Três líderes religiosos são presos em operação contra o trabalho escravo infantil, em Maringá
A Polícia Civil prendeu, na manhã desta sexta-feira, 23, três pessoas de uma mesma família acusadas de comandar um esquema de vendas de pizzas para uma igreja utilizando trabalho escravo infantil, em Maringá. Os três presos são líderes da igreja onde as equipes fizeram buscas: um pastor, a mulher dele, que é bispa da igreja e o filho do casal, que é apóstolo.
De acordo com a delegada do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria) de Maringá, Karen Friedrich Nascimento, a investigação começou depois que as equipes constataram que muitas crianças e adolescentes estavam vendendo grandes quantidades de pizzas em Maringá e também na região. “Essas crianças passavam o período da manhã, às vezes até a madrugada, o dia todo sob sol, sob chuva, em condições degradantes, sem fornecimento de alimentação. [Elas] teriam que cumprir metas, se elas não cumprissem ou se negassem a vender as pizzas, eram agredidas física e verbalmente”, afirma.
Segundo ela, ao menos cinco crianças foram vítimas de trabalho escravo. A delegada explica que elas não tinham qualquer tipo de remuneração pela venda das pizzas. Todo o dinheiro arrecadado era revertido para os líderes religiosos investigados. “Essas crianças, para se alimentar, tinham que ganhar alguma ‘ofertinha’ das pessoas que compravam as pizzas”, pontua.
A investigação ainda constatou que algumas das vítimas ficaram fora da escola por um período. Ao Conselho Tutelar, elas relataram que tinham um dia da semana para fazer as tarefas escolares.
Num dos casos apurados pela investigação, uma vítima de 13 anos foi levada para trabalhar como doméstica na casa dos pastores. Os pais que contestavam também eram agredidos e ameaçados, explica a polícia. “Eles se negavam a devolver a adolescente para os pais. E quando os pais foram atrás, com o Conselho Tutelar, eles foram agredidos”, detalha a delegada do Nucria de Maringá.
Segundo Karen, os líderes religiosos presos na operação se aproveitavam das condições econômicas e emocionais das famílias das crianças e aliciavam as vítimas para que vendessem as pizzas.
Conforme explica a delegada, os familiares tinham ciência do que estava acontecendo. “Na verdade, as famílias também eram obreiras aqui na igreja. Agora, com a prisão [dos suspeitos], nós vamos ouvi-los novamente, reinquirir e constatar se, de fato, elas [as famílias] têm participação no crime também ou se elas eram ameaçadas e coagidas”.
As equipes cumpriram três mandados de busca e apreensão na igreja e encontraram grande quantidade de dinheiro, uma arma de fogo e muitas pizzas – algumas já prontas e outros materiais para produção – impróprias para o consumo. “Inclusive, a Vigilância Sanitária interditou a igreja”, acrescenta.
Os policiais também encontraram um quarto, dentro da igreja, que levantou suspeitas. “Nós encontramos um quarto com isolamento acústico e um colchonete. No local também tinha um bastão e nós temos a notícia de que uma pessoa, maior de idade, que teria déficit intelectual, também estaria sendo submetida a trabalho escravo e que ela estaria na igreja. Nós não localizamos ele hoje, mas localizamos na garagem o local que ele morava, que era totalmente precário. Não tinha banheiro, nem nada, era envolto por uma cortina. E tínhamos notícia de que ele também pernoitava nesse quartinho. Ele seria um obreiro da igreja e será ouvido posteriormente”, detalha.