A reforma partidária
Olá, pessoal, hoje eu deveria narrar para vocês a história das eleições municipais de 1980, mas elas não ocorreram. Foram adiadas para 1982, com a consecutiva prorrogação dos mandatos em curso.
O Brasil vivia uma fase de transição do regime militar para a democracia, em que foram feitas algumas reformas no sistema político e no calendário eleitoral.
Em 1979, já na agenda da redemocratização, foi promovida uma reforma política para pôr fim ao sistema bipartidário imposto pelo regime militar e reinstituir o sistema pluripartidário.
Para a oposição, era uma reivindicação democrática, pois o pluralismo político deve se expressar no sistema partidário, e não ficar engessado em duas legendas.
Para os mandatários do governo federal, era uma maneira de dividir a força crescente do MDB, comprovada nas últimas eleições para a representação federal.
Desde 1974, a legenda de oposição, o MDB, mostrava irresistível crescimento nas eleições para senador e para deputado federal. Desde a segunda metade da década de 1970, o país passou a viver uma grave crise econômica, que se estenderia pela década seguinte, o que fragilizava o governo federal e o seu partido.
A partir de 1979, foram criadas as novas legendas, algumas com existência ainda hoje. Para suceder a Arena, foi criado o PDS (Partido Democrático Social); para suceder o MDB, foi criado o PMDB, preservando o nome antigo, dotado de forte mística oposicionista. Ainda foi recriada a legenda do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), mas não sob o controle dos antigos trabalhistas. Por isso, Leonel Brizola comandou a criação do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Outra legenda criada no período foi o PT, Partido dos Trabalhadores. Se você não sabe a origem dos números dos partidos, note que essas cinco legendas têm numeração de 11 a 15: PDS,11; PDT,12; PT, 13; PTB, 14; PMDB, 15. Atualmente, o Partido Progressista, sucessor do PDS, é o 11.
Ainda foi criada uma sexta legenda, chamada Partido Popular, liderada por Tancredo Neves, mas houve um reagrupamento dentro do PMDB para não enfraquecer o principal partido de oposição.
No calendário da abertura política, havia a previsão de realização de eleições a governador em 1982, a primeira desde 1965. Para tentar dificultar o caminho da oposição, promoveu-se o adiamento das eleições municipais para que elas coincidissem com a eleição ao governo estadual. Apostava-se na municipalização dos debates, desviando a atenção dos principais temas nacionais, muito salientes por causa da crise econômica que se agravava.
A eleição foi adiada, mas a manobra não deu certo, ou seja, não conteve o crescimento do PMDB. Esse é o tema do nosso próximo encontro, quando vou abordar a eleição municipal de 1982.
Ouça o episódio:
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