O engenheiro de processos Murillo de Araújo e a fotógrafa Luciana Passeto são de Ponta Grossa e vivem há um ano e meio em São Leopoldo (RS), na Região Metropolitana de Porto Alegre, com os filhos Pedro e Cecília, de apenas um ano e seis meses. O casal e as crianças precisaram ser resgatadas de barco, na última segunda-feira, 6, depois que parte da cidade foi tomada pelas águas do Rio dos Sinos, devido às chuvas que atingem o Rio Grande do Sul.
De acordo com Murillo, os momentos de tensão começaram na quinta-feira, 2, com um alerta de transbordamento do rio. Com risco da situação se agravar, o casal decidiu ir ao mercado comprar água e alimentos. “Tinha muitas pessoas no mercado atrás de mantimentos. Alguns já estavam em falta. Parecia uma corrida contra o tempo”, conta o engenheiro.
Na manhã de sexta-feira, 3, ao sair para trabalhar, o engenheiro pediu que a esposa ficasse atenta às informações e entrasse em contato, caso necessário. Logo após o almoço, a fotógrafa pediu que o companheiro voltasse para a casa, já que o nível do rio subia cada vez mais. O casal acompanhava as informações divulgadas pela Prefeitura de São Leopoldo e pela empresa reguladora de água da cidade.
Momentos difíceis
Murillo e Luciana moram em um apartamento no Centro de São Leopoldo. O Rio dos Sinos fica a duas quadras do prédio do casal. No sábado, 4, com o aumento do nível da água, os bairros situados nas regiões mais baixas, como Campina e Vila Brás, começaram a ter problemas.
Mesmo com a alta do rio, o casal decidiu permanecer no apartamento, já que tinham acesso à água, luz e mantimentos. Porém, na madrugada de domingo, 5, a água avançou de forma considerável na região central. “A gente não sabia se continuava no prédio. Foi uma decisão difícil. Não sabíamos como estavam as ruas. Poderíamos encontrar vias totalmente inundadas e não teríamos nem como voltar”, conta Murilo.
Ainda no fim de semana, a energia elétrica foi desligada. Luciana, Murillo e os filhos seguiram no apartamento e observavam o aumento do nível do rio pela janela. Na manhã de domingo, 5, a água havia subido 2 metros de altura. Depois de duas noites no prédio sem luz e consumindo água de forma racionada, os alimentos perecíveis começaram a descongelar e o casal viu a necessidade de consumir todo o estoque.
Diante da situação, Luciana queria sair do prédio. No entanto, a saída do local estava comprometida e só seria possível com apoio de pessoas experientes em resgate. Ao descer para o estacionamento do condomínio para carregar o celular, Murillo se deparou com um bombeiro que ajudava outro morador. “Ali decidi que era o momento de sair do prédio em segurança. Falei com a minha esposa e só deu tempo de colocar algumas roupas na mochila, pegar as crianças e descermos”, explica o engenheiro.
Assista ao vídeo:
Inicialmente, os bombeiros retiraram as crianças, já que era necessário passar pela água até chegar ao portão do prédio. Outro bombeiro aguardava em cima do muro para colocar os filhos do casal no bote. O cachorro da família também foi resgatado da mesma forma. O casal saiu na sequência.
“Ainda nas escadas do prédio, comecei a tremer e minhas pernas estavam moles. Eu não consegui conter as lágrimas. Foi um misto de sentimento que não sei explicar”, diz Luciana. A fotógrafa conta que, quando o barco saiu do local, a sensação foi de choque. Até então, o casal acompanhava o avanço das águas somente pela janela do apartamento e pelas redes sociais. “Não tínhamos dimensão de onde o rio havia chegado”.
Atualmente, o casal e as crianças estão na casa de amigos, no bairro São Borja, localizado em uma região mais alta de São Leopoldo. “Seguimos firmes e extremamente gratos por estarmos seguros. Agradecemos aos amigos que nos acolheram, mas com uma profunda tristeza em acompanhar essa situação que está longe do fim”, conta Murillo.
As informações são da aRede.