La Niña vem aí: Saiba como fenômeno afetará o clima no Paraná


Por Redação GMC Online

O Paraná está atento às projeções climáticas para o ano de 2024, especialmente diante da previsão da ocorrência do fenômeno La Niña, logo após o fim do El Niño. Esse fenômeno climático, caracterizado por temperaturas mais frias do que o normal, tem potencial para afetar diferentes aspectos da vida no Estado, desde a agricultura até as condições de conforto da população, e deve ser percebido no segundo semestre deste ano.

La Niña vem aí: Saiba como fenômeno afetará o clima no Paraná. | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Segundo o meteorologista do Simepar, Reinaldo Kneib, há uma previsão para o desenvolvimento do fenômeno La Niña ao longo do final do outono e inverno de 2024. Explicando o fenômeno, Reinaldo destaca que ele ocorre quando as águas do Oceano Pacífico Equatorial apresentam anomalias de temperatura da superfície do mar abaixo de -0,5 °C, o que é suficiente para alterar a circulação geral da atmosfera sobre a região afetada, caracterizando a fase fria do ENOS (El Niño – Oscilação Sul), um sistema oceano-atmosférico acoplado.

Impactos

Reinaldo ainda ressalta que a intensidade e configuração do fenômeno podem trazer diferentes impactos. Durante o inverno, o impacto no volume de chuva não será significativo, dada a natureza naturalmente mais seca do período. No entanto, em casos de La Niña forte, pode haver atraso no retorno das chuvas, que normalmente ocorrem a partir da segunda quinzena de outubro em diante. Além disso, espera-se uma redução na temperatura média do ar ao longo do inverno e primavera de 2024, com possíveis ondas de ar frio tardias, podendo resultar em geadas, principalmente nas regiões Oeste, Sudoeste, Central e Sul do Paraná.

“Essas condições climáticas adversas podem afetar negativamente a agricultura, causando atrasos e redução na produtividade durante a fase de germinação dos cultivos, devido à falta de precipitação e à umidade do solo abaixo do normal para essa época do ano”, diz.

Além da redução na produtividade de alguns cultivos devido à falta de chuvas e temperaturas mais baixas, há uma possibilidade de que a La Niña continue impactando o clima do Paraná até o verão de 2024/2025, potencialmente causando secas e desabastecimento urbano. No entanto, Reinaldo ressalta que esse cenário ainda precisa ser monitorado e avaliado conforme o desenvolvimento e as projeções futuras do fenômeno.

La Niña no Brasil

Um dos principais impactos esperados do La Niña é a irregularidade das chuvas. Isso significa que algumas regiões podem enfrentar períodos de seca mais intensa, como a região sul do Pantanal, enquanto outras podem registrar chuvas mais intensas e frequentes. Para o setor agrícola, essa variabilidade pode representar desafios significativos, especialmente para culturas sensíveis à disponibilidade de água, como a soja, o milho e o trigo.

Além da irregularidade das chuvas, La Niña também pode aumentar a probabilidade de eventos meteorológicos extremos, como tempestades intensas, granizo e vendavais, como já foi registrado em outras ocasiões no Brasil, quando o fenômeno esteve presente. Esses eventos representam, muitas vezes, riscos para a agricultura, a infraestrutura e a segurança da população.

O Centro Nacional de Monitoramento e Desastres Naturais (Cemaden) emitiu nota técnica sobre o assunto relacionando com os possíveis impactos que podem ocorrer. O material tem a ressalva de que ainda não se pode afirmar quais serão os efetivos impactos e as regiões que poderão ser afetadas por falta ou excesso de chuvas. “Continuaremos monitorando e avaliando periodicamente a partir dos dados passados, presentes e previsões futuras”, afirma a diretora substituta do Cemaden, Regina Alvalá.

No Brasil, historicamente, períodos sob a influência do La Niña são associados com chuvas acima da média em áreas das regiões Norte e Nordeste, e chuvas abaixo da média nas regiões Centro-Oeste e Sul do Brasil. Além disso, normalmente, são anos mais frios. Contudo, segundo a nota técnica do Cemaden, cada edição do fenômeno é única. O La Niña ocorreu em 2016, 2010, 2007, 1998 e 1995, sendo que o episódio mais recente perdurou de julho de 2020 a fevereiro de 2023.

Exemplos de eventos La Niña nas configurações Pacífico Oriental (acima) e Pacífico Central (abaixo). Ambas as configurações são do trimestre setembro-outubro-novembro. O painel superior diz respeito ao evento de 2020-2021 e o painel inferior representa o evento de 1975-1976. Fonte: Governo Federal

“O fenômeno deve se desenvolver na segunda metade deste ano. Então, ainda é difícil saber com precisão quais serão os impactos na temperatura e nas chuvas, porque isso vai depender de fatores como onde se localizarão as maiores anomalias de temperatura no oceano Pacífico, como será a configuração do oceano Atlântico e outros fatores”, explica Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operações e Modelagem do Cemaden.

Baseado nas estatísticas do que ocorreu em anos anteriores, Seluchi projeta que os impactos do La Niña podem se manifestar na primavera de 2024 com redução das chuvas no Sul. “Isso causa preocupação porque a região passou por um período de seca prolongada antes do El Niño, que ainda está vigente. Poderemos voltar a uma situação de seca”, diz Seluchi.

Outra situação com possibilidade de ocorrer na primavera é a de episódios de frio mais intenso, o que pode causar impactos na saúde, afetando pessoas sem abrigo adequado com hipotermia, e na agricultura, afetando culturas que estiverem na etapa de crescimento. “As geadas tardias são ameaça para a agricultura”, diz.

Entenda o que é o fenômeno La Niña

O La Niña é um fenômeno climático oposto, caracterizado pelo esfriamento das águas superficiais do Pacífico e pela consequente queda nas temperaturas globais. No Brasil, ele costuma causar fortes chuvas nas Regiões Norte e Nordeste, mas, no Sul, há elevação das temperaturas e seca.

Na última vez em que vigorou, o fenômeno teve a duração de três anos. “O La Niña potencializa as ondas de frio nos períodos de outono-inverno e primavera. Por outro lado, é preciso lembrar que áreas da América do Sul em Argentina, Uruguai, Paraguai e Sul do Brasil podem ter forte estiagem e ondas de calor intensas, como em 2021/2022”, afirma a meteorologista Estael Sias, da MetSul.

De acordo com a NOOA, o El Niño deve estender seus efeitos até maio. Após esse mês, segue um período de neutralidade climática e, então, começa a se formar o La Niña. Não necessariamente os dois eventos se sucedem imediatamente, explica Estael. Eles podem se prolongar e se repetir.

Com informações do Governo Federal.

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