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18 de abril de 2024

ATORES (E CINEASTAS) COM FILMES RECENTES


Por Elton Telles Publicado 13/04/2019 às 20h45 Atualizado 21/02/2023 às 03h17
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Recentemente, vários atores foram pra trás das câmeras e esquentaram a cadeira de diretor. Uns pela primeira vez, outros pela segunda. Fato é que todos eles são novatos e se revelaram muito bem na função, alguns melhores que outros. Boa parte destes filmes dirigidos por atores/atrizes entraram no circuito em 2018, mas a maioria vamos ter a chance de conferir no decorrer deste ano.

Selecionei três já assistidos por mim para comentar mais a fundo. Outros 10 títulos estão listados abaixo, com um breve comentário sobre cada um.

Como o título sugere, a trama de “Anos 90” se passa em meados da década de 1990, sem um ano definido. Talvez essa escolha tenha sido intencional para que o espectador não fique “preso” a um período tão específico e, em vez disso, consiga usufruir toda a vibe noventista capturada com distinção e autenticidade pelo diretor/roteirista de primeira viagem Jonah Hill. Tendo como claras referências as contribuições de cineastas independentes como Larry Clark (Kids), Harmony Korine (Gummo) e Richard Linklater (Jovens, Loucos e Rebeldes), Hill volta no tempo para narrar a história de um pré-adolescente tentando se encontrar neste cenário de liberdade e ser aceito por um grupo de skatistas mais velhos.

É no registro tão fiel à época que reside o grande triunfo de “Anos 90”, não somente pelo roteiro evidenciando situações nostálgicas, mas pela estética granulada do filme que realmente parece que foi filmado com aquelas extintas filmadoras caseiras de mão – o resultado também se deve ao trabalho exemplar de fotografia e iluminação assinado por Christopher Blauvelt. No mais, é um filme irresistível que não tem como o espectador que vivenciou os anos 90 não ficar comovido ou, ao menos, se identificar com os dramas e alegrias do protagonista Stevie (Sunny Suljic, em uma performance contida e convincente).

“Anos 90” está previsto para chegar aos cinemas brasileiros no dia 30 de maio.

Ambientado no final dos anos 1950, “Vida Selvagem” acompanha o desmoronamento de uma família sob a perspectiva do filho único Joe, um garoto de 14 anos de idade. Quando o pai perde o emprego como auxiliar de limpeza em um campo de golfe e não consegue mais ser admitido, a matriarca, então uma dona de casa, veste sua única roupa social e sai à procura de trabalho. Seguido de muitas discussões e desentendimentos, este é o início da decadência dos Brinsons. Vários temas são levantados pelo ótimo roteiro escrito a quatro mãos pelo casal Zoe Kazan e Paul Dano, que faz a sua estreia na direção de longas-metragens. Entretanto o enfoque é na figura da mulher atuando em diferentes frentes (mãe, esposa e profissional) durante um período extremamente conservador que restringia o papel feminino na sociedade.

É muito bonito e corajoso o que Dano realiza com “Vida Selvagem”. O que aqui é elevado como trama central que move a história adiante, certamente em filmes mais confortáveis seria encarado como mero detalhe dramático, talvez até uma medida de precaução em não conceder o protagonismo a uma mulher com “valores duvidosos”, que renega as várias convenções e condutas sociais que se espera dela. Mas não. A intenção de Dano é também provocar e colocar o espectador de frente com o que acredita ser os códigos aceitáveis de moralidade, utilizando a personagem da mãe – interpretada com extraordinária vivacidade por Carey Mulligan – como ponto de partida.

Em “Vida Selvagem”, não há espaço para julgamentos das escolhas questionáveis dos personagens, e este é um dos pontos cruciais que engrandece este pequeno filme e o posiciona como um dos melhores lançamentos no cinema do ano passado.

Disponível para assistir na plataforma Net Now.

Ao revelar-se gay para a família, o jovem Jared é enviado pelos seus pais religiosos a um centro de terapia de conversão, mais parecido com um retiro num campo afastado, onde recebe garotos e garotas com “tendências homoafetivas” para serem “corrigidos” à luz da palavra de Deus. Baseado no livro de memórias de Garrard Conley, que realmente foi vítima deste tipo de golpe com placa de igreja, o filme “Boy Erased – Uma Verdade Anulada” transcorre o antes, o durante e o depois do acolhimento do rapaz neste local, que se autodenomina seguir preceitos cristãos para elaboração de suas atividades coercitivas.

Segunda investida do ator Joel Edgerton como diretor após o ótimo thriller “O Presente” (2015), “Boy Erased” encontra seu principal motor nos esforços do elenco – o que talvez seja sintomático quando um ator dirige um grupo de atores. No papel do protagonista, Lucas Hedges comprova porque é um dos principais talentos recentes descobertos em Hollywood, transitando convicentemente do semblante de dúvida ao sofrimento quando é submetido às sessões de lavagem cerebral e tenta compreender o que há de errado consigo. Não menos comovente está o casal vivido por Russell Crowe e Nicole Kidman, que felizmente não são posicionados como personagens maniqueístas pelo roteiro, e sim pessoas acometidas pela cegueira promovida pela intolerância religiosa.

Sobretudo no desenvolvimento da trama, há algumas passagens truncadas, irregularidades na condução da história e resoluções muito fáceis. O filme choca e incomoda pelo conteúdo, mas a título de comparação, “O Mau Exemplo de Cameron Post”, outro lançamento deste ano e com temática semelhante, soa muito mais assertivo e cuidadoso com a abordagem.

Mas isso não significa jamais que “Boy Erased” deva ser descartado, há passagens que são muito válidas e ambos os filmes fortalecem a ideia de que a verdade não pode ser convertida. Em tempos assustadores como o nosso, creio que nunca é demais reafirmar isso.

“Boy Erased – Uma Verdade Anulada” está disponível para compra e locação no mercado home video.

 

Para quem se interessar, segue lista em ordem alfabética com outros 10 filmes atuais dirigidos por atores ou atrizes:

O Beijo no Asfalto (Murilo Benício)
Esta é a terceira vez que a peça de Nelson Rodrigues é adaptada para o cinema. Benício estreia na direção, amparado por um elenco de destaque, encabeçado por Lázaro Ramos e Débora Falabella.

Carnívoras (Jérémie Renier, Yannick Renier)
Um dos jovens atores queridinhos da França, Jérémie conduz este suspense ao lado do irmão menos conhecido, Yannick Renier, ambos cineastas de primeira viagem. O resultado não é dos melhores, mas até lidam bem com a história enigmática entre duas irmãs sanguessugas.

Lady Bird (Greta Gerwig)
Um dos meus filmes preferidos de 2018, “Lady Bird” é o coming of age apaixonante assinado pela também atriz Greta Gerwig, aqui em seu primeira incursão solo como diretora. Pelos esforços, tornou-se a 5ª mulher indicada ao Oscar na categoria Melhor Direção.

Light of My Life (Casey Affleck)
Produção inédita selecionada no Festival de Berlim deste ano, “Light of My Life” é a primeira ficção dirigida por Casey Affleck, irmão de Ben. A trama é ambientada em um mundo pós-apocalíptico, onde um pai e sua filha lutam pela sobrevivência ao se perderem em uma floresta.

Um Lugar Silencioso (John Krasinski)
Um dos filmes mais elogiados no ano passado, “Um Lugar Silencioso” entrou na lista de melhores do ano de muita gente. Vale muito assistir! Foi indicado ao Oscar na categoria Melhor Efeitos Sonoros.

Marighella (Wagner Moura)
A estreia de Wagner Moura na condução de um filme representou o Brasil no Festival de Berlim em fevereiro. Como o título indica, “Marighella” é a cinebiografia do escritor e guerrilheiro Carlos Marighella, morto pelos militares durante a Ditadura em 1969. O personagem-título é interpretado pelo cantor/compositor Seu Jorge. Adriana Esteves e Bruno Gagliasso completam o elenco.

O Menino que Descobriu o Vento (Chiwetel Ejiofor)
Ator sempre presente em papéis coadjuvantes, Ejiofor ganhou destaque como protagonista do impactante “12 Anos de Escravidão” (2013), filme vencedor do Oscar. Este é o seu primeiro longa-metragem como diretor, um fenômeno de audiência que está disponível no catálogo da Netflix Brasil.

Nasce Uma Estrela (Bradley Cooper)
Grande sucesso de bilheteria do ano passado, “Nasce Uma Estrela” revelou ao mundo os dotes de interpretação de Lady Gaga no papel de uma jovem cantora em ascensão. Indicado em 8 categorias no Oscar, venceu Melhor Canção Original para a chiclete “Shallow”. Este é o primeiro filme de Cooper na direção.

The Party’s Just Beginning (Karen Gillan)
Com apenas 31 anos de idade, a atriz Karen Gillan conduziu e estrelou o melancólico “The Party’s Just Beginning”, que acompanha o luto de uma garota pelo suicídio da melhor amiga. Trata-se de um filme britânico de baixo orçamento que chamou a atenção pela honestidade do retrato.

Vox Lux – O Preço da Fama (Brady Corbet)
Após “A Infância de um Líder” (2016), o jovem Brady Corbet retorna com um novo projeto ambicioso. “Vox Lux” traz Natalie Portman como uma cantora com um passado marcado por uma tragédia em sua infância. Teve reações mistas na última edição do Festival de Veneza, onde foi selecionado para a mostra competitiva oficial.

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