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26 de abril de 2024

CINE QUARENTENA #2 – NETFLIX


Por Elton Telles Publicado 23/03/2020 às 16h14 Atualizado 23/02/2023 às 05h07
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Começamos o período de quarentena com recomendações de filmes disponíveis na Amazon Prime; agora migramos para a plataforma que talvez seja a mais popular da rede de streaming: a Netflix.

Independentemente do gênero ou ano de lançamento, o único critério utilizado para a sugestão dos filmes abaixo é: vale a pena assistir.

 

Hit do cinema espanhol, a ficção “O Poço” (2019) bebe de muitas referências para solidificar a sua trama. A mais óbvia, a ponto de incluí-la como objeto de relevância na história, é o romance clássico “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes. Fora isso, o espectador consegue detectar vagas influências de “O Capital”, de Karl Marx; alguns preceitos teóricos de Michel Foucault; a animalização do ser humano presente em Saramago; o conceito de cenário distópico visto em George Orwell; e até a Bíblia entra como fonte para reforçar determinados efeitos narrativos. O roteiro de David Desola e Pedro Rivero meio que chuta para todos os lados a fim de tentar costurar uma “crítica social foda”. Ainda que suas pretensões sejam superficiais, “O Poço” acaba sendo um entretenimento instigante e envolvente.

A forma como a ideia é introduzida e vai sendo desdobrada é um acerto do filme. Somado a isso, principalmente na primeira metade, a condução do estreante Galder Gaztelu-Urrutia indica desenvoltura para lidar com o suspense. Lamentável, no entanto, é concluir que a segunda metade da história é incapaz de segurar o interesse e se rende ao gore desmiolado, nem sequer contextualizando ou respondendo certas questões pertinentes que levanta de início, daí a sensação de incompletude.

Se encarado como um passatempo eficiente, “O Poço” é uma boa pedida. Já quem espera análises mais aprofundadas, a alegoria é digna de um universitário recém-ingresso, com várias dicas de leitura anotadas, mas ainda verde e com pouco embasamento.

https://www.youtube.com/watch?v=IKoURpr85pI

Combinação de noir com fantasia, “O Sonho de uma Casa” (2018) é um conto de mistério que se passa em Singapura, onde um imigrante chinês que trabalha como operário em um aterramento marítimo sumiu sem deixar vestígios. Adentra na história a figura do detetive, um policial que é designado para investigar o desaparecimento da vítima. A partir de então, o roteiro estrutura um quebra-cabeça atípico e sombrio, uma espiral de loucura que arrasta todos os envolvidos para dentro de um labirinto. Embriagado pela fotografia hipnótica de Hideho Urata, o filme se vale de uma liberdade narrativa em que se mostram mais interessantes os meios do que o fim, nem sempre com desdobramentos racionais. Isto é, a resolução do caso pode soar insatisfatória, mas é cativante o fluxograma de possibilidades que leva até ela.

A condução de Siew Hua Yeo não entrega pistas ao espectador, mas esbarra em temas pertinentes e expostos de maneira curiosa, tais quais o percalços de ser um imigrante em uma terra desconhecida, a paisagem em transformação mediada pelo sistema e as precárias condições trabalhistas de um emprego informal, o que faz deste filme um parente distante do excelente drama nacional “Arábia” (2018). Outra situação bem pontuada em “O Sonho de uma Casa” é a reflexão interna e histórica envolvendo o seu país de origem, que, como sugere um dos personagens, Singapura foi formada pela “doação territorial” dos países vizinhos, como Malásia, Vietnã e Indonésia. É uma terra imaginada, de aspecto ideal, sem chão. Todas essas questões emblemáticas são pontos altos que norteiam uma trama ilusória e marcada pela estranheza.

Uma das razões que posicionou Martin Scorsese como um dos maiores cineastas vivos, além do já comprovado talento para filmar e contar histórias, é a coerência de sua filmografia, surpreendente pela versatilidade em trafegar por diferentes gêneros. Ainda assim, seu nome consolidado está geralmente ligado a produções que abordam o submundo da máfia, visto que grandes filmes ambientados neste universo levam a sua assinatura, como “Os Bons Companheiros” (1990), “Cassino” (1995) e o oscarizado “Os Infiltrados” (2006). Com uma aura de despedida desta temática, em “O Irlandês” (2019), Scorsese intensifica a dramaticidade, pisa no freio e substitui o desassossego pela melancolia, aproximando-se de um tom mais vagaroso e introvertido.

A cadência do ritmo do filme está diretamente associada ao avançar dos 20 anos cobertos pelo roteiro e, consequentemente, às debilitações ocasionadas pela idade do trio central, defendido por desempenhos marcantes de Robert De Niro, Joe Pesci e Al Pacino. Não foram contratados atores mais novos para interpretá-los na mocidade, em vez disso, um apurado e distrativo trabalho de efeitos visuais removeu as rugas e linhas de expressões dos intérpretes. Outros departamentos se mostraram mais bem resolvidos, como a montagem da parceira habitual do diretor, Thelma Schoonmaker, responsável parcial pela identidade de seus projetos, e a trilha sonora atmosférica e curtida na ironia assinada pelo guitarrista Robbie Robertson.

Há excessos em “O Irlandês” que poderiam ser facilmente eliminados, mas não passam de incômodos inexpressivos diante da grandiosidade que o filme representa. Aqui, Scorsese usa de elementos fictícios para redesenhar o histórico de ascensão e declínio do império norte-americano, fundamentados na lealdade e, posteriormente, na traição. De forma magistral, o filme coroa a imensa contribuição do cineasta a um subgênero com tantos títulos notáveis.

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