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22 de novembro de 2024

Oscar 2021: Os Curtas-Metragens de Ficção


Por Elton Telles Publicado 07/04/2021 às 15h33 Atualizado 19/10/2022 às 10h21
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O Favor Rebobinar prossegue a cobertura dos curtas-metragens indicados ao Oscar 2021. Os documentários e animações já tiveram seus devidos espaços, agora é a vez dos candidatos da categoria Melhor Curta-Metragem de Ficção, que representam os Estados Unidos, Israel e Palestina – uma coincidência, no mínimo, conflituosa.

Em ordem de preferência, os indicados são…

WHITE EYE
Direção: Tomer Shushan
20 min.

Uma bicicleta roubada e encontrada pelo seu verdadeiro dono desencadeia uma série de tragédias no vigoroso curta-metragem “White Eye”. A partir de um argumento bem simplista, o diretor e roteirista Tomer Shushan abre um leque de assuntos relevantes, os quais aborda com admirável competência em tão pouco tempo, como racismo, imigração, xenofobia e parcialidade policial. Em uma Israel esmagada pelo conservadorismo, o filme busca em sua raiz histórica o peso da culpa e da responsabilidade daquilo que não pode ser desfeito. Já foi, e as consequências precisam ir na conta de alguém.

Além da boa história e metáforas, o aspecto formal de “White Eye” é deslumbrante e salta aos olhos do espectador por ser rodado integralmente em um desafiador plano-sequência ininterrupto. No Oscar, se a categoria Melhor Fotografia contemplasse curtas-metragens, Saar Mizrahi seria um candidato de peso.

Político até a medula, “White Eye” é um conto sobre privilégios e as justiças cegas que assombram o dia a dia, chegando a ponto de estrangular planos e sonhos. E tudo por causa de uma maldita bicicleta.

“White Eye” não está disponível em nenhuma plataforma online.

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THE LETTER ROOM
Direção: Elvira Lind
33 min.

“The Letter Room” é um simpático filme sobre um agente carcerário que é promovido para gerir a sala de correspondências de uma prisão. Ele se torna responsável por ler todas as cartas que os detentos escrevem e recebem de seus familiares, com a liberdade concedida de censurar informações ou reportar quaisquer irregularidades à direção do presídio. O curta-metragem carrega um humor visual discreto, principalmente quando se dedica a mostrar o protagonista em sua privacidade: um homem medíocre e solitário, mas de bom coração, que passa as noites assistindo telenovelas mexicanas enquanto sustenta péssimos hábitos alimentares.

O ator Oscar Isaac entrega uma atuação comedida, encaixando-se perfeitamente no papel. A diretora Elvira Lind – casada com Isaac na vida real – é econômica na condução da história e opta por estender o efeito cômico para a trilha sonora incomum, com instrumentos de percussão. Mesmo quadradinho, “The Letter Room” é um filme bacana sobre o interesse pela vida dos outros quando a sua não tem muito o que contar. 

“The Letter Room” não está disponível em nenhuma plataforma online.

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FEELING THROUGH
Direção: Doug Roland
18 min.

A história de “Feeling Through” se passa inteiramente em uma noite e acompanha um jovem negro e desabrigado que decide ajudar um homem com deficiência visual e auditiva a tomar o ônibus de volta para casa.

O grande atrativo do curta é a pauta da inclusão e representatividade, respeitada pelos realizadores por terem escalado o inexperiente Robert Tarango, um ator cego e surdo, para dar vida ao personagem central. Essa atitude é louvável e merece ser comemorada.

No entanto, “Feeling Through” narra uma história bonitinha sobre solidariedade, embalada em uma caixinha com um laço, pronta para o espectador de coração mais mole se emocionar. Fazendo um paralelo, o curta me lembrou aquela clássica propaganda da Fundação para uma Vida Melhor, exibida na TV nos idos dos anos 90. Mas “Feeling Through”, lamento dizer, é bem menos marcante.

“Feeling Through” está disponível com legendas em inglês no YouTube e pode ser conferido aqui.

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DOIS ESTRANHOS
Direção: Travon Free, Martin Desmond Roe
32 min.

O título do curta-metragem provém da canção “Changes”, do rapper Tupac, quando ele diz “aprenda a me ver como um irmão em vez de sermos dois estranhos”. O roteiro de “Dois Estranhos” se baseia em um encontro nada promissor entre um jovem negro e um policial branco, que rende o rapaz e o mata à luz do dia. No estilo “Feitiço do Tempo” (1993), o protagonista entra em um loop infinito e sempre retorna ao ponto de partida, e articula várias formas de não morrer antes de se deparar com o seu assassino. O filme encontra espaço para saídas cômicas, mas é, em essência, revoltante, não só pela temática, mas pelos rumos narrativos que a trama escolhe trilhar.

A ideia de “Dois Estranhos” é boa, já a intenção é das melhores, com homenagens a vítimas recentes de homicídio policial, como George Floyd e Breonna Taylor; porém a execução do filme, além de não ser original, é equivocada para justificar o seu formato e peca pela superficialidade.

“Dois Estranhos” está disponível no streaming da Netflix.

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O PRESENTE
Direção: Farah Nabulsi
24 min.

Mais um caso de filme tematicamente relevante, mas cuja realização deixa a desejar, tais quais os decepcionantes e já comentados acima “Feeling Through” e “Dois Estranhos”. Este “O Presente” se passa na Palestina e acompanha um passeio de pai e filha, que precisam atravessar a fronteira para a Cisjordânia com o intuito de comprarem um presente para a matriarca, em comemoração ao aniversário de casamento do casal.

Primeiro filme da diretora Farah Nabulsi, “O Presente” até insiste na tentativa, mas nunca alcança o seu ápice emocional, e o resultado soou um tanto indiferente pra mim.

A invasão/ocupação de Israel em território palestino, o controle violento exercido pelos militares e o preconceito já naturalizado naquele lugar… tudo isso é encontrado no filme, todavia, é mostrado de maneira simplificada, diminuído com uma encenação que beira o amadorismo. Ficou só na promessa.

“O Presente” não está disponível em nenhuma plataforma online.

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