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15 de dezembro de 2025

‘Eu ia morrer’: dentista relata em carta 12 horas de tortura, estupros e fuga que impediu feminicídio no PR


Por Banda B, parceira do GMC Online Publicado 15/12/2025 às 08h11
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Banda B

A dentista Fernanda* (nome fictício), de 24 anos, escreveu uma carta em que descreve, em detalhes, como sobreviveu a cerca de 12 horas de tortura, agressões psicológicas e abusos sexuais praticados pelo então companheiro em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.

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Foto: Reprodução/BandaB

O relato foi enviado pela vítima à Banda B neste sábado, 13, dois dias após o suspeito ser preso por tentativa de feminicídio, estupro de vulnerável, tortura, lesão corporal, ameaça e registro não autorizado de intimidade sexual.

De acordo com a Polícia Civil, a vítima procurou a corporação após sofrer agressões no dia 7 de dezembro deste ano. Ela relatou que, naquela dia, havia sido mantida em cárcere privado e torturada por cerca de 12 horas, além de ter sido espancada com socos, chutes, puxões de cabelo, chineladas, injúrias e ameaças de morte. As agressões só terminaram quando conseguiu fugir da casa.

Antes do episódio mais recente, no qual quase foi morta, Fernanda já havia sido espancada e violentada nos dias 3 e 4 de dezembro. Em uma das ocasiões, a mulher teve a cabeça arremessada contra um espelho, o que provocou perda temporária da visão e da audição do lado direito.

A dentista ainda relatou que, no dia 11 de novembro, já havia sido submetida a outro episódio de tortura e ameaças praticado pelo então companheiro. Na ocasião, foi vítima de abuso sexual e teve todo o seu material de trabalho destruído.

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Foto: Reprodução/BandaB

“Trabalhamos diariamente para responsabilizar autores de violência contra a mulher. Este caso demonstra a importância das denúncias e o empenho da nossa equipe em interromper ciclos de agressão e proteger as vítimas”, disse o delegado Lucas Maia.

Devido à gravidade dos crimes praticados, a Polícia Civil pediu a prisão preventiva do investigado, a qual foi autorizada pela Justiça. No momento da prisão, os policiais acharam anabolizantes e munições de arma de fogo com o suspeito, o que motivou a autuação em flagrante. Ele segue preso.

A carta da dentista sobrevivente

“A violência chegou de forma silenciosa, disfarçada de cuidado, de preocupação, de controle. Quando eu percebi, já tinha me destruído: destruído meu psicológico, minha autoestima, meu corpo, meus sonhos, minha vida.

No início, ele se mostrava o homem perfeito, cuidadoso, ciumento, mas protetor. Tudo era por proteção, até começarem as brigas e as proibições. Proibições de usar roupas. Eu só podia ir treinar tendo que tapar o corpo com uma blusa.

Proibições de postar fotos minhas no Instagram. Em seguida, ele começou a cortar minhas roupas e colocar fogo. Ameaçava que, até o final do ano, eu ficaria sem roupas no guarda-roupa.

Em outra briga, quebrou a penteadeira, o secador, e aí veio o primeiro tapa. Foi um único tapa. No dia seguinte, ele pediu desculpa e eu acreditei que iria mudar, mas só piorou.

As agressões começaram a ser constantes. Ele discutia e sempre escondia o controle do portão e a chave do carro para que eu não pudesse sair. Ficava com meu celular para que eu não conseguisse ligar para a polícia. Eu não tinha saída. Ele me ameaçava muito. Me batia muito.

No dia 11/11, ele já acordou discutindo. Eu fui trabalhar e ele ficou me ligando o dia inteiro, ameaçando ir até a clínica, e foi. Ficou lá na frente, depois foi embora. À noite, me buscou, chegou derrapando o carro e, quando chegamos em casa, começaram as agressões.

Ele me tirou do carro pelos cabelos, me bateu em cada cômodo da casa, me apagou. Voltei desesperada pedindo água. Ele jogou água gelada em mim, rasgou toda a minha roupa, me levou para cima e me colocou para tomar banho gelado com o cronômetro ligado.

Foram 20 minutos de banho gelado de madrugada, com ele segurando um ventilador em mim e me batendo: socos, tapas, cuspes. Eu estava desesperada, pedia para ele parar, mas ele batia mais. Eu estava toda roxa. Eu ia morrer.

Ele me tirou do banheiro e mandou eu ir deitar. Eu orava e clamava muito para Deus. Achei que tinha acabado, mas ele voltou. Ele subiu em cima de mim na cama, impossibilitando minha defesa. Minha cara ficou exposta e ele bateu muito: soco, cabeçada, tapa. Minha boca, meu nariz e minha orelha começaram a sangrar.

Com o rosto cheio de sangue, ele me pediu para tirar a roupa, ficar em posição de quatro apoios e começou a abusar. Depois, ele foi dormir e me deixou no quarto de visitas. Quando acordei no outro dia e abri os olhos, eu não enxergava nada. Entrei em desespero. Minha visão demorou três dias para voltar ao normal. Eu sentia muita tontura. Ele implorou perdão, dizia que iria mudar, que não iria mais fazer isso. Eu queria sair o quanto antes, mas não conseguia.

Ele monitorava tudo. Toda semana aconteciam agressões e ameaças. Eu reclamava pra ele referente à minha visão e sobre sentir muita tontura. Ele comprou um medicamento pra labirintite e me fazia tomar. Eu reclamava por não conseguir abrir a boca direito por conta da minha mandíbula, e ele não falava nada. Na quarta-feira, dia 03/12, ele ficou bravo por uma postagem que fiz no Instagram enquanto atendia na clínica. Fui agredida novamente. Na quinta, dia 04/12, também.

No domingo, dia 07/12, acordei, fiz café e ele já começou a discussão e as agressões. Ele ficou o dia inteiro me batendo: tapas, chutes, golpes com uma caneca, puxões de cabelo, batia minha cabeça no espelho. Ele sempre me ameaçava muito, ameaçava matar meu pai e meu irmão. Eu tinha muito medo.

Ele me bateu das 9h da manhã até perto das 19h, quando consegui fugir. No fim do dia, reclamei que estava surda do ouvido direito de tanto soco. Ele me entregou comprimidos: zolpidem e relaxante muscular.

Tomei o relaxante muscular e fingi tomar os outros. Joguei no chão e empurrei com o pé. Ele perguntou se eu tinha tomado e eu disse que sim.

Então subimos pro quarto. Ele achou que eu iria apagar. Deitei. Ele me agrediu mais um pouco e foi pro banheiro tomar banho. Foi nessa hora que consegui fugir.

Saí correndo, consegui pegar o carro e o controle do portão e fui até a casa do meu pai, onde acionamos a polícia. Acredito que, se eu não tivesse fugido, não estaria com vida hoje

Quero agradecer ao delegado Lucas Maia e espero que a justiça seja feita.”

Clique aquie leia a reportagem completa na Banda B, parceira do GMC Online.


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