14 de julho de 2025

Pesquisadores desvendam mistérios e hábitos do dinossauro paranaense


Por Fábio Guillen Publicado 15/09/2020 às 20h22 Atualizado 25/02/2023 às 13h46
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Dinossauro paranaense – Foto: Divulgação

Os pesquisadores do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFR) em parceria com um pesquisador do Centro Paleontológico da Universidade do Contestado, de Santa Catarina, publicaram um artigo na revista científica PeerJ com informações inéditas sobre o Vespersaurus paranaensis, o primeiro dinossauro 100% paranaense. 

A espécie viveu há cerca de 90 milhões de anos em Cruzeiro do Oeste, no noroeste do Paraná, e foi divulgada em junho de 2019 pelos pesquisadores como inédita no Brasil. Após uma avaliação dos ossos do Vespersaurus paranaensis, os pesquisadores conseguiram entender como o dinossauro carnívoro vivia em terras paranaenses. 

Segundo o aluno de doutorado do Programa de Pós- Graduação em Zoologia (PPGZoo), Geovane Souza, primeiro autor do trabalho, o estudo é inédito em dinossauros brasileiros. 

“A qualidade excepcional de preservação e a grande quantidade dos fósseis pertencentes a Vespersaurus permitiram que fosse analisado uma quantidade expressiva de ossos, a maior amostragem histológica para um dinossauro brasileiro até o momento. Isso permitiu que os pesquisadores vislumbrassem um panorama mais completo e confiável sobre como esses animais se desenvolviam, qual eram suas taxas de crescimento e quanto tempo levavam para se tornarem adultos”, comenta o primeiro autor do trabalho. 

Os pesquisadores descobriram que a região noroeste do Paraná era um grande deserto e, que, na região de Cruzeiro do Oeste existia um grande oásis, por isso vários fósseis já foram encontrados no local. 

“Nesta época, parte do centro-oeste, sudeste e sul do Brasil formavam um grande deserto (Deserto Caiuá), onde esta espécie habitava o entorno de áreas úmidas, possivelmente um oásis, convivendo com outras espécies, como lagarto (Gueragama sulamericana) e de duas espécies de 2 pterossauros (Caiuajara dobruskii e Keresdrakon vilsoni) descritas para o mesmo local, fazendo dessa localidade um sítio fossilífero muito interessante para a paleontologia mundial”, disse o geólogo Luiz Carlos Weinschütz, coordenador dos trabalhos de campo, e pesquisador do (CENPALEO/Universidade do Contestado). 

A técnica da osteohistologia, empregada no estudo, é relativamente destrutiva, pois consiste na retirada de fragmentos do osso, através de cortes com serras elétricas. As secções então são polidas até adquirirem translucidez suficiente para permitir a visualização em microscópio óptico. 

A natureza destrutiva desta técnica, aliada à raridade da preservação de um fóssil, impede que muitas instituições pelo mundo concedam a autorização aos paleontólogos para aplicá-la. No caso do dinossauro paranaense, existe uma abundância de ossos e isso possibilitou o trabalho inédito no Brasil. 

Ossos do dinossauro paranaense – Foto: Divulgação

Dinossauro paranaense tinha crescimento mais lento que outros dinossauros

Dinossauro paranaense era bípede e carnívoro, mas pequeno, tinha apenas um metro e meio de altura – Foto: Divulgação

Com a técnica, os pesquisadores descobriram ainda informações sobre crescimento do dinossauro paranaense e alguns hábitos da espécie. 

“Através da contagem das marcas de crescimento contidas nos ossos (semelhantes aos anéis do tronco de uma árvore) apontam que os vesperssauros poderiam viver pouco mais de uma década (13 – 14 anos), mas se tornavam aptos para reprodução (ou seja, atingiriam a maturidade sexual) por volta dos 3 – 5 anos de idade. Isso significa que a maturidade sexual do V. paranaensis ocorreria antes do indivíduo completar seu crescimento”, acrescentou Geovane Souza.

Além disso, foi observada a presença de um tipo de tecido ósseo incomum para os dinossauros. O tecido em questão, conhecido na literatura como paralelo-fibroso, é caracterizado por um alto grau de organização das fibras de colágeno contida nos ossos, o que demanda mais tempo para sua formação ao longo do crescimento do animal. 

O estudo aponta que esse tipo ósseo sugere que o dinossauro paranaense possuía taxas de crescimento relativamente mais lentas do que o observado em outros dinossauros, aves e mamíferos. Isso faz com que o crescimento do Vespersaurus se assemelhe mais aos reptilianos, como jacarés e crocodilos, do que aos demais dinossauros. 

Ainda não se descarta a possibilidade de que a redução da taxa de crescimento do dinossauro paranaensis seja uma adaptação ao ambiente árido que a espécie habitava. 

Talvez um crescimento lento seria vantajoso para animais que viviam em ambientes com limitação sazonal na disponibilidade de alimentos, como um deserto. Apesar dos dinossauros fascinarem tanto cientistas quanto o público leigo, muitas perguntas sobre seu crescimento, metabolismo e anatomia ainda permanecem sem respostas.

“Compreender questões dessa natureza é algo fundamental para que entendamos quais os mecanismos e estratégias de sobrevivência existiam no passado do planeta, sobretudo de espécies como os dinossauros, animais que outrora foram componentes principais das faunas terrestres, que viveram em um mundo sobre constante mudança climática, mas que enfrentaram uma drástica redução em sua diversidade na extinção em massa que marcou o final do Mesozoico”, comenta Alexander Kellner, um dos autores do trabalho e diretor do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 

Detalhes do estudo inédito – Foto: Divulgação

Além disso, a pesquisa surge em momento oportuno, visto que grande parte dela foi conduzida no Museu Nacional da UFRJ, instituição que passou por um trágico incêndio, em 2018, mas que, mesmo assim, vem se reerguendo e reforçando a capacidade de produzir ciência de ponta e de qualidade.

Quem assina o artigo científico inédito 

O artigo é assinado pelos pesquisadores do Museu Nacional/UFRJ, Alexander Kellner, Arthur Brum, Geovane Souza, Juliana Sayão, Maria Elizabeth Zucolotto e Marina Soares, em parceria com o pesquisador Luiz Weinschütz, do Centro Paleontológico da Universidade do Contestado, de Santa Catarina. 

Pesquisadores durante as escavações em Cruzeiro do Oeste – Foto: Divulgação

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