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19 de maio de 2024

Glory hole, dark room: ‘Lan house do sexo’ tem público ‘fiel’ e fica no centro de Maringá


Por Ivy Valsecchi Publicado 28/07/2023 às 10h10 Atualizado 31/07/2023 às 10h53
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Sexo sem compromisso no Centro de Maringá, das 10h às 22h, de segunda a sábado. É o que buscam as pessoas que frequentam o que se pode chamar de ‘lan house do sexo’.

Cabine individual da ‘lan house do sexo’ de Maringá. É a mais simples, com um glory hole, uma espécie de janelinha que permite contato com a pessoa que está na cabine ao lado, e não permite visita. Foto: Divulgação/Cyber Hot

Em um espaço de cerca de 480m², na Rua Octavio Perioto, no Centro de Maringá, os visitantes circulam pelas cabines, sala de cinema que transmite filme pornográfico, uma sala com sofá, bar e palco com pole dance, e pelos famosos dark rooms, os quartos pretos, onde, com consentimento, ‘vale tudo’ e ninguém consegue se ver.

A reportagem esteve no Cyber Hot e o que vimos foi um lugar movimentado em uma terça-feira no começo da tarde. O lugar é climatizado, com alguns ambientes claros e outros com ‘clima de balada’. Nos sentamos para conversar com o casal proprietário do cyber em uma das 15 cabines, a vip, que é mais espaçosa do que as tradicionais, tem cama de massagem e permite a visita de até três pessoas.

Os donos do local

João Emanuel Leite Tomé, de 44 anos, e Andressa Scheretter, de 42 anos, vieram há seis anos de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, para Maringá, com o objetivo de ficar mais perto da família e abrir o próprio negócio. Mas o que poderia dar certo na cidade? Como ganhar dinheiro? O que dá retorno rápido? “Sexo. Todo mundo faz sexo”, concluíram. Surgiu, então, a ideia do cyber, aberto há 1 ano e 2 meses. Andressa trabalhava como correspondente bancária e João como massoterapeuta. “Por isso um dos ganchos de ter aberto isso aqui. Foi um dos espaços que a gente pensou. Hoje eu não trabalho mais na área, não atendo mais, mas temos o espaço para os clientes”, explica Tomé, referindo-se à cama de massagem de uma das cabines vip.

O horário de funcionamento e a localização são estratégicos. “Foi uma das nossas apostas. Ou a gente criava em um local mais isolado, mais longe, ou a gente procurava no Centro. Daí a gente procurou no centro, porque acontece aquela rapidinha na hora do almoço. Acabou dando certo. Sobre o horário, já tentamos funcionar de madrugada, mas não deu certo. A região aqui é mais diurna mesmo, e é o horário que a galera tá trabalhando e dá uma ‘escapadinha'”, explica o casal.

Na ‘lan house do sexo’ a discrição é a palavra de ordem. Os clientes costumam usar nomes fictícios. “O que acontece aqui, fica aqui”, ressalta Andressa.

Algo que também chama a atenção são os sons que se escutam de todos os ambientes. E a ideia é justamente essa, todo mundo poder se escutar. “Quanto mais barulho acontece mais a galera ‘fica louca’. É assim que funciona”, diz a proprietária.

‘Buracos da glória’…dark rooms: como funciona a ‘lan house do sexo’ de Maringá

A ‘lan house do sexo’ de Maringá funciona com alugueis de cabine. Quando o cliente chega, o casal apresenta a casa e mostra os ambientes comuns, nos quais é liberado circular sem custo: a sala com bar, sofá e pole dance, os dark rooms, cinema privê e corredores. Depois, é direcionado para uma das cabines, que oferecem preservativos e é onde ficam os famosos glory holes entenda abaixo.

Pelo computador que fica na cabine o cliente acessa o sistema do cyber e começa a conversar pelo chat com as pessoas que estão nas outras cabines, sem que ninguém se veja. A partir daí tudo pode acontecer: aproveitar o hole glory, receber dentro da própria cabine o cliente que está em outra, ou ir para os ambientes comuns, como o famoso dark room, muito escolhido justamente pela possiblidade de preservar a própria identidade.

A cabine individual custa R$ 14 a hora; a cabine dupla, que permite que o cliente receba até duas pessoas, custa R$ 25 a hora; a vip, com banheiro, chuveiro e cama de massagem custa R$ 30 a hora e permite a visita de até três pessoas, e a cabine 15, com cama, custa R$ 50 a hora e também permite que se receba até três pessoas. Para as pessoas que não gostam de ficar ‘presas’ nas cabines, a casa oferece a opção de diária, que custa R$ 18 e permite que a pessoa entre e saia do local quantas vezes quiser e frequente as áreas comuns.

Cabine dupla ‘lan house do sexo’ de Maringá. Tem dois glory holes, e permite a visita de até duas pessoas. Foto: Divulgação/Cyber Hot

O grande atrativo

O glory hole, ou ‘buraco da glória’, é o grande atrativo da casa, juntamente com os os dark rooms. Trata-se de uma espécie de janela na parede, que pode ser aberta para que a pessoa tenha uma interação íntima com quem está na cabine ao lado. “A pessoa tem essa privacidade de abrir ou não. É lógico…as pessoas vão ali na curiosidade e acabam abrindo e ali começam as brincadeiras. O nosso chat interno tem a numeração das cabines, então eles vão se localizando”, explica Tomé.

Os proprietários fazem questão de destacar também o glory hole feminino, maior que o masculino. “É um diferencial aqui de Maringá. É uma janela maior. Tem meninas que ficam ali naquele buraco e os caras brincam com elas sem olhar o rosto delas. Os casais também usam bastante”, contam.

Quem são os clientes?

A casa é aberta para todas as pessoas. “Passou de 18 anos é bem-vindo. Aqui todo mundo se respeita e o ‘não’ prevalece. E aqui o sexo é permitido e é gostoso em qualquer ambiente, inclusive nos corredores. Apenas nas cabines individuais as visitas não são permitidas (para isso existem as cabines duplas, cabines vips e os dark rooms), mas a regra não costuma ser seguida. Eles vão lá e entram porque ninguém vai dar bronca, ninguém vai chamar a atenção”, conta o casal.

Segunda-feira tem mais movimento

Uma média de 40 pessoas frequentam o lugar todos os dias, número que chega a 70 às segundas-feiras, que é o melhor dia da semana na casa. “É devido ao público hétero que a gente recebe, porque acho que eles ficam em casa presos, realmente é o dia que mais tem movimento”, diz Andressa.

Os donos explicam que durante o dia quem mais frequenta o local são os héteros, homens e mulheres, que são, na maioria, garotas de programa. No entanto, depois desse horários o público gay, a maioria homens, costuma dominar a casa. “Daí nós temos as quartas dos casais, que tá bem famosinha aqui na região. A partir das 17h a gente recebe casais do meio liberal, daí as garotas de programa vão embora. A gente recebe os casais e a festa é aqui”, contam.

A cabine vip conta com cama de massagem. Foto: Divulgação/Cyber Hot

E o casal garante que o lugar é viciante. “Quem vem a primeira vez volta. Tem pessoas que perdem a noção do tempo aqui”.

Uma informação que o casal faz questão de destacar é que toda interação entre os clientes é espontânea, ou seja, qualquer acordo feito entre alguém que esteja no local como profissional do sexo é particular e não envolve intermediações do casal. “Todos são clientes iguais, todos pagam a nossa cabine, então o nosso negócio é aluguel de cabines”, frisa Andressa.

“Gostei e acabei ficando”

Atraída pela discrição, a garota de programa Amanda (nome fictício), passou a frequentar o local. Ela tem 28 anos, é do Mato Grosso, está em Maringá há seis anos e ficou sabendo do lugar por meio de um amigo.

“Vim conhecer, gostei e acabei ficando. Eu já tenho alguns clientes, mas muitas vezes você e encontra os clientes aqui. Eu faço meu horário. Às vezes eu venho de segunda a sexta depois do meio-dia, às vezes eu não venho, não é nada fixo. Pela questão das cabines é algo bem discreto. Vem alguns casados e aí eles entram direto, vai na cabine, conversa pelo bate papo, você não sabe quem é a outra pessoa. Tem o glory hole…eu acho que é ótimo”, avalia.

“A gente pensa em não vir, mas quando vê já tá aqui dentro”

O maringaense Daniel (nome fictício), de 42 anos, é um desses clientes citados pelos proprietários que perde a noção da hora no lugar.

Ele trabalha como vendedor e conheceu o cyber há cerca de cinco meses por meio de um anúncio. Desde então, frequenta o local todos os dias. “Automaticamente ficou vicioso. Como eu trabalho na área de vendas eu trabalho muito no celular, então eu faço na rua o que tem que fazer presencialmente e o que eu faço pelo celular eu venho e aproveito a casa. É um vício, é muito boa a casa. Tem hora que a gente pensa em não vir mas quando vê já tá aqui dentro”, revela.

Daniel é casado e conta que frequenta o local sem que a mulher saiba. Ele gosta de ver as pessoas interagindo. “Eu gosto de ver a baguncinha aqui. Acho legal. Eu só não venho quando tenho que ir pra outra cidade trabalhar”, conta.

Veja fotos da ‘lan house do sexo’ de Maringá

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