Com o cérebro na mão: Pessoas egocêntricas em um século etnocêntrico

O futuro nasce do que é múltiplo. A frase é emblemática, embora controversa para a gestão das políticas culturais. Se de um lado temos a presença inexorável da diversidade cultural, que hasteia bandeiras em diferentes grupos, do outro identificamos o etnocentrismo que resulta em tensões e conflitos entre os opostos.
O livro “Com o cérebro na mão: no século que gosta de si mesmo”, de Teixeira Coelho, aborda esse paradoxo por meio das tecnologias do novo milênio. Ao tempo que as inovações propõem novas formas, especialmente, de distribuição de produtos culturais, o egocentrismo tende a encontrar eco nas formas de produção de conteúdos. Se nos séculos passados os livros eram obras raras, hoje os “escritores modernos” escrevem diariamente nos murais de suas timelines aquilo que julgam pertinente e digno de leitura alheia.
Mas, afinal, o fundamento central da gestão cultural não seria ampliar o acesso aos produtos culturais?
A resposta categórica é sim. Entretanto, nem tudo que se produz é digno de consumo. Este fato precisa ser levado em consideração, devido ao quesito elementar do tempo finito que temos de vida. Não é por outra questão que “(…), a atenção das pessoas é fungível”. Tão importante é este aspecto que as novas plataformas da web constantemente aprimoram suas análises para compreender como manter a atenção dos usuários em seus conteúdos.
Com isso, abre-se um debate ainda pouco abordado no meio cultural, que é justamente o conflito entre grupos a partir da democracia digital. Pessoas publicando vídeos que apresentem pontos de vista favoráveis a determinadas crenças ou ideologias políticas não deveriam ser colocadas no mesmo bojo daquelas que compartilham conteúdos contrários aos mesmos temas? A pessoa pode ter uma opinião e expressar outras formas de cultura?
Ao que tudo indica, quando nos travestimos de usuários da rede, uma parte de seus usuários tende a se transformar em personagens de um reality show, onde são personificadas posturas – para o bem e para o mal -, que, provavelmente, não existiriam na “vida real”. Pelo menos, não de maneira tão explícita como ocorrem por vezes.
Por outro lado, a questão central que fica é, se a web sabe tanto sobre nós, por quê ainda tendemos a consumir aquilo que não nos edifica?
A forma como as tecnologias, utilizadas deliberadamente, vêm tencionando novos conflitos pode ser uma das pistas para a formulação desta resposta. Dito de outra forma, nada mais que tendências de um século etnocêntrico direcionando a vocação de pessoas cada vez mais egocêntricas.