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08 de dezembro de 2025

Resenha: O Céu da Meia-Noite


Por Favor Rebobinar Publicado 11/02/2021 às 17h04 Atualizado 19/10/2022 às 10h21
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George Clooney já atuou em dois filmes ambientados no espaço em sua trajetória no cinema: o remake que absolutamente ninguém pediu “Solaris” (2002), de Steven Soderbergh, e o visualmente deslumbrante “Gravidade” (2013), de Alfonso Cuarón. Com o seu novo projeto, “O Céu da Meia-Noite”, em que não só protagoniza como também assume a função de diretor, concluímos que Clooney aprendeu foi nada com as suas experiências prévias. Este é de longe o pior filme que leva a assinatura da Smokehouse Pictures, produtora fundada pelo ator/cineasta.

A trama se passa em 2049, ano em que o planeta Terra precisou ser evacuado por causa de uma catástrofe global, a respeito da qual o roteirista Mark L. Smith decidiu privar o espectador de mais informações. No piloto automático, Clooney interpreta um cientista que trabalha isolado em um observatório no Círculo Polar Ártico. Quando ele descobre que um grupo de astronautas está regressando após uma missão fracassada, Clooney enfrenta a nevasca para ir a uma central de comunicação avisá-los para não voltarem, porque decerto os astronautas não seriam capazes de ver a Terra devastada estando na nave espacial e com uma visão macro do planeta.

A premissa de “O Céu da Meia-Noite” já não é grandes coisas, e o roteiro definitivamente não ajuda. A começar pelos flashbacks expositivos e desnecessários, que surgem de supetão apenas para sublinhar o sentimentalismo corriqueiro da história. Já no tempo presente, na Terra, temos um cientista incompetente que não sabe diferenciar o solo de uma camada de gelo sólido. Para além disso, há uma cena impressionante que desafia as leis da natureza, em que uma tempestade glacial é magicamente interrompida pelo nascer do sol. Nesta mesma passagem, a criança que acompanha Clooney em sua desventura, exposta a uma temperatura negativa, sequer bate o queixo de frio. São tantos furos no roteiro que o filme se torna um teste de paciência.

Mas a pior parcela do script é reservada aos astronautas desavisados, que não têm 1% do carisma de “Star Trek”: 1) a NASA deveria selecionar melhor a tripulação, porque este grupo precisa urgentemente de aconselhamento psicológico; 2) como em sã consciência alguém envia uma grávida para uma missão no espaço?; 3) Há uma cena de tensão em que três astronautas precisam consertar o radar na parte externa da aeronave em órbita. Adivinha quem eles mandam? A coitada da grávida! E se não bastasse, enviam uma jovem astronauta inexperiente. Essa operação, mesmo equivocada desde o princípio, é um dos poucos momentos proveitosos em todo o filme.

O elenco de bons atores é completamente desperdiçado. Felicity Jones, David Oyelowo, Kyle Chandler e Demian Bichir defendem personagens pálidos, sem atrativos, que estão ali apenas para cumprir uma função narrativa estapafúrdia. Já Clooney parece ter sido acometido pelo espírito da preguiça, e acha que andar moribundo e fazendo cara de coitado é composição interpretativa. Na verdade, é até irritante o quanto o protagonista é um ser imprestável. Podemos redimi-lo por conta da falta de esperança e da saúde debilitada, mas não considero argumentos válidos até porque na tarefa que ele se propõe a executar, se comporta como um grande inútil. É bem difícil o espectador se apegar a qualquer das pessoas desinteressantes deste filme.

A preguiça acompanha Clooney também para atrás das câmeras. Sua direção é muito falha seja nas cenas em que deseja criar tensão ou evocar emotividade. Neste último caso, o que era pra ser comovente descamba para o fundo do poço da cafonice, e o desfecho revela alguns truques manjadíssimos dos quais o público já está exaurido.

“O Céu da Meia-Noite” é visualmente irrepreensível. Mesmo óbvia, a fotografia assinada por Martin Ruhe é competente, assim como os ótimos efeitos visuais na concepção dos cenários e dimensão dos elementos cênicos. Já a trilha sonora de Alexandre Desplat, embora com bonitas e diferentes composições, incomoda porque não dá trégua. Os grandes problemas da produção residem no roteiro com mais buracos do que queijo suíço e na direção canhestra de Clooney. Ou seja, o filme é belíssimo e tedioso vácuo.

“O Céu da Meia-Noite” está disponível no streaming da Netflix.

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Cinema e divagações, por Elton Telles.