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26 de abril de 2024

‘A única sensação que existe agora é de eu estar morto junto com ela’, diz amigo de jovem assassinada em Maringá


Por Iasmim Calixto Publicado 02/02/2023 às 10h02
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Uma manifestação foi realizada na Travessa Jorge Amado pedia mais segurança e relembrava a morte da jovem Samantha, assassinada em Maringá. Foto: Iasmim Calixto

Uma manifestação realizada na noite desta quarta-feira, 1º, na Travessa Jorge Amado, entre o Mercadão de Maringá e o Mercadão Fratello, organizada pela Associação de Moradores da Zona 7 (AMZ7) e por amigos da jovem Samantha Campana, assassinada no último domingo, 29, pedia mais segurança no bairro e relembrava a memória da vítima.

Quem passava pelo local, que tem pouca iluminação a noite, pôde ver dezenas de pessoas, com faixas, cartazes e bandeiras, solicitando ao poder público mais efetividade nas políticas de segurança pública e trazendo à tona a morte de Samantha, uma jovem transexual assassinada em decorrência de um possível latrocínio, no dia da visibilidade trans, em plena luz do dia.

No local, um carro de som dava mais voz àqueles que, indignados, tinham algo para falar. Fossem amigos da vítima assassinada na área central de Maringá, colegas de trabalho, moradores do bairro, representantes políticos ou até mesmo pessoas em situação de rua.

José Augusto Machado, presidente da Associação de Moradores da Zona 7 (AMZ7), diz que desde o período mais crítico da pandemia ocasionada pelo Coronavírus vêm lutando por mais efetividade na segurança do bairro.

“[…] há dois anos a gente vêm lutando pra ver essa questão da segurança em Maringá. A Zona 7, como é o centro, ela é o termômetro de Maringá, e parece que tudo que é ruim passa por aqui. Ano passado a gente pediu uma audiência pública na Câmara de Vereadores, onde havia lá deputados, representantes da área de segurança, promotor de justiça também estava lá representando o Ministério Público, e a gente está aguardando respostas deles, que venha ao encontro da necessidade da comunidade e da população no geral, não só da Zona 7, mas também de toda Maringá. Essa violência tem aumentado muito, muito mesmo. Inclusive esse ano, chegou em um patamar que perderam o controle. Não tem um efetivo que vá resolver o problema, eles estão só enxugando gelo“, disse o presidente da AMZ7.

José Augusto também pede às autoridades que políticas públicas sejam executadas para auxiliar as pessoas em situação de rua.

“[…] a gente tinha feito esse manifesto, porque agora com esse incidente que teve aqui, esse latrocínio, que a garçonete foi morta aqui de dia, ela tinha acabado de comer, foi descansar, aí o cara passa ali e fez aquilo…cara, isso não pode acontecer, isso não é normal. A sociedade tem que se organizar e não aceitar esse tipo de coisa, jamais. Então a gente agora está indo pra cima, a sociedade se organizou e está querendo uma reposta do poder público pra que tenha segurança, só que a gente vê também o lado do morador em situação de rua. Tem que ter um projeto que atenda ele também, porque ele também é uma vítima da sociedade”, afirmou.

Um amigo de Samantha, que preferiu não se identificar, ainda bastante emocionado comentou como a morte da jovem afetou e afetará a sua vida.

“Bom, eu trabalhei com ela, nós éramos parceiros de equipe. Eu sou uma pessoa trans também e dentro da empresa a gente ajudava muito um ao outro porquê nós éramos as únicas pessoas ali presente e a gente gostava muito de ressaltar isso. ‘Só tem eu e você aqui dentro, então a gente tem que ser muito forte‘. […] a única sensação que existe agora é de eu estar morto junto com ela. Não existe outra coisa que eu possa dizer no momento. A única coisa que eu espero é que as pessoas respeitem, só isso…acho que não tem mais nada pra pedir. A única coisa que a gente quer, desde que a gente vem ao mundo, é respeito. E a única coisa que a gente recebe, na espera dele, é morrer. Nós, pessoas trans, a gente morre todos os dias, simplesmente pelo fato de existir. Eu espero muito que um dia eu possa andar na rua sem o medo de ter alguém atrás de mim, querendo me matar”, disse o jovem.

A morte da jovem Samantha elevou o debate acerca do crescimento da população em situação de rua e de usuários de drogas, sobretudo nas áreas centrais de Maringá. Nas primeiros horas após a morte da vítima, havia sido noticiado que o assassino da vítima seria um homem em situação de rua.

Contudo, após investigação da Polícia Civil e divulgação da identidade do autor do latrocínio, foi constatado que Natan Ananias, de 22 anos, é natural de Maringá e já constava com antecedentes criminais. Nas redes sociais, o assassino ostentava uma vida regada a bebidas, drogas e passeios de motocicleta de alta cilindrada.

A vereadora Professora Ana Lucia (PDT), atual presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores de Maringá e única representante do poder público na manifestação, afirmou que o poder executivo deve encaminhar, com urgência ao legislativo, o Plano Municipal de Políticas para a População em Situação de Rua.

A vereadora Professora Ana Lucia falava durante a manifestação que pedia mais segurança e relembrava a jovem Samantha Campana, assassinada na área central de Maringá. Foto: Iasmim Calixto

“[…] o plano foi elaborado ao longo dos dois últimos anos. Ele está pronto e tem que ser enviado urgentemente [ao poder legislativo]. A questão da população em situação de rua, ela é muito complexa. Ela precisa do conjunto da sociedade […] inclusive a gente tem o acolhimento, feito principalmente pelas organizações sociais, mas também precisa para a efetividade, para a reinserção das pessoas, precisa que políticas públicas de forma intersetorial atuem, para que a gente não assista mais a tragédias como essa”, disse a vereadora.

Ainda, a Ana Lucia afirmou que a polícia precisa divulgar as reais motivações do assassinato da jovem Samantha Campana.

“Em relação à morte da Samantha, eu acho que é fundamental, é urgente, que a polícia investigue e divulgue quais são as reais motivações da morte da Samantha. Inclusive porque essa morte se dá no dia da visibilidade trans.”

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