Paranaenses são vítimas de roubo no Peru e ficam perdidos no deserto
Durante uma viagem ao Peru, o casal de paranaenses Andressa Alexandre, 27, e Paulo Ricardo da Cruz, 32, decidiu fazer um passeio pouco conhecido: uma trilha pelo cânion de Los Perdidos. Atraídos pelas paisagens de tirar o fôlego e motivados por registrar atrações turísticas pouco convencionais que dividem com os seguidores nas redes sociais, eles fecharam a tour com uma empresa local e embarcaram junto de outras 18 pessoas em duas vans até próximo ao destino, no meio do deserto peruano.
Os veículos chegaram ao limite trafegável e os passageiros desceram para fazer uma trilha que levaria uma média de uma hora e meia. “Como o passeio era curto, os guias disseram que quem não quisesse carregar peso poderia deixar a bagagem na van. Nós quase deixamos nossa mochila mas, por sorte, mudamos de ideia na última hora”, conta Andressa. É que ao retornarem ao local onde os veículos estavam estacionados, só uma das vans estava lá – e a que restou no local estava sem bateria.
“De longe percebemos que tinha algo errado. Uma turista, que tinha ficado na van porque não quis fazer a trilha, estava debruçada no chão, chorando. O motorista contou que, enquanto a gente estava no passeio, dois homens chegaram de moto, armados, roubaram todas as bagagens, levaram uma das vans e a bateria da outra, para não ter como irem atrás deles”, relembra a paranaense.
Perdidos no deserto
Mas o transtorno do casal no Peru estava apenas começando. “Quando fomos para o local o guia disse que o nome ‘Canyon Los Perdidos’ era porque os primeiros grupos que foram em busca daquele cânion tinham se perdido no meio do deserto. Já podíamos imaginar que se tratava de um passeio um pouco perigoso, mas como já havíamos ido a outros desertos e nunca tivemos problemas, decidimos fazer”, diz. Foram cerca de quatro horas de estrada até chegar ao local, sem cidades próximas ou sinal de telefonia – e agora o grupo estava a pé, perdido, a cerca de 50 quilômetros do povoado mais próximo.
E muitos dos turistas tinham perdido todos os pertences, incluindo os documentos pessoais, já que os ladrões haviam levado tudo o que estava nos veículos. A turista que chorava no chão quando o grupo retornou da trilha havia tentado reagir e foi atropelada durante a fuga dos ladrões. Além de Andressa e do marido, apenas outros dois brasileiros estavam no passeio, uma mãe e um filho, de São Paulo, que tiveram todos os pertences levados. O grupo decidiu se dividir em dois: um seguiu com o guia para uma área em busca de sinal de telefone e o outro seguiu com o motorista para tentar encontrar uma estrada. Foram horas andando a pé até alguém conseguir completar uma ligação para a agência de turismo. Sem ter um ponto de referência a orientação recebida foi “continuem andando que vamos mandar o resgate”, diz Andressa.
Durante a caminhada de espera, enquanto estavam perdidos, os medos eram muitos. “Tínhamos medo de os bandidos voltarem e qualquer barulho nos deixava em alerta. Tínhamos medo de o resgate não chegar antes do pôr do sol e a gente ter que dormir no deserto. Era muito desesperador o sentimento de não saber se a gente conseguiria ir para casa”, conta. Foram seis horas caminhando até o resgate chegar. “E o primeiro carro só conseguiu levar um grupo. Deixaram água para nós e disseram para continuarmos andando até chegar mais um grupo de resgate”, detalha. Uma nova van só chegou poucos minutos antes de o sol se pôr. “Foi um alívio tremendo”, relata a paranaense.
“Perrengue Chique”
Do deserto, o grupo seguiu para a delegacia e demorou mais cinco horas para conseguir fazer um boletim de ocorrência. “Foi uma briga para fazerem o b.o. porque nós éramos turistas e eles não queriam fazer”, relata Andressa, que conta que já passaram por outras situações difíceis durante as viagens, mas nada supera o que viveram ali. “É muito comum para quem viaja sem agência de viagem cuidando de tudo passar por situações assim. Mas independente de tudo, gostamos do nosso estilo, de viajar de maneira independente”.
Andressa é advogada e o marido, Paulo, é tatuador. Eles viajam com frequência, mas moram em Cascavel. Paulo é curitibano e Andressa é nascida em São Miguel do Iguaçu. Os dois se conheceram viajando e decidiram se estabelecer no Oeste do Estado depois de casar.
Desde 2023 o casal compartilha as viagens que faz no Instagram, TikTok e Youtube. A situação vivida no Peru foi registrada em maio e compartilhada nos stories, mas só foi relatada em vídeo no Instagram nesta segunda-feira, 08, e foi parar em uma página com milhões de seguidores, conhecida por divulgar situações inusitadas onde destinos paradisíacos e experiências “dos sonhos” se transformam em verdadeiros pesadelos, a @perrenguechique.
Apesar de o perfil famoso ter atraído curiosos para a página do casal, outros vídeos, mais positivos, atraíram mais seguidores. “O que mais viralizou e trouxe engajamento para o nosso perfil até hoje foi um em que falamos sobre como morar em Liechtenstein, que é um país na Europa, bem pouco conhecido”, diz Andressa.
Aos viajantes que gostam desse estilo de viagem, ela dá dicas valiosa depois de sobreviver ao “perrengue”: “Não deixar o cartão de crédito na aproximação, porque muitos perderam muito dinheiro com cartões que foram levados, e sempre estar com a bagagem, que era uma coisa que, às vezes, nós descuidávamos. Isso nunca mais vai acontecer.” Outro ponto é a atenção na hora de contratar agências. “Essa agência a gente contratou um dia antes, não fomos procurar nenhum ‘review’ sobre ela nem nada. Agora quando a gente for fazer um passeio mais fora da rota turística a gente vai se preparar antes de sair do Brasil, porque nossa agência do Peru nos deixou completamente desamparados”, finaliza.