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23 de novembro de 2024

Oscar 2021: Os Curtas-Metragens de Documentário


Por Elton Telles Publicado 26/03/2021 às 18h00 Atualizado 19/10/2022 às 10h21
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Quando se fala em “filmes consagrados no Oscar”, é automático pensarmos nos longas-metragens. A razão disso é a regra ditada pela escala industrial cinematográfica, de que uma produção audiovisual, desde que seja comercial, precisa ter aproximadamente – ou no mínimo – 90 minutos de duração. Essa já é uma cultura adquirida pelo público.

Pois bem, voltando ao Oscar… A premiação é formada atualmente por 23 categorias, sendo 20 delas dedicadas aos longas-metragens (Melhor Filme, Melhor Direção, atuações, roteiros, departamentos técnicos, etc.) As outras três categorias reconhecem a produção de curtas-metragens ao redor do mundo, e são divididas pelo seu gênero/formato: Ficção, Animação e Documentário.

Nas próximas semanas, a coluna Favor Rebobinar vai comentar todos os filmes indicados nas três categorias de curtas-metragens do Oscar 2021.

Hoje, começamos por Melhor Curta-Metragem de Documentário. Em ordem de preferência, os indicados são…

DO NOT SPLIT
Direção: Anders Hammer
35 min.

“Do Not Split” acompanha por meses a fio a “Revolução dos Guarda-Chuvas”, como foi nomeada pela mídia as manifestações em 2019 lideradas por estudantes e jovens ativistas de Hong Kong. A intenção da marcha era lutar pela independência de seu território da República Popular da China.

Com uma linguagem próxima a um registro de guerra, principalmente pela câmera trêmula e imagens desfocadas, a equipe de cinegrafistas é ágil em captar os flagras dos protestos nas ruas. A brutalidade policial, o cerceamento dos protestantes e tantas outras emboscadas são mostradas pelo filme, inflado de tensão pela agilidade da montagem e pela coesão da trilha sonora eletrônica. O resultado é muito bem estruturado.

É particularmente emocionante o depoimento de uma garota que reflete o futuro comprometido da juventude que deu a cara a tapa nas passeatas pró-democracia. O roteiro do documentário avança o ano de 2020 e evidencia os efeitos da pandemia na interrupção dos protestos. Esperançoso, “Do Not Split” finaliza com uma mensagem bem clara, a de que esta guerra urbana não chegou ao fim.

“Do Not Split” está disponível com legendas em inglês no YouTube e pode ser conferido aqui.

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HUNGER WARD
Direção: Skye Fitzgerald
40 min.

Também ambientado em um cenário de batalha, desta vez a guerra civil no Iêmen –considerada pela ONU como a maior crise humanitária do mundo –, “Hunger Ward” mostra o intensivo trabalho de profissionais de saúde na ala pediátrica de dois hospitais, onde crianças são internadas por desnutrição. Muitas delas não resistem e morrem, e o documentário não esconde o luto dos familiares, nem o esgotamento emocional de médicas e enfermeiras na tentativa de salvar os pequenos. No entanto, como uma delas diz em algum momento, “se não perdemos as crianças para a desnutrição, perdemos para o bombardeio”.

Repleto de cenas chocantes, o filme não faz cerimônia em seu um caráter de urgência e traz à luz um país em ruínas e, como resultado, crianças inocentes diretamente afetadas pelos ataques desumanos, fruto da intervenção da Arábia Saudita, que, por sua vez, é financiada pelos Estados Unidos.

“Hunger Ward” é um curta-metragem extremamente incômodo e assinado pelo documentarista Skye Fitzgerald, que dedica o seu trabalho no cinema para elucidar as invasões e conflitos sociais em países de terceiro mundo, como fora com a Síria em “50 Feet From Syria” (2015) e com a Líbia em “Lifeboat” (2018).

“Hunger Ward” não está disponível em nenhuma plataforma, mas quem quiser conhecer mais sobre o filme e ajudar a causa, o site oficial pode ser acessado aqui.

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UMA CANÇÃO PARA LATASHA
Direção: Sophia Nahli Allison
19 min.

O nome Latasha Harlins estampou as manchetes de todo o mundo em 16 de março de 1991, dia em que a garota de 15 anos foi assassinada pela proprietária de uma loja de conveniência, em Los Angeles. A câmera de segurança do estabelecimento mostra com nitidez o tiro que a mulher deflagrou em Latasha pelas costas, e tudo por causa de uma caixinha de suco no valor de 1,79 dólar.

Estreia na direção de Sophia Nahli Allison, “Uma Canção para Latasha” propõe uma breve encenação e recortes de imagens com lugares familiares à prima e à melhor amiga de Latasha, que alternam a narração do curta. Experimental em algumas passagens, é especialmente interessante como a montagem acompanha o ritmo do texto, que recebe um tom cada vez mais intimista até culminar na desconcertante leitura de um poema escrito pela vítima. Fica o registro de uma densa e emocionante homenagem a mais uma vítima da intolerância.

“Uma Canção para Latasha” está disponível no streaming da Netflix.

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A CONCERTO IS A CONVERSATION
Direção: Kris Bowers, Ben Proudfoot
13 min.

Kris Bowers é um jovem pianista com uma carreira promissora pela frente. Suas composições podem ser conferidas nas trilhas do oscarizado “Green Book” (2018) e nas minisséries da Netflix, “Cara Gente Branca” (2017 – 2019) e “Olhos que Condenam” (2019), por exemplo. Bowers é negro e consciente de seu privilégio, de ser uma exceção em sua classe por ter conseguido concluir os estudos, ser aceito em um conservatório de música e conquistado o que é hoje. Certamente, o seu empenho e dedicação foram a força motriz para o seu sucesso profissional; mas ele, enquanto codiretor do curta “A Concerto is a Conversation”, promove um resgate no passado para buscar em suas raízes familiares outro exemplo de força e perseverança.

Eis que somos apresentados ao seu avô, Horace Bowers Jr., com quem Kris estabelece um diálogo franco, apoiado em uma dinâmica de close e plano/contra plano. Além do escopo da diferença geracional, é muito bonito observar a proximidade entre eles e o papo intercalado com fotos antigas da história do avô. “A Concerto is a Conversation” é um doc-homenagem a um homem ordinário que realizou façanhas extraordinárias e, mais importante, uma maneira acalentadora de manifestar gratidão.

“A Concerto is a Conversation” está disponível com legendas em inglês no YouTube e pode ser conferido aqui.

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COLETTE
Direção: Anthony Giacchino
24 min.

Durante o Holocausto, o campo de concentração Mittelbau-Dora, localizado em Nordhausen, na Alemanha, teve como saldo aproximadamente 20 mil prisioneiros executados pelos nazistas. Um deles foi Jean-Pierre Catherine, jovem ativo da resistência francesa. Ele é irmão de Colette, hoje uma idosa de 92 anos, que era criança quando o irmão fora deportado durante a invasão dos alemães na França. Sem nunca ter pisado os pés no país vizinho por conta do trauma, ela decide ir visitar o local onde o irmão assassinado deu os seus últimos passos.

Tal qual “Uma Canção para Latasha”, seu concorrente no Oscar, “Colette” é um filme sobre a memória, mas também sobre uma mulher sensata e fortalecida pelas suas cicatrizes. Ainda que algumas escolhas do diretor Anthony Giacchino me soem invasivas, como o percurso de Colette no campo de concentração, o documentário é emocionalmente bem dosado, sua execução é assertiva na recusa de sentimentalismo e não cai na armadilha de vangloriar a martirização, optando por uma homenagem singela, discreta e não menos comovente por isso.

“Colette” está disponível com legendas em inglês no YouTube e pode ser conferido aqui.

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