maria Cristiana

Apesar de toda a tecnologia envolvida e do cuidado integral, a equipe entende que, muitas vezes, o fato de os pais poderem levar as crianças para casa saudáveis é um verdadeiro milagre. “A gente atende vários exemplos em que as crianças sobreviveram só pela fé dos pais”. É o caso do Davi Lucas, que voltou para casa nos braços dos pais. 

O bebezinho nasceu com uma infecção que afetou os rins e precisou fazer diálise por 23 dias. “A equipe médica dizia que o normal era o bebê fazer a diálise por cinco, seis dias, e os rins dele voltaram a funcionar. Todos os dias a gente dobrava os joelhos na UTI e pedimos muito a Deus por ele”. A luta dos pais ainda envolveu ainda quatro outras infecções do bebê, sempre amparados pela equipe hospitalar. “Eles falaram que o que a medicina poderia fazer, eles estavam fazendo, mas quem poderia fazer algo pelo nosso filho era Deus, e hoje nós estamos em casa”.

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Quando Davi Lucas teve alta, o “pequeno milagre” ganhou festa de despedida da equipe do Hospital Universitário de Maringá. / Foto: arquivo pessoal

A equipe do hospital fez uma festa de despedida quando o “pequeno milagre” teve alta e, na cidade da família, eles foram recebidos com cartazes e fotos colados no portão de casa, comemorando a vida de Davi. “Os médicos sempre expuseram que a situação do nosso filho era gravíssima, nunca esconderam nada de nós, mas Deus fez um milagre. E eles sempre estavam preocupados em como estávamos nos sentindo, nos apoiaram em tudo. A fono ajudou o Davi Lucas a mamar, e após a alta, ele já foi encaminhado ao ambulatório para continuar o acompanhamento com pediatra, oftalmo, neuro, tudo isso devido à prematuridade. Eles se tornaram nossa família”.

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Depois de meses no hospital, família de avi foi recepcionada com cartazes e fotos no portçao de casa. / Foto: Arquivo pessoal

Melhorias no cuidado aos prematuros

Esta semana, a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) realizou uma capacitação abordando temáticas como: alta qualificada como cuidado compartilhado para seguimento na Atenção Primária em Saúde (APS), comunicação efetiva com os pais, vacinação para prematuros e atualização na reanimação neonatal. Participaram desse evento cerca de 100 pessoas das equipes multiprofissionais da saúde do Estado e o encontro teve como foco a redução das taxas de prematuridade no Paraná e a importância do cuidado especializado para os bebês. 

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Mês da prematuridade: Saúde reúne profissionais para discutir redução da mortalidade infantil
Foto: SESA-PR

Em dezembro de 2023, a Secretaria da Saúde do Paraná assinou o Pacto para a Redução da Mortalidade Materna e Infantil, com diversos órgãos e instituições paranaenses para a redução em 10% dos indicadores de mortalidade materno-infantil, até 2027. As ações deste pacto incluem utilização de protocolos clínicos e cadernetas de saúde; ampliação do acesso e qualidade nos serviços de pré-natal e de acompanhamento pós-parto; ampliação das coberturas vacinais em mulheres, gestantes, recém-nascidos e crianças; investimentos em equipamentos para todas as salas de parto e nascimento; implantação do Centro de Simulação Realística da Sesa e ampliação das capacitações de profissionais. 

Segundo a diretora de Enfermagem do HUM, Silvia Saalfeld, houve uma ampliação no número de leitos do Hospital, que passou de 6 para 10 leitos de UTI Neonatal em junho de 2023. A ampliação foi necessária para atender à demanda de assistência aos recém-nascidos prematuros. O Hospital, segundo a diretora, está com editais em andamento junto à Secretaria de Saúde do Paraná (SESA) e Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) para a promoção de melhorias na qualidade do atendimento neonatal a prematuros.

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