Primeiro caso suspeito de intoxicação por metanol no Paraná: o que se sabe até agora?
O Paraná notificou ao Ministério da Saúde nesta sexta-feira, 3, o primeiro caso suspeito de intoxicação por metanol no Estado, após o consumo de bebida alcoólica destilada. O paciente é um idoso de 60 anos, morador de Curitiba, que deu entrada em um hospital na quarta-feira, 1.

De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (Sesa-PR), o homem consumiu a bebida e foi atropelado pouco tempo depois. Após ser socorrido ao hospital, sofreu piora no quadro clínico e passou a apresentar sintomas compatíveis com intoxicação por metanol. Ele permanece inconsciente e em estado grave. A pasta não deu mais detalhes sobre o acidente de trânsito.
“A Sesa, em conjunto com a Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, acompanha a evolução clínica e aguarda o resultado dos exames laboratoriais para confirmação ou descarte da suspeita”, disse o órgão, em nota.
Em casos de suspeitas de intoxicação, os serviços de saúde públicos ou privados devem notificar o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) para orientação e conduta adequada.
O secretário de Estado da Saúde, Beto Preto, informou que deve se reunir nas próximas horas com o Ministério da Saúde para definir se o Paraná receberá ampolas de etanol farmacêutico para o tratamento de pacientes intoxicados. “O momento, eu diria, é um dilema que nós passamos. Mas eu volto a insistir que todos nós tenhamos muito cuidado na ingestão de bebida alcóolica”, orientou.
- Entre no canal do GMC Online no Instagram
- Acompanhe o GMC Online no Instagram
- Clique aqui e receba as nossas notícias pelo WhatsApp.
O número de notificações por suspeita de intoxicação por metanol cresce a cada dia no Brasil. Nesta sexta-feira, 3, a Bahia informou o registro da primeira morte suspeita de contaminação pela substância. As ocorrências começaram a surgir no Estado de São Paulo e já atingem outras regiões.
Além da Bahia, há 53 casos em São Paulo, 6 em Pernambuco e 1 no Distrito Federal e no Paraná.
O Ministério da Saúde anunciou a compra emergencial de antídotos para casos de intoxicação por metanol, destinados a Estados e municípios para tratar vítimas de bebidas alcoólicas adulteradas. O plano prevê a aquisição de 150 mil ampolas de etanol farmacêutico, além da possibilidade de obter o Fomepizol por meio de produtores nacionais e agências internacionais.
As autoridades buscam identificar fornecedores das bebidas e pessoas que tenham manipulado os produtos. O metanol é usado como matéria-prima para combustíveis e é impróprio para consumo humano, mas estaria sendo utilizado na falsificação de bebidas alcoólicas.
Além de destilados, cerveja e vinho podem ser adulterados?
Os recentes casos investigados de intoxicação por metanol em São Paulo ocorreram após o consumo de bebidas alcoólicas destiladas, como gim, vodca e uísque. Mas, especialistas alertam que o biocombustível pode ser usado para adulterar também cerveja e vinho. “Para o adulterador não há limites, desde que haja lucro”, afirma Rodrigo Ramos Catharino, farmacêutico, doutor em Ciência de Alimentos e professor da Unicamp.
Integrante da comissão técnica do Conselho Regional de Química de São Paulo, a química Glauce Guimarães Pereira reforça que “na cerveja, o teor alcoólico é baixo (4 %-6 %) e com maior complexidade aromática. Isso significa que qualquer desvio químico é mais fácil de notar.” Para ela, é uma questão de eficiência na adulteração: “Adulterar cerveja sem ser perceptível só renderia uma quantidade muito pequena”.
O farmacêutico-bioquímico do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Unesp, em Botucatu, Alaor Aparecido Almeida aponta que o metanol é adicionado para aumentar o volume da bebida.
“Ele é usado para vender mais com um preço menor”, diz. “O metanol costuma ser mais barato que o álcool, porque é mais fácil de produzi-lo. Eles escolhem geralmente destilados justamente por serem mais caros. Como a cerveja é relativamente barata, a chance é menor de ser adulterada”, avalia.
O presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, Paulo Solmucci, também reforça a análise. “Do ponto de vista da bandidagem, a vantagem é colocar volume em produtos de valor agregado mais alto”, declarou. Mas ele destaca que a entidade ainda não foi notificada de casos com vinho. “O que acontece é substituir um vinho caro por outro mais barato, mas não adulteração”, indica.
Quais são as orientações para os consumidores ao comprar bebidas?
Procure estabelecimentos conhecidos ou dos quais tenha referência.
Desconfie de preços muito baixos – no mínimo podem indicar alguma falha como sonegação e adulteração, por exemplo.
Observe a apresentação das embalagens e o aspecto do produto: lacre ou tampa tortos ou “diferentes”, rótulo desalinhado ou desgastado, erros de ortografia ou logos com “variações”, ausência de informações como CNPJ, endereço do fabricante ou distribuidor, número do lote, e outra imperfeição perceptível.
Ao notar alguma diferença, não fazer testes caseiros como cheirar, provar ou tentar queimar a bebida. Essas práticas não são seguras nem conclusivas.
Fique atento a sintomas após o consumo: visão turva, dor de cabeça intensa, náusea, tontura ou rebaixamento do nível de consciência, isso pode indicar intoxicação por metanol ou por bebida adulterada.
Busque atendimento médico imediato: se houver qualquer sintoma suspeito, o consumidor deve procurar urgência médica sem demora.
Comunique as autoridades competentes: Disque-Intoxicação (0800 722 6001, da Anvisa) para orientação clínica/tóxica; Vigilância Sanitária local (municipal ou estadual); Polícia (civil); Procon (órgão de defesa do consumidor); quando aplicável, outros órgãos relacionados (Ministério da Agricultura, etc).
Exija sempre a nota fiscal ou comprovação de origem: documento precisa ter todas as informações de identificação do fornecedor e da compra, isso ajuda na rastreabilidade do produto e é uma garantia para o consumidor em eventual reclamação.
O Procon-SP, que já fiscaliza estabelecimentos que vendem bebidas como bares, restaurantes e adegas, bem como casas noturnas e supermercados, disse ainda que vai intensificar suas ações de forma integrada com equipes do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), da Polícia Civil do Estado paulista.
