Biólogo utiliza técnica milenar de agrofloresta para produzir café e outras frutas na região
O biólogo Erick Caldas Xavier atuou durante muitos anos no Instituto Chico Mendes de Preservação Ambiental (ICMBio) protegendo as áreas do Parque Nacional de Ilha Grande. Em 2019, Erick deixou o instituto para realizar um sonho: cuidar da propriedade rural da família em Altônia, e instalar um sistema de plantio milenar, mas pouco utilizado, chamado de agrofloresta.

A proposta é otimizar o uso da terra, cultivando frutas e grãos juntamente com a floresta. Na agrofloresta, que ocupa cerca de três hectares, é possível reproduzir o sistema ecológico da planta que se quer cultivar.
“Você escolhe e define aquilo que você vai produzir e aproveita os serviços ecossistêmicos da floresta. Então o conceito central de uma agrofloresta é você buscar reproduzir num sistema florestal o mesmo ambiente do centro de origem daquela planta que você deseja. É ter um abacate que pensa que está no México, um café que pensa que está na Etiópia, uma pitaia que pensa que está na América Central. Mas como isso é possível? No plantio do café, por exemplo, você vai associar plantas que vão facilitar sua produção. Quando a gente plantou o café na nossa agrofloresta, a gente plantou junto o ingá. O ingá tem um néctar extrafloral que atrai um predador natural do bicho mineiro, eliminando a necessidade de um controle químico. Então eu uso o poder da natureza para me ajudar a produzir um café mais saudável”, detalha o biólogo.
A produção pode ser desde pequena escala, de agricultura familiar, a larga escala. A propriedade de Erick utiliza os dois modelos e produz diversas espécies, como café, abacate, pitaia, limão e laranja. Até agora, nada foi vendido e toda a produção foi doada.
“Tudo que a gente produziu ou foi pra consumo ou a gente doou pra lar de idosos e orfanatos. A nossa produção comercial vai começar talvez no próximo ano com os primeiros cafés que vão ser colhidos”, conta Erick.

O maior desafio no momento na propriedade é o desequilíbrio ecológico de formigas cortadeiras, encontradas em grande quantidade. Mesmo assim, a agrofloresta permite a renovação do ambiente e o surgimento da biodiversidade.
“A gente fez um modelo que ele envolve plantio de 50% de nativas e 50% de exóticas. E desde o começo quando a gente começa a implantar, o que era um pasto degradado começa a ver a primeira ave, porque nessa floresta ela encontra abrigo. Depois ela vai começar a encontrar alimento. A fauna de insetos começa a mudar, você tem uma diversidade de abelhas que antes você não tinha, abelhas nativas. Aí você começa a ter uma diversidade de solo, que vai ficando mais rico com micro-organismos. Depois você também vai ter a diversidade da fauna terrestre, os mamíferos terrestres.”

