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25 de dezembro de 2025

Mentoria reversa e dupla escuta: como reorganizar os papéis para reduzir conflitos e aumentar resultados


Por Redação GMC Online Publicado 22/12/2025 às 16h52
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Nas empresas contemporâneas, o verdadeiro ponto de fricção não está nas tecnologias que se sucedem com velocidade cada vez maior, mas na convivência entre pessoas que nasceram em tempos distintos, moldadas por referências, valores e linguagens diferentes. O choque entre gerações não é, portanto, um problema de idade, e sim de repertório. Enquanto os mais jovens valorizam autonomia, propósito e fluidez, os mais experientes carregam a força da consistência, da memória institucional e da visão de longo prazo. O desafio está em transformar essa diferença em potência, e não em ruído.

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Foto: Imagem ilustrativa | IA

É nesse contexto que surgem dois conceitos fundamentais para o novo mundo do trabalho: mentoria reversa e dupla escuta. Ambos partem do mesmo princípio, o de que o aprendizado precisa ser recíproco e contínuo, e de que a hierarquia do conhecimento não coincide necessariamente com a hierarquia de cargos. Em uma era de mudanças aceleradas, o saber deixou de ser estático; ele circula, se renova e ganha valor quando compartilhado entre pares.

A mentoria reversa rompe com o modelo tradicional em que a experiência é linear e unilateral. Nela, o profissional mais jovem torna-se referência em temas contemporâneos, como novas tecnologias, ferramentas digitais, cultura de rede e comportamento das novas gerações. Ao mesmo tempo, o mentor mais velho oferece contexto, análise crítica, visão estratégica e maturidade emocional. O encontro entre essas duas perspectivas não apenas equilibra o olhar, mas também cria um senso de complementaridade que eleva o desempenho coletivo.

Contudo, a prática só funciona quando sustentada por uma cultura de respeito. A transformação do jovem em referência não pode ser interpretada como uma perda de autoridade do mais velho. É um rearranjo de papéis, e não uma substituição. O valor está na coexistência, não na competição. Quando as lideranças mais experientes aprendem a escutar sem medo de parecerem desatualizadas, e os mais novos compreendem a importância do repertório e da história, o ambiente se torna fértil para a inovação relacional — aquela que nasce do diálogo genuíno e da humildade intelectual.

A dupla escuta amplia esse movimento. Trata-se de criar canais formais e informais de troca em que todos possam ser ouvidos, não apenas para expressar opiniões, mas para compreender o raciocínio do outro. Escutar não é apenas esperar a vez de falar; é se abrir para ser transformado pela escuta. Essa é a base da convivência intergeracional produtiva.

Empresas que adotam práticas estruturadas de mentoria reversa e dupla escuta observam resultados concretos: aumento do engajamento, fortalecimento de vínculos de confiança, redução de conflitos internos e crescimento da sensação de pertencimento. Os times se tornam mais diversos cognitivamente, mais empáticos e mais criativos. É o tipo de inteligência coletiva que não se compra, apenas se cultiva.

A inspiração vem das culturas das startups, onde as hierarquias são mais horizontais e o trabalho em pares é parte da rotina. Nesses ambientes, é comum ver um desenvolvedor de 22 anos ensinando novas linguagens de código a um gestor de 50, que por sua vez o orienta em planejamento estratégico e gestão de equipes. Essa convivência orgânica e sem formalismos cria um aprendizado contínuo, que vai além de manuais e treinamentos: é um aprendizado que acontece no fluxo do trabalho, pela observação e pela troca.

Para empresas mais tradicionais, incorporar esse modelo requer um movimento de desapego e coragem. É necessário repensar estruturas, permitir conversas honestas e, principalmente, reconhecer que a liderança não é um posto fixo, mas uma prática que pode ser exercida por qualquer pessoa que contribua com valor real. Criar programas de mentoria reversa e espaços de dupla escuta é mais do que uma política de RH,  é uma estratégia de transformação cultural.

Quando a mentoria reversa se consolida, o ambiente se torna mais colaborativo e menos defensivo. O sênior deixa de se sentir ameaçado pela tecnologia e passa a enxergá-la como extensão de suas competências. O júnior deixa de se sentir invisível e passa a perceber que pode contribuir para decisões relevantes. Surge, assim, uma nova gramática organizacional, baseada na troca, no respeito e na cocriação.

O futuro das organizações não está apenas em máquinas mais inteligentes, mas em pessoas mais dispostas a aprender umas com as outras. A empresa que aprende a ouvir duplamente, com o ouvido da experiência e o ouvido da inovação; cria um ecossistema em que o tempo deixa de separar e passa a unir. Nessa nova lógica, gerações não competem: elas se complementam. E, quando isso acontece, o conflito se transforma em resultado.

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