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14 de dezembro de 2024

1977: Último título de primeira divisão do futebol maringaense foi há 47 anos; relembre


Por Felippe Gabriel Publicado 02/10/2024 às 07h45
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Na tarde de domingo do dia 2 de outubro de 1977, o futebol maringaense viu seu último título de primeira divisão ser conquistado no Campeonato Paranaense. Há exatos 47 anos, o Grêmio de Esportes Maringá (GEM) levantou a taça após bater o Coritiba na decisão, em pleno Couto Pereira, na capital paranaense.

Naquele ano, a final do estadual foi decidida em dois jogos. O primeiro, no Estádio Regional Willie Davids, terminou com vitória do Grêmio por 1 a 0, com gol do centroavante Itamar. Na partida de volta, o empate em 1 a 1 — novamente com Itamar indo às redes — garantiu o título parananese do Galo do Norte.

Histórica e — até hoje — insuperável, a campanha do título ficou longe de ser tranquila. Acumulando turbulências esportivas anteriores e maus resultados, o Grêmio Maringá precisou da estrela de seus principais jogadores e de um regulamento peculiar para chegar à glória. Relembre a história!

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Foto: Acervo Maringá Histórica/Museu Esportivo de Maringá (MEM)

Os anos anteriores à conquista

Na década de 1960, o antigo Grêmio Esportivo de Maringá viveu sua era de ouro, conquistando o bicampeonato Paranaense, em 1963 e 1964, além do torneio nacional Robertinho, em 1969, considerada a segunda divisão do Campeonato Brasileiro na época.

Contudo, o clube não sobreviveu às dívidas e foi encerrado em 1971. No ano seguinte, foi refundado como Maringá Esporte Clube, utilizando azul e branco, as cores do maior rival Londrina. Dessa forma, o projeto não deu certo e durou somente até 1973. Uma nova tentativa se deu em seguida, quando o Esporte Clube Operário foi transformado em Grêmio de Esportes Maringá, em 1974, disputando o estadual a partir da temporada seguinte.

Com a vontade de ver o futebol da cidade retornar aos bons momentos, o então prefeito de Maringá, João Paulino Vieira Filho, solicitou ao Conselho Deliberativo do clube uma autorização para indicar alguém de sua confiança para administrar o Grêmio, com justificativa de que queria ajudar na montagem de um grande elenco.

Autorizado, Vieira Filho indicou Marcos Mauro Penna de Araujo Moreira, que era seu secretário, para a presidência do GEM. Além do apoio nominal, Moreira contou com recursos do poder público e buscou apoio de empresários da cidade.

Nesse cenário, o Grêmio chegou para o Paranaense de 1977 com um time estruturado e uma bagagem histórica que necessitava ser revivida pela torcida maringaense.

O campeonato

De acordo com o regulamento da campetição, a primeira fase era dividida em dois grupos, Norte e Sul, com oito equipes cada, que jogariam em dois turnos entre si. Os quatro primeiros colocados de cada grupo se classificariam para um octogonal, para jogar novamente em dois turnos e definir três vagas para a fase semifinal.

Já os quatro últimos de cada grupo da primeira fase jogariam a repescagem, em dois turnos, e os primeiros colocados dos grupos Norte e Sul fariam a final da repescagem. O vencedor, após dois jogos, garantiria a quarta e última vaga da fase semifinal.

Por fim, a semifinal era disputada em um formato de quadrangular, mais uma vez em dois turnos. O vencedor de cada turno se classificaria para a final, disputada em partidas de ida e volta e um jogo desempate se necessário.

Uma campanha de reconstrução

Engana-se quem pensa que o Grêmio, desde o início do campeonato, se impôs dentro das quatro linhas como se espera de um campeão — o time teve uma campanha pífia no primeiro turno, com duas derrotas, três empates e somente duas vitórias. Resultados ruins que se repetiram na segunda parte do campeonato, quando a tabela marcou três derrotas, dois empates e novamente apenas duas vitórias.

Durante esse período — de 27 de março a 15 de julho — o Grêmio assistiu à chegada e à queda de dois treinadores e à apresentação do renomado volante médio Didi. O meio-campista, vindo do Palmeiras, estreou na segunda rodada como a grande esperança da torcida. O treinador Nestor Alves, que questionou a contratação, foi trocado por Silvio Pirilo.

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O meio-campista Didi, que depois de ser campeão pelo Grêmio Maringá, transferiu-se para o Atlético | Foto: Gazeta do Povo/Arquivo

Fadado a jogar a repescagem (popular “torneio dos perdedores”), o Grêmio se reforçou, contratando o técnico Wilson Francisco Alves, conhecido como Capão, e o atacante Itamar, que havia jogado no São Paulo e no Palmeiras, juntamente com Didi.

A torcida do Galo Guerreiro acompanhou de perto os reforços e mostrou entusiasmo com as contratações. Além de Itamar, vieram o zagueiro Cleber, o ponta Marquinhos e o meia canhoto Nivaldo. Era como se a chegada dos novos nomes, já consagrados em campanhas por outros clubes, fosse o prenúncio necessário para que o time engrenasse de vez no campeonato.

Nilo e Celso eram dois excelentes zagueiros. O meio-campo era o ponto alto: Didi, Nivaldo e Ferreirinha. Didi era o craque, o maestro, o mestre. Foi o jogador mais habilidoso que eu vi vestindo a camisa do Grêmio. Nivaldo tinha uma canhota fortíssima e sabia fazer lançamentos como poucos. O franzino Ferreirinha era o pulmão da equipe. Corria e marcava por ele, pelo Didi e pelo Nivaldo. No ataque, o pontinha Freitas era veloz e atrevido. Não era de finalizar, mas era um ótimo puxador de contra-ataques e bom nos passes e cruzamentos. Itamar era o comandante da linha de frente, um emérito goleador. Bom de pé direito, esquerdo e pelo alto. No gol, Wagner fazia seus milagres. Assis, Albérico, Cleber, João Marques, Bernardo e Marquinhos eram os coadjuvantes: pouca inspiração, mas muita vontade. E Wilson Francisco Alves, o Capão, no comando.

Antonio Roberto de Paula, curador do Museu Esportivo de Maringá.
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Técnico Wilson Francisco Alves, o Capão | Foto: Acervo Museu Esportivo de Maringá

Repescagem

Após um começo de campeonato ruim, o time se acertou. De seis jogos, foram cinco vitórias e um empate, resultados que credenciaram o clube a jogar a final da repescagem contra o Rio Branco de Paranaguá em duas partidas.

No jogo de ida, em Maringá, Itamar, Marquinhos e Nivaldo marcaram na vitória por 3 a 0. Já na partida de volta, na casa do adversário, o empate em 1 a 1 (gol de Ferreirinha) foi o suficiente para o Grêmio se classificar para o quadrangular final contra nada mais nada menos do que os três grandes da capital: Coritiba, Atlético Paranaense (hoje Athletico) e o extinto Colorado Esporte Clube.

Quadrangular

Depois da classificação, a moral do grupo se elevou. Enquanto a imprensa esportiva da capital noticiava em suas manchetes a certa eliminação do Galo, o time de Maringá se calava e apostava na força coletiva para surpreender os adversários.

Assoprado o apito inicial, o time que sentiu na pele e na bola que o Grêmio não estava na briga para ser coadjuvante foi o Atlético. Em um jogo no Willie Davids, 1 a 0 para o time da casa. Gol de Itamar e renda recorde de Cr$ 750 mil para os cofres do clube.

As vitórias prosseguiram e, contra o Coritiba, no dia 4 de setembro, a torcida de Maringá proporcionou aquele que seria o maior recorde de público da história do futebol paranaense até então, quando 33.040 pagantes ajudaram o Galo do Norte a vencer o jogo por 2 a 1 e assegurar uma vaga na grande final do quadrangular.

No segundo turno do quadrangular, o Grêmio começou bem, batendo o Atlético fora de casa. Entretanto, os dois empates contra o Colorado (em ambos os turnos) e a derrota para o Coxa que vieram a seguir o impediram de decidir já naquele instante o campeonato, estendendo a decisão para um confronto final contra o Coritiba, campeão dos seis últimos campeonatos estaduais.

A grande final

Mais de 27 mil torcedores do Grêmio lotaram o Willie Davids na primeira partida da decisão, em 25 de setembro, e se calaram apreensivos quando um pênalti foi marcado para o Coritiba, ainda no primeiro tempo. Aos 39 minutos, o goleiro Wagner saiu mal, deu rebote e derrubou Washington na área. Aladim, um dos destaques do time da capital, cobrou, mas errou o alvo.

Como resposta, quando o relógio marcava 30 minutos da segunda etapa, o meio-campo Freitas cruzou na medida para o artilheiro do time, Itamar, cabecear e fazer o gol da vitória. Final: Grêmio Maringá 1×0 Coritiba.

O GEM foi a campo com Wagner; Valdir, Nilo, Cleber e Albérico; Didi, Nivaldo e Ferreirinha (João Marques); Freitas, Itamar e Marquinhos (Bugrão).

Fonte: Acervo Maringá Histórica

Caso o time curitibano vencesse a segunda partida, um novo jogo seria realizado, dessa vez em solo neutro, em Londrina. A confiança da diretoria do Coritiba era tamanha que se espalhou o boato de que já havia sido reservado um hotel a mando do Coxa para a concentração do terceiro jogo.

Esses detalhes só motivaram o Galo, que, se por um lado comemorava a vantagem de poder jogar pelo empate, por outro, estava desfalcado de quatro importantes jogadores de seu elenco principal: Celso, Didi, Ferreirinha e Bernardo.

A batalha derradeira

Na segunda partida da final, em 2 de outubro de 1977, o jogo estava truncado e o Grêmio perdia por 1 a 0, após Washington abrir o placar aos 11 minutos. João Marques e Assis substituíram Didi e Ferreirinha no time maringaense.

O Grêmio não tinha chutado a gol, até que, aos 35 minutos, uma falta no bico da grande área sofrida por Itamar mudaria a história. Ele mesmo cobrou e, com um chute rasteiro que passou por todo mundo, fez o gol do título, que, após 13 anos, acabou com a hegemonia dos times da capital e devolveu a taça de campeão para um clube do interior.

Herói, Itamar terminou como artilheiro do campeonato, ao lado de Edu, do Colorado, com 14 gols.

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Jogadores saúdam a torcida do Grêmio no Couto Pereira | Foto: Museu Esportivo de Maringá/Reprodução

Festa da torcida

Muito presente em todo o campeonato, a torcida do Galo também compareceu ao Couto Pereira, palco da última partida, e roubou a cena com o título do Grêmio.

Depois de inúmeras ‘caravanas’ que tomaram Curitiba, com ônibus e carros, a torcida também invadiu ocampo após o apito final, tirando as redes dos gols, tirando as traves e tudo o que tinha direito. Uma verdadeira festa.

Segundo Itamar, a volta da delegação à Maringá, no dia seguinte, contou com escolta de torcedores por cerca de 15 quilômetros, desde o posto da polícia rodoviária, em Marialva, até o prédio da Prefeitura de Maringá.

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Torcida do Grêmio Maringá invade o campo do Couto Pereira após a conquista do título, em 1977 | Foto: Museu Esportivo de Maringá/Reprodução

Confira todos os resultados do Grêmio Maringá no campeonato

Primeira fase

  1. GEM 2×2 Paranavaí
  2. Matsubara 1×0 GEM
  3. GEM 2×0 9 de Julho
  4. Londrina 2×2 GEM
  5. GEM 3×0 Umuarama
  6. GEM 0x0 União Bandeirante
  7. Centenário 1×0 GEM
  8. Paranavaí 1×0 GEM
  9. GEM 0x1 Matsubara
  10. 9 de Julho 2×1 GEM
  11. GEM 2×0 Londrina
  12. Umuarama 1×2 GEM
  13. União Bandeirante 1×1 GEM
  14. GEM 2×2 Centenário

Repescagem

  1. Paranavaí 0x3 GEM
  2. 9 de Julho 1×1 GEM
  3. GEM 5×0 Umuarama
  4. GEM 5×0 Paranavaí
  5. GEM 2×0 9 de Julho
  6. Umuarama 0x1 GEM

Finais da repescagem

  1. GEM 3×0 Rio Branco
  2. Rio Branco 1×1 GEM

Quadrangular semifinal

  1. GEM 1×0 Atlético
  2. Colorado 1×1 GEM
  3. GEM 2×1 Coritiba
  4. Atlético 0x1 GEM
  5. GEM 2×2 Colorado
  6. Coritiba 2×1 GEM

Finais

  • Grêmio Maringá 1 x 0 Coritiba
  • Coritiba 1 x 1 Grêmio Maringá

Campeões de 1977

  • Elenco: Mococa, Wagner, Assis, Valdir, Wilson Capeta, Nilo, Celso, Ticão, Cléber, Zé Carlos, Albérico, João Batista, Duílio, Didi, Golê, Ferreirinha, João Marques, Freitas, Itamar, Bernardo, Bugrão, Marquinhos, Marcio, Nivaldo, Duarte, Valter Silva, Emilson, Enio, Jean, Da Silva.
  • Técnico: Wilson Francisco Alves (Capão)
  • Preparador físico: Jair Henrique Alves
  • Departamento médico: Glicério Pereira e Carlos Eduardo Sabóia
  • Massagista: Bombinha
  • Roupeiros: Julio e Eli Lima
  • Supervisor: Navarro Mansur
  • Presidente: Marcos Mauro Penna de Araújo Moreira
  • Vice-presidentes: Carlos Coelho e Antônio Batista de Moura
  • Integrantes da diretoria: Waldemar Damasceno, Odelano, Veronezzi, Nelito Ribeiro, Haroldo Pelegrini, Francisco Corazza, José Augusto, Zuring, Pedro Galdino, Moisés Cândido.
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(Em pé) Preparador físico Jair Henrique, médico Carlos Eduardo Sabóia Gomes, Wagner Valente, Valdir, Nilo, Cleber, Assis, Albérico, Duílio e Pedro Constantino; (agachados) Freitas, João Marques, Itamar, Nivaldo, Marquinhos e o massagista Bombinha | Foto: Museu Esportivo de Maringá/Reprodução

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