As eleições presidenciais de 1945

Em outubro de 1945, chegava ao fim a ditadura do Estado Novo com a deposição do presidente Getúlio Vargas. Em dezembro daquele ano, seriam eleitos o novo presidente do Brasil e os parlamentares que elaborariam a nova Constituição Federal.
Com o fim iminente da Segunda Guerra Mundial e a anunciada vitória dos aliados, o regime do Estado Novo se tornava insustentável. Participando da guerra ao lado dos Estados Unidos e da Inglaterra contra o fascismo, o Brasil não poderia manter aquela ditadura. Desde o início daquele ano, a oposição mostrava seu rosto e os mecanismos de censura foram afrouxados. Pragmático, o presidente Getúlio Vargas decretou anistia e editou regras para a formação de partidos políticos, cadastramento de eleitores e realização dos certames eleitorais.
Naquele ano, foram criados os três principais partidos que comandariam a política nacional no novo período: o Partido Social Democrático (PSD); o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e a União Democrática Nacional (UDN). A liderança do PSD era constituída pelos interventores que Vargas nomeara para governar os estados. O PTB procurava canalizar a popularidade do presidente junto aos operários, em razão da implementação da legislação trabalhista. A UDN era o partido liberal do período, visceralmente antitrabalhista e antivarguista. Outra força que emergia era do Partido Comunista do Brasil (PCB), legalizado na metade do ano.
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Para espanto da oposição varguista, surgiu um movimento político, com forte apelo popular, que reivindicava que o presidente Vargas pudesse ser candidato ou que fosse o fiador da nova constituição, mediante adiamento da eleição presidencial. Com o lema “queremos Getúlio”, era chamado de “queremismo”. Temendo que Vargas impusesse uma solução continuísta, a liderança militar depôs o presidente, mas seus direitos políticos não foram cassados, o que permitiu que ele fosse candidato a uma cadeira na Constituinte e fosse eleito como senador. Para a oposição, o queremismo encerrava uma contradição: pedir a sobrevivência política do ditador quando a ditadura acabava. Havia, contudo, uma lógica: temia-se que, com a ascensão da oposição liberal ao poder, a legislação trabalhista fosse revogada.
O quadro de candidatos foi assim constituído. Pela UDN, candidatou-se o brigadeiro Eduardo Gomes, militar de grande prestígio. Pelo PSD, o candidato foi o marechal Eurico Gaspar Dutra, ex-ministro de Vargas. O Partido Comunista lançou o engenheiro Yedo Fiuza. O PTB, embora dividido, apoiou Gaspar Dutra.
Até a reta final, o brigadeiro Eduardo Gomes era visto como franco favorito, mas houve uma reviravolta. Fora da disputa principal, mediante negociação em favor da preservação da legislação trabalhista, Vargas declarou apoio a Dutra na reta final, invertendo a tendência.
O candidato da UDN desdenhou da força do eleitorado de Vargas, dizendo que não precisava “dos votos daquela malta de desocupados que apoia o ditador”. Os aliados de Vargas traduziram “malta” por “marmiteiro”, um dos sentidos possíveis, e a campanha ganhou um sabor mais popular. Para esses propagandistas, tratava-se do voto do povo humilde, os marmiteiros, contra o candidato das elites. Confirmando a virada, as urnas registraram os seguintes números:
| Eurico Gaspar Dutra | PSD | 3.251.507 | 55,39% |
| Eduardo Gomes | UDN | 2.039.341 | 34,74% |
| Yedo Fiuza | PCB | 569.818 | 9,71% |
No Paraná, Dutra obteve 70% dos votos.
Assim, Dutra se tornou presidente da República, mas salienta-se que Vargas sobreviveu politicamente e teve protagonismo na definição dos resultados. O fato mais importante, porém, é que essa foi a primeira vez, em nossa história, que o povão participou de uma eleição presidencial com poder de decisão.
