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10 de setembro de 2024

Transferência muscular: cirurgia incomum devolve mobilidade à motoboy da região


Por Brenda Caramaschi Publicado 10/09/2024 às 16h00
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O motoboy Benilson Viana foi o primeiro paciente de Umuarama a se submeter a uma cirurgia de transferência muscular para sanar as dores no ombro depois de romper os ligamentos em um acidente/ Foto:Arquivo pessoal

Benilson Viana sofreu um acidente de moto que causou uma lesão grave no ombro, com rompimento de ligamentos no chamado manguito rotador. Dois anos antes, ele já tinha passado por uma cirurgia no mesmo ombro depois de um acidente de trabalho. Atuando como operador de máquinas, ele sofreu uma queda e, para não bater a cabeça, apoiou o braço no chão. No trânsito, o reflexo foi o mesmo: para não bater em um carro que perdeu a saída em uma rotatória de Umuarama, ele jogou a moto no chão e bateu o ombro, já lesionado, no asfalto. Mas, dessa vez, não havia como simplesmente unir novamente o ligamento, avisou o médico que o atendeu. 

A opção seria fazer uma cirurgia pouco comum, chamada de transferência muscular, que envolvia mover um músculo das costas para o ombro e retirar um enxerto da perna para fazer o reparo, aumentando o tendão da região do músculo que foi retirado das costas para ele poder alcançar o local exato da lesão. “Você vai ser o primeiro paciente de Umuarama a fazer esse procedimento”, disse o médico ao paciente. Benílson topou se submeter à operação, com a esperança de que, após a cirurgia, pudesse voltar a ter uma vida normal. “Eu não tinha força para erguer o braço. Para escovar os dentes, tinha que usar um braço para sustentar o outro. Não conseguia dormir, mesmo tomando remédios, porque a dor ficava mais forte de noite”, relembra.

Transferência muscular

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A transferência muscular envolve mover um músculo das costas para o ombro e retirar um enxerto da perna para fazer o reparo no manguito rotador. / Foto: Diego Dorneles

O manguito rotador é o grupo de músculos e tendões que se inserem na região próxima do úmero (osso do braço) e é formado por 4 músculos do ombro: o subescapular, o supraespinhal, o infraespinhal e o redondo menor. Todos eles se originam no osso chamado escápula e se inserem na parte superior do úmero. A função do manguito é a de estabilizar e propiciar os movimentos do ombro. 

Um sintoma bastante frequente em pacientes com lesão nessa região é uma dor no ombro que vai piorando progressivamente com o tempo. O paciente parece perder a força e muitos, como Benílson, não conseguem sequer levantar o braço. 

A operação de Benílson, feita pelo Sistema Único de Saúde, foi um dos três procedimentos do tipo realizados no noroeste do Paraná ao longo de um ano inteiro – um foi em Maringá e dois em Umuarama. É o que diz o ortopedista e cirurgião que o operou, Diego Dorneles, um dos pioneiros dessa técnica na região. O número tão baixo de cirurgias desse tipo, segundo o médico, tem dois motivos: a indicação para a transferência muscular é muito específica e são poucos os ortopedistas que têm expertise com essa técnica cirúrgica, porque é preciso um treinamento para realizá-la, uma vez que na região onde é feita a cirurgia passam várias estruturas importantes, como nervos que controlam movimento e sensibilidade do ombro até a mão. 

“Os pacientes que têm indicação para o procedimento são aqueles que têm uma lesão irreparável do manguito rotador e ainda não desenvolveram um quadro de artrose secundária do ombro. Geralmente são pacientes abaixo dos 60 anos e cuja lesão, na ressonância, tem mais de 4 centímetros de retração do tendão”, explica o médico.

Após a operação, a recomendação médica era para que Benílson se afastasse totalmente do trabalho por seis meses, para focar na recuperação por meio da fisioterapia. Mas a  necessidade falou mais alto: ele tem um filho adolescente, que cria sozinho desde os quatro anos de idade, e as contas não paravam de chegar. “Minha fisioterapia maior foi o guidão da moto”, diz ele, que hoje trabalha como motoboy, todos os dias, das cinco horas da manhã até às nove da noite. “Fazer o que eu faço hoje, antes da cirurgia, era impossível”, conta, dizendo que as dores até aparecem, mas com intensidade muito menor e sem prejudicar a mobilidade. 

Síndrome do Manguito Rotador

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Dores intensas e queimação no ombro estão entre principais sintomas da enfermidade que mais afastou paranaenses do trabalho em 2023. Ao todo, foram concedidos 3.720 benefícios de auxílio-doença por causa da síndrome, segundo o Instituto Nacional de Seguro Social. A maior parte dos casos é decorrente de movimentos repetitivos. Normalmente o tratamento é feito com infiltrações e fisioterapia, mas quando há o rompimento de ligamentos, pode ser necessário operar.

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