Um Comparativo Entre as Expectativas Macroeconômicas passadas para 2024 e O atual Cenário Macroeconômico

Na macroeconomia, as expectativas expressam significativa importância, pois são a partir destas que os agentes econômicos baseiam suas decisões presentes, inclusive, parte dos indicadores futuros podem ser influenciados pelas expectativas presentes. No caso da inflação por exemplo, o governo gera uma “âncora” para estas expectativas e o Banco Central executa políticas com o objetivo de manter ancoradas a própria inflação e as expectativas por parte dos agentes econômicos sobre este valor fixo. Na prática, conhecemos esta metodologia como o “Regime de Metas de Inflação”.
São as instituições financeiras e acadêmicas conhecidas por formularem de forma pontual expectativas sobre múltiplas variáveis econômicas incluindo a inflação, baseando-se no cenário econômico presente e em estatísticos/econômicos aplicados à dados passados e presentes. Na prática, os dados destas instituições são coletados pelo Banco Central do Brasil (BCB), calculada a mediana destes, e divulgados nos Relatórios Focus toda segunda-feira.
Dessa forma, fica o questionamento: estas expectativas são confiáveis e precisas? Para responder esta pergunta, neste texto serão analisados os dados das últimas expectativas divulgadas em 2023 e as últimas expectativas divulgadas neste ano, sendo ambos referentes ao ano de 2024 como um todo. Dentre os dados analisados encontram-se:
- IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo): É a principal medida de inflação, baseado nas variações de preços dos principais itens comercializados no varejo, utilizados por famílias cujo rendimento varia entre 1 a 40 salários mínimos. No Brasil, como mencionado anteriormente, é implementado o “Regime de Metas de Inflação”, onde o Banco Central deve realizar suas políticas com o objetivo de manter a inflação anual dentro de determinados limites, estes que são impostos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
- PIB (Produto Interno Bruto): Representa toda a produção final dentro de um país em determinado período. Não deve ser considerado uma métrica de estoque de riqueza, mas sim de um fluxo.
- Taxa de Câmbio (Dólar): O dólar é a principal moeda utilizada em negociações internacionais, por isso, quando se fala em taxa de câmbio, a primeira moeda a se considerar é o dólar. Dessa forma, se a taxa de Câmbio aumenta, os preços de insumos e produtos importados tornam-se mais caros, ao mesmo tempo as importações são incentivadas em prol do comércio interior, de forma a aumentar também os preços de produtos produzidos nacionalmente.
- Taxa Selic: É considerado o preço da nossa moeda, o Real, de forma a servir como base para as taxas de juros de empréstimos no geral. Dessa forma, um aumento da taxa Selic torna investimentos produtivos menos atrativos, reduzindo a atividade econômica e consequentemente a inflação. Além disso, o mesmo aumento nesta taxa é capaz de tornar mais atrativos investimentos em títulos da dívida pública, resultando consequente em maior demanda por Real e queda na taxa de Câmbio.
- Resultado Primário: É a subtração entre as receitas correntes e as despesas correntes do governo em determinado período. Ou seja, o quanto o governo arrecada com taxas, tributos etc., menos seus gastos operacionais em suas diversas áreas de atuação. Se o governo arrecada mais do que gasta, temos um superavit primário, de forma a demonstrar controle nos gastos públicos, caso contrário, há um déficit primário, considerado um problema no âmbito fiscal.
Segue abaixo a Tabela comparativa entre os dados macroeconômicos mais recentes e o que se esperavam deles no final do ano passado

Historicamente, no geral, podem ser consideradas otimistas as previsões para os diversos indicadores listados. Entretanto, a realidade presente sempre se mostra mais desafiadora com cenários de imprevistos e situações de incertezas, resultando por exemplo, em uma taxa de Câmbio que atingiu um valor 21,4% maior que o previsto para o final do ano.
Segundo o Banco central, a atividade econômica doméstica encontra-se positiva e dinâmica se observarmos o mercado de trabalho, os indicadores de comércio e as taxas de desemprego. De forma que, os preços dos serviços se elevam, gerando um peso na inflação final (IPCA). Além disso, outro fenômeno interno que impactou na inflação, desta vez dos alimentos, foi a estiagem observada ao longo deste ano.
Por outro lado, cenário econômico internacional é desafiador devido a postura da economia Norte-Americana e Banco Central (FED), gerando incertezas sobre os ritmos de desinflação, desaceleração da atividade econômica, possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho e introdução de tarifas à importação.
Segundo a IFI (Instituição Fiscal Independente), por um lado, a economia está crescendo devido a robustez do mercado de trabalho, influenciando positivamente a variação do PIB. Mas por outro lado, as incertezas relacionadas ao desequilíbrio dos gastos públicos afetaram as expectativas dos agentes econômicos, que por sua vez, afetaram a inflação, os juros e as taxas de Câmbio.
Apesar das arrecadações terem crescido expressivamente, estas não foram capazes de compensar o crescimento estrutural e permanente das despesas. Dentre estes pode-se mencionar:
- A manutenção do benefício do Bolsa Família no valor pago durante o período da pandemia;
- A retomada dos pisos constitucionais de educação e saúde;
- A volta da regra de correção do salário-mínimo atrelada ao crescimento da economia;
- A criação dos fundos orçamentários previstos na reforma tributária;
- O aumento da complementação da União ao Fundeb até 2026;
- A eliminação do represamento do pagamento de precatórios;
- O retorno da vinculação do valor das emendas parlamentares à receita corrente líquida da União;
De forma resumida, podemos listar as causas das discrepâncias entre as expectativas e os dados presentes da seguinte maneira (um fator pode afetar múltiplas variáveis): - IPCA: Economia local e mercado de trabalho aquecidos, estiagens (que prejudicam a produção de alimentos) e expectativas negativas sobre os gastos públicos;
- PIB: Economia local e mercado de trabalho aquecidos;
- Taxa de Câmbio: Cenário internacional incerto e expectativas negativas sobre os gastos públicos;
- Taxa Selic: IPCA elevado, cenário internacional incerto e expectativas negativas sobre os gastos públicos;
- Resultado Primário: Implementação de políticas públicas, nas quais geram elevados custos aos cofres públicos. Por fim, conclui-se que prever cenários econômicos não é uma tarefa fácil, de forma que: imprevistos podem ocorrer, como novas políticas e fenômenos climáticos, pesando fortemente sobre a macroeconomia presente e justificando as imprecisões das expectativas passadas sobre o presente.