A Polícia Federal (PF) investiga os despachos criminosos de drogas em bagagens para a Europa, saindo do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, há pelo menos oito anos. O Primeiro Comando da Capital (PCC) começou a remeter malas para o outro lado do Atlântico recheadas com cocaína desde que a fiscalização de remessas em pacotes aumentou.
O Metrópoles apurou que a primeira movimentação suspeita de funcionários na área restrita do maior aeroporto do Brasil, onde são manuseadas bagagens antes dos voos, foi registrada em 2015, quando as malas de um casal de idosos foram trocadas por bagagens cheias de droga.
A etiqueta de uma das malas das vítimas, na qual constava peso de 1,5 kg, estava colocada em uma bagagem que, após pesagem, indicou 30 kg. O peso extra era cocaína.
Caso a movimentação suspeita na área restrita não tivesse sido percebida, os idosos seriam provavelmente presos por tráfico internacional de drogas quando chegassem a destino final, na Europa.
As goianas Jeanne Paollini e Kátyna Baía não tiveram a mesma sorte. Ambas tiveram as etiquetas das bagagens trocadas quando partiram para a Alemanha, onde foram presas injustamente por tráfico internacional de drogas, em 5 de março.
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Depois de a PF mostrar que elas foram vítimas de um esquema criminoso comandado pelo PCC, dentro do Aeroporto Internacional de São Paulo, as brasileiras foram soltas da prisão alemã, no último dia 11, e retornaram ao Brasil.
O esquema
Em 2020, a PF organizou e unificou vários inquéritos policiais abertos para investigar os integrantes do esquema criminoso que usa o Aeroporto de Guarulhos para despachar drogas com destino à Europa. O modo de ação dos criminosos se assemelha em todos os casos.
Em um dos inquéritos, ao qual o Metrópoles teve acesso, é revelada a complexa estrutura financiada e mantida pela facção criminosa.
Tudo começa com motoristas de aplicativo, contratados para não chamar a atenção da polícia, mas que sabem o quê e quem transportam para o aeroporto. Eles são responsáveis por conduzir e deixar criminosos, geralmente disfarçados com roupas de companhias aéreas, em horários e locais predeterminados via mensagem de texto.
A pontualidade é fundamental, segundo as investigações da PF, para que as malas com drogas sejam despachadas rapidamente, sem que funcionários fora do esquema percebam a movimentação suspeita.
O preço a ser pago, por quem cumpre as obrigações profissionais, pode ser a própria vida. Em janeiro de 2020, o operador de esteira Arisson Moreira Júnior, de 34 anos, foi assassinado após barrar duas malas, com 60 quilos de cocaína, que seriam despachadas ilegalmente para a Europa.
Um funcionário do aeroporto foi preso, por envolvimento no homicídio, e três criminosos permanecem foragidos.
Brechas e organização
A quadrilha usa geralmente os mesmos veículos e motoristas para levar as malas com cocaína até o aeroporto. As bagagens são entregues na área de embarque a aeroportuários uniformizados ou pessoas disfarçadas como tais.
As malas são inseridas diretamente nas esteiras de voos nacionais, sem passar por qualquer tipo de fiscalização, já que as bagagens de voos domésticos não são obrigatoriamente submetidas ao aparelho de raio-x. Salvo quando há alguma suspeita.
Na maioria dos casos, as malas já chegam com etiquetas preenchidas à mão. As identificações são conhecidas como “rush” e usadas, legalmente, para remeter bagagens perdidas ou extraviadas ao destino de seus donos.
Os criminosos usam essa brecha para introduzir as malas com drogas nos embarques, sem a necessidade de um passageiro para fazer o check-in. Dentro da área restrita, funcionários cooptados pelo PCC manuseiam as malas para burlar a fiscalização, introduzindo-as em voos internacionais preestabelecidos.
As bagagens têm como principais destinos Lisboa e Porto, em Portugal, ou ainda Amsterdã, na Holanda.
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