Serra das Nascentes é opção turística a menos de 200 km de Maringá

Um destino turístico que une vinícolas, chalés charmosos e restaurantes de alta gastronomia está sendo descoberto pelos maringaenses: a Serra das Nascentes, que fica a menos de 200 quilômetros da Cidade Canção. A organização da área é recente, mas tem avançado de forma rápida.
Foi durante a pandemia da Covid-19 que Josiane Nascimento descobriu um tesouro no quintal de casa. Procurando um lugar onde pudesse fazer turismo de isolamento com a família próximo ao município de Manoel Ribas (a 175 quilômetros de Maringá), onde vivem, e não encontrou. Na propriedade rural de 20 alqueires onde ficava a leiteria da família, descobriu uma cachoeira. O marido já sabia da existência da queda d’água, mas o acesso era difícil. Decidiram melhorar a trilha até o local e construir uma cabana bem ao lado, para poderem desfrutar com os filhos. Após a construção consideraram abrir o espaço para locação de temporada. A ideia deu tão certo que a procura lotou a agenda por quatro meses – e desde então, as datas para hospedagem são disputadas.

“A gente teve que aprender a hospedar, aprender a recepcionar, o que as pessoas esperam. Conforme as pessoas iam vindo, a gente ia adaptando e aí foi desenvolvendo a ideia”. O clima intimista e acolhedor começou a ser procurado por casais e a proposta de hospedagem para quatro pessoas foi adaptada para uma experiência a dois. “Uma viagem romântica, uma lua de mel, uma celebração de aniversário de casamento, um pedido de casamento inovador e tal. Aí veio a ideia da segunda cabana”, relembra Josiane.
A ideia pioneira naquela região deu tão certo que, em três anos, o casal já inaugurou mais uma cabana, inspirada na arquitetura francesa, com uma passarela de vidro de 28 metros que termina em uma banheira de hidromassagem e que também têm agenda lotada, com 100% de taxa de ocupação, além de um restaurante de alta gastronomia aberto também a não-hóspedes. A produção leiteira deu lugar ao turismo e já há projeto para construir mais duas hospedagens na propriedade. Do total de hóspedes, 98% são do Paraná e, desses, metade é de Maringá e região.

É em fase de expansão que também está o empreendimento de Vidal Kovalek, a 80 quilômetros dali, no município de Roncador (a 190 km de Maringá). O arquiteto saiu de São Paulo para voltar às raízes e abriu uma vinícola que leva o sobrenome da mãe. Hoje o local tem um bistrô e uma cabana para hospedagens e o fundador organiza festivais de vinhos nacionais para mostrar a qualidade das bebidas produzidas em solo brasileiro. Na primeira edição, em Roncador, centenas de maringaenses viajaram até o município para participar do evento.

O grande público trouxe o festival para a cidade. A última edição foi neste sábado, 28, e já tem calendário para percorrer outras cidades paranaenses. “É comum as pessoas acabarem focando na Argentina, no Chile, na Europa, que têm vinhos excelentes, mas terem um pouco de preconceito pela pouca história que o vinho tem no Brasil. A gente já teve edição em que vieram vinícolas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais. Esse ano estão vindo as do Rio Grande do Sul e do Paraná. Cada vinícola traz os rótulos dela para as pessoas conhecerem e oferece uma degustação. São aproximadamente 60 rótulos as pessoas provarem. E a ideia é que ela possa comprar os vinhos e consumir durante a festa e também divulgar que nós temos uma região de turismo de serra e difundir o consumo do vinho nacional. E quem vem no estande normalmente são os produtores de vinho. Então você vai poder conversar com eles e ninguém melhor do que quem tem o amor pela produção dos vinhos para explicar o processo”, detalha o idealizador do evento, que terá mais duas edições em 2025, uma em Guarapuava e outra em Roncador.

Todas essas iniciativas fazem parte da rota turística da Serra das Nascentes. Uma associação foi formada pela iniciativa privada com empreendimentos em Roncador, Iretama, Manoel Ribas, Mato Rico, e em fase de negociação com estabelecimentos de Turvo, Cândido de Abreu, Nova Cantu e Nova Tebas. Entre os atrativos estão hotéis fazenda, criações de mini cavalos, restaurantes, chalés e visitação à produção da agroindústria familiar. “A gente está unindo tudo isso para montar produtos de experiências e poder desenvolver. E é legal que as prefeituras agora desses municípios estão enxergando esse potencial do turismo e estão começando a investir também”, diz Kovalek, que é presidente da Associação.
Gabriel França, que também faz parte da iniciativa, diz que o primeiro desafio é fazer com que a população desses pequenos municípios, com menos de 10 mil habitantes, enxerguem o potencial do impacto econômico do turismo. “A maior fonte de renda é a agricultura. Falta cabeça aberta para pensar no turismo. A gente tem muito apoio hoje com o Governo do Estado e também do Governo Federal que viram o turismo como uma nova indústria”, diz.
França acredita que o trabalho em conjunto pode ser decisivo para acelerar o processo e ocupar um espaço disponível para ser explorado. “Em Pirenópolis, lá em Goiás, 70% da renda do município vem do turismo. Começou de uma associação comunitária que eles foram montando e que culminou em tudo o que é Pirinópolis hoje. E a gente quer fazer isso na região da Serra das Nascentes também. No Paraná a gente tem o litoral muito forte e também tem Foz do Iguaçu. Mas no meio a gente não tem nada. A gente pega os mapas do Governo do Estado e não vê nada ligado ao turismo no centro do Paraná. E o que a gente quer colocar é a Serra das Nascentes no centro do Paraná. É uma região que começa ali em Guarapuava e vai até Campo Mourão, mais ou menos, do Vale do Ivaí até o Rio Cantu. Os municípios já estão querendo sair na frente e cada um está desenvolvendo um projeto próprio de marketing turístico, que é para vender o seu destino fora. Só que a gente vê que se cada um tentar fazer sozinho, não tem tantos atrativos no momento, porque conforme a gente vai fazendo, os empresários vão vendo isso como potencial e cada vez mais a gente tem mais empresários querendo investir em turismo, empresários de fora que veem potencial e querem investir nas nossas belezas naturais. Então a gente quer reunir todos esses municípios e fazer um marketing da nossa região como um todo. A gente quer trabalhar o pertencimento da população com o município e trabalhar o marketing turístico. É um trabalho de formiguinha. A expectativa é que a gente traga milhares de pessoas para conhecer o centro do Paraná”, finaliza.